– Tem que ter uma saída de emergência –
Disse o coringa para o ladrão,
– Eu já não acho mais paciência
No meio de tanta confusão.
Peões cavam no meu cercado,
Empresários bebem o meu vinho,
Mas ninguém sabe o valor estimado
Duma pedra no meio do caminho.
– Não adianta ficar nervoso –
Disse o ladrão, em tom bondoso.
– Muitos de nós têm a ideia engraçada
Que a vida não passa duma piada.
Mas eu e você já passamos por essa
E não fazemos mais fé em promessa,
Então vamos deixar de falsidade
Porque o tempo já vai tarde.
Ao longo da torre de controle
O Príncipe vigiava atentamente,
Iam e vinham as mulheres da corte
E os pés descalços da sua gente.
Lá fora, na distância gelada,
Um gato selvagem rompeu a rosnar,
Dois cavaleiros se aproximavam
E o vento inventava de uivar.
Versão brasileira feita por este que vos escreve - quem comentar respondendo de quem é o "texto original" e acertar, ganhará três links de presente...
Pô, estes versos do --- ----- é demais!
ResponderExcluirQuero os presentes.
Beijos
G.
Não te dou os presentes, porque além de deslizar na concordância verbal (os versos são demais, se é que são mesmo...) você já sabia a resposta, então não valeu. (tóinhóinhóin... :P)
ResponderExcluiroooops!
ResponderExcluirjuro q já si esqueci.
G.
Caro Ivan:
ResponderExcluirSabe o que me dá mais raiva de Curitiba?
Imagino que não, eu sei que pela tua cabeça e pela do Thadeu só passam coisas boas: amigos, cervejas, cantorias e uma eterna celebração da vida.
Vocês não são gente deste mundo. Nós, seres humanos, não merecemos tanto. O que me irrita, é saber que um cara como o Thadeu, compositor de talento (vide prêmios: Itaú Cultural, por exemplo); um poeta de mão cheia, um tradutor dos mais criativos e irreverentes ( vide homenagens). Quem mais em Curitiba recebeu uma homenagem maior: uma rara placa em ouro e prata da região onde nasceu Dante Alighieri, pela tradução do Inferno, da Divina Comédia, junto com seus parceiros Marcos Prado e Sérgio Viralobos? Quem mais pode falar de cabeça erguida que traduziu sem nada perder (até acrescentando alguma graça) à Mallarmé, John Donne, Rimbaud, Poe, Issa, etc etc etc? Quem mais em Curitiba poderia escrever com tanto humor e ritmo uma intrincadíssima novela do calibre da “O Dia Que Matei O Wilson Martins”, ou da engraçadíssima e belíssima história de amor “Os Bêbados Amam Demais”?
E o que dizer do elétrico romance “Assim Até Eu”? E desse monstruosamente hilário “Koan do Como Onde”? São tantas as obras que diariamente tomo contato em blogs ou de outras fontes que fico pensando com meus botões: como é que pode um cara desses não ser amado em sua cidade? Como é que pode uma cidade como Curitiba colocar em segundo (segundo?) plano
uma obra tão vasta, tão rica e tão provida de eternidade?
Eu já falei mil vezes, se manda, Thadeu pra São Paulo ou Rio e dá um pontapé nesses caipiras. Vai cuidar da tua vida, enquanto é tempo. Em Curitiba,Ivan, o máximo que pode acontecer, é o nome virar uma pracinha entulhada de lixo lá num bairro inexpressivo qualquer, porque até a Barreirinha eles vão tentar tirar do Thadeu. Escrevo pra você, Ivan, porque vi que você foi único que postou um comentário decente na Gazeta do Povo. E só por isso já me deu vontade de ser seu amigo.
Um abraço
Gilberto Carvalho dos Santos
gibasantos2001@yahoo.com.br
Gilberto:
ResponderExcluiro negócio é não se grilar se um jornalista em posição de poder (leia-se o Sr. Márcio Renato dos Santos) resolve descontar suas frustrações de semiartista fazendo leituras redutoras e críticas vazias, atiradas sem pontaria. Pelo menos ele publicou alguns comentários (nem todos, porque quando botei o reizinho nu, apontando suas falhas de redação, ele recusou) -
e o Thadeu concedeu-lhe a magnanimidade que os às vezes desavisados merecem.
Pulando para percepções mais ilustrativas e iluminadoras (a verdadeira atitude crítica), veja que não é "Curitiba" que não ama o Thadeu - a obra dele tem encontrado o respeito e o carinho a que faz jus, e no caso da literatura o reconhecimento verdadeiro pode chegar mais devagar, mas uma hora chega.
Confio (e vejo de fato) que cada vez mais a atitude geral daqui, de provincianismo e mesquinharia, vai se transformando em simpatia e reconhecimento aos valores locais, não apenas porque são locais, mas principalmente porque existem sim bons e altos valores.
Vamos manter a cabeça reta, a espinha ereta e o coração tranquilo, porque um dia é da minhoca, outro do grilo...
Do seu amigo e leitor camarada
(poeta e crítico, quando nada),
Ivan San
Se todos fossem iguais a vocês
ResponderExcluirque maravilha seria viver...
Ivan,
ResponderExcluirde quem é o poema, então?
Olha, eu gostei, mas ou nossa dicção é bem diferente ou eu desdenharia do ritmo de alguns versos.
Por exemplo, o primeiro verso me chama muito a atenção, mas penso que já no segundo com um possível e recomendável 'pro' vc poderia dar mais continuidade ao ritmo... e não fugiria nem à lógica do poema (há um 'duma' mais abaixo) nem ao uso do poeta.
O poema, penso, está muito bonito na versão brasileira, mas além dessa questiúncula, não logro compreender o verso "ao longo da torre de controle": por que 'ao longo'?
Uma torre é sempre vertical!
O 'natural' não seria, portanto, dizer 'do alto'?
Bom, além disso, quando marcamos aquele xadrez com cervejas?
abç, r.
Rodolfo:
ResponderExcluiressa é uma versão de uma letra de canção (que considero também um belo poema) de Bob Dylan: All Along the Watchtower. Foi regravada por Jimi Hendrix, no que é reconhecida como a versão "definitiva".
Pelo comentário e leitura atenta, você ganha dois links de presente:
http://www.youtube.com/watch?v=14qTXRkAKr8
http://www.youtube.com/watch?v=BCwCBh0z3Hs
Quanto à primeira questiúncula, reconheço que um "pro" no segundo verso seria ritmicamente mais ágil, mas penso que vou manter o "para o", porque deixa o clima mais formal ali - aliás, seria até legal colocar Coringa e Ladrão com letra maiúscula, porque interpreto este poema como uma mistura de coloquialidade malandra com clima "clássico" e alegórico. Os dois personagens arquetípicos (que são, obviamente, os dois cavaleiros se aproximando no final), são rebeldes chegando pra bagunçar o coreto, ou antes, a torre, símbolo da ordem estabelecida.
"O Príncipe", por sinal, é uma referência à obra de Maquiavel, num verso que dizia originalmente "princes kept the view".
Penso que o porquê do "ao longo da torre" já tenha sido respondido, mas veja o texto original
(mais um link de presente:
http://www.bobdylan.com/#/songs/all-along-watchtower ) -
a ideia é que "ao longo de toda a torre", ou seja, na circunferência toda, "os príncipes mantinham-se alerta, vigiando, enquanto as mulheres iam e vinham, e também os servos de pés descalços".
Numa interpretação meio simplória, o poema mostra que a associação entre o "artista" (o coringa) e o "marginal" (o ladrão) é uma ameaça que ronda toda civilização organizada de forma controladora e repressora.
Quanto ao xadrez com cervejas, vamos praticá-lo novamente sim, logo mais...
All along the watchtower!
ResponderExcluirMr. Robert Zimmerman, só podia ser...
Veja, pela temática e construção lógica, já havia suposto (detive que sou) que o texto original seria em língua inglesa. Traduzi ao inglês alguns dos versos da tua versão e não pude encontrar o original (via google) por duas razões: não traduzi 'torre de controle' por 'watchtower' nem 'ao longo' por 'all along'.
Eu tinha chegado muito longe: Along the control tower!
E talvez pra tentar maquiar o meu fracasso como detetive, devo fazer três observações à tua bela tradução:
1. ‘Torre de controle’ lembra menos uma torre no interior de um castelo, ou em sua borda (lugar de onde se vê com segurança), que aquelas torres medievais postadas à margem de estradas, onde os comerciantes deviam pagar impostos pela passagem. Além de ser o nome moderno das centrais de controle do tráfego aéreo em aeroportos...
Não é melhor traduzir ‘watchtower’ por torre de vigia?
2. All along: em meu inglês (que modestamente aprendi com Ernest Hemingway e Ezra Pound), é uma locução adverbial que quer dizer "o tempo todo", "desde o começo". Para ser 'ao longo', no original deveríamos ler 'along'.
Não é melhor, portanto, traduzir ‘all along the watchtower’ por ‘desde o princípio lá da torre de vigia’?
3. Embora haja gostado da tua tradução (‘peões’ ficou ótimo, e as inovações ‘pedra no caminho’ e ‘distância gelada’ também,) creio que todos os versos perseguem, erroneamente, a idéia de fundo de que: “os dois personagens arquetípicos (que são, obviamente, os dois cavaleiros se aproximando no final), são rebeldes chegando pra bagunçar o coreto, ou antes, a torre, símbolo da ordem estabelecida”.
Eu – humildemente – não posso concordar com essa interpretação, que dominou a tua tradução e criou, sem querer querendo, um belo texto em português. Acho, antes, que se trata da conversa entre personagens que estão para morrer – ladrão e bufão -, e o povo lá fora, inclusive a princesa no alto da torre, estão aí para ver a execução. Os dois homens que se aproximam no fim são os algozes. Creio que tem fundamento a minha leitura:
O primeiro verso - there must be some way out of here, said the joker to the thief – é claramente a fala de um prisioneiro: deve haver um jeito de escapar! Seguem-se a esse verso falas típicas de um coringa, que pode fazer troça num momento crucial.
Mais adiante escutamos - but you and I, we've been through that, and this is not our fate – e isso corrobora a minha tese: o ladrão diz ao bufão ‘a gente já passou por isso, e esse não é nosso destino’. E o ladrão – que começa fazendo piada, tirando sarro do bufão – termina dizendo que parem de ‘dizer falas falsas’ (talk falsely), porque a hora está chegando - the hour is getting late. Ou seja, o tempo tá ficando curto e não dá pra ficar fazendo piada!
O enigma da trama está concentrado no pronome ‘this’ (do verso ‘this is no our fate). Esse 'this' refere-se à morte por execução em decorrência de um crime, que é o velado tema da canção de Dylan.
Além disso, é possível pensar também que, pelo insólito da conversa (falsely talk), possa se tratar do diálogo interior de um só homem prestes a morrer: inicialmente ele faz piada com a própria desgraça, depois se dá conta que já escapou de morrer algumas vezes e agora que a hora está chegando, que será executado, é melhor começar a falar (levar-se a) sério.
Talvez, se minha leitura estiver correta, os dois supostos primeiros deslizes teus sejam conseqüência desta tua interpretação singular, tão oposta à minha.
De qualquer forma – você o sabe – estes (dilatados) comentários meus só existem porque teu texto é inteligente e causa delícia.
Además, que te parece un ajedrecito el sábado que viene?
abç, r.
Rodolfo:
ResponderExcluirantes de mais nada, agradeço novamente sua leitura atenta e seus elogios. Vamos por itens.
1. Prefiro "torre de controle". O verso seguinte já usa o verbo vigiar, e "torre de vigia" não me soa tão bem - este verso ressoa com a vogal "o", de modo semelhante ao que o original faz com a vogal "a".
2. Ou muito me engano, ou a expressão "all along" serve tanto para tempo quanto para espaço - assim, uma tradução literal poderia ser "em toda a extensão da torre de controle" - mas o verso "ao longo de toda a torre de controle" é problemático, porque fica meio ambíguo e esquisito.
3. "distância gelada" vem da versão que Hendrix estabeleceu - ele cantava: "outside in the cold distance" - (a quebra em versos mais curtos também deve-se ao modo como Hendrix separava os versos).
Tenho que discordar da tua interpretação de que os dois cavaleiros se aproximando no fim seriam os supostos algozes de prisioneiros condenados à morte.
Também discordo de que o diálogo seja claramente o de um ou dois prisioneiros - essa é apenas uma das leituras possíveis. O texto é vago o suficiente pra comportar inúmeras leituras - eu leio a fala do Joker se estendendo na primeira estrofe toda (e ele se considera dono da terra e do vinho).
Só na segunda estrofe o ladrão responde - dizendo que está ficando tarde, o que interpreto como uma chamada para a ação.
De qualquer modo, não acho a tua leitura melhor nem pior que a minha, e nem cogito que haja uma leitura correta: a graça do poema é que cada leitor tem a liberdade de construir seu próprio enredo, porque o texto mais sugere que define - por sinal, a "definição" de poesia, segundo Bob Dylan (conforme Leminski recolheu em LIMITES AO LÉU) é "Poetry is to inspire"...
Quanto aos escaques, mando uma mensagem pra você marcando nossos próximos duelos ao sol...
você anda lendo drummond ou está parado lendo drummond, ultimamente?
ResponderExcluirabração. IIIVVVAAANNNnnn...