terça-feira, maio 04, 2010

Pangur Bán, um felino trilíngue...

O poema original foi escrito em gaélico, e é atribuído a um monge irlandês, do século IX.
A tradução em inglês foi feita por Robin Flower.
Terminei esta versão brasileira hoje. Dedico a versão e a postagem a Ana Guimarães e seu blog O GOZO DA LETRA, no qual conheci este magnífico poema.

Pangur Bán
Pangur Bán

Pangur Ban

Messe agus Pangur Bán,
cechtar nathar fria shaindán:
bíth a menmasam fri seilgg,
mu menma céin im shaincheirdd.

I and Pangur Bán my cat

`Tis a like task we are at:
Hunting mice is his delight,
Hunting words I sit all night.
Eu e meu felino Pangur Ban,
Eis nossa filosofia vã:
Caçar ratinhos é seu deleite,
Caçando letras eu passo a noite.

Caraimse fos, ferr cach clú
oc mu lebrán, léir ingnu;
ní foirmtech frimm Pangur bán
caraid cesin a maccdán
Better far than praise of men

`Tis to sit with book and pen;
Pangur bears me no ill will
He too plies his simple skill
Muito melhor que aplauso mortal
É estar aqui com livro e penal;
Pangur concorda que a escolha é boa:
Na caça também se aperfeiçoa.

Ó ru biam, scél gan scís
innar tegdais, ar n-óendís,
táithiunn, díchríchide clius
ní fris tarddam ar n-áthius
'Tis a merry thing to see

At our tasks how glad are we,
When at home we sit and find
Entertainment to our mind.
Dá gosto ver a paixão feroz
Que dedicamos, os dois a sós,
Quando nos pomos alegremente
A contentar nosso corpo e mente.

Gnáth, húaraib, ar gressaib gal
glenaid luch inna línsam;
os mé, du-fuit im lín chéin
dliged ndoraid cu ndronchéill
Oftentimes a mouse will stray

In the hero Pangur`s way;
Oftentimes my keen thought set
Takes a meaning in its net.
Frequentemente um ratinho sói
Passar em frente a Pangur, o herói;
Frequentemente meu pensamento
Captura a ideia de um argumento.

Fúachaidsem fri frega fál
a rosc, a nglése comlán;
fúachimm chéin fri fégi fis
mu rosc réil, cesu imdis.
`Gainst the wall he sets his eye

Full and fierce and sharp and sly;
`Gainst the wall of knowledge I
All my little wisdom try.
Colado à parede, o gato vê
Com raro olho vivo, agudo em V;
Colado à parede do saber,
A percepção eu tento estender.

Fáelidsem cu ndéne dul
hi nglen luch inna gérchrub;
hi tucu cheist ndoraid ndil
os mé chene am fáelid.
When a mouse darts from its den,

O how glad is Pangur then!
O what gladness do I prove
When I solve the doubts I love!
Quando um ratinho surge da fresta
Ah, que alegria Pangur infesta!
Mesma alegria infesta meu eu
Se alguma questão se resolveu!

Cia beimmi a-min nach ré
ní derban cách a chéile
maith la cechtar nár a dán;
subaigthius a óenurán
So in peace our tasks we ply,

Pangur Bán, my cat, and I;
In our arts we find our bliss,
I have mine and he has his.
Assim, tranquilos, em santa paz,
Eu e Pangur, meu felino audaz,
Fruímos nossa iluminação,
Eu, no silêncio; ele, na ação.

Hé fesin as choimsid dáu;
in muid du-ngní cach óenláu;
du thabairt doraid du glé
for mu muid céin am messe.
Practice every day has made

Pangur perfect in his trade;
I get wisdom day and night
Turning darkness into light
A prática diária do exercício
Fez Pangur perfeito em seu ofício;
E, noite e dia, o saber me aduz
A transformar as trevas em luz.

Aistrithe ag Robin Flower
Translated by Robin Flower

Versão brasileira: Ivan Justen Santana

8 comentários:

  1. Ivan, que bacana esse blog! E valeu mesmo o comentário sobre a campanha PITECANTROPO! hehe

    E esse poema, ein? Longe de querer discutir a tradução, que me pareceu bem boa, aqui na casazul o nome e sobrenome do nosso Pangur é Tom Jobim. Felino excelente também, de pelagem branca!

    ResponderExcluir
  2. Soberba, sua tradução, Ivan, personalíssima e, ao mesmo tempo, fiel ao original. Parabéns!
    E muito obrigada por tê-la dedicado a mim.
    Estou feliz com o nosso intercâmbio de idéias. Continuemos.
    abraço amigo

    ResponderExcluir
  3. Escrevo aqui como quem lança o comentário numa garrafa no cyberespaço: pouca gente me visita aqui, e menos gente ainda se dá ao trabalho de ler e ainda por cima comentar:

    porém, que maravilha, que luxo e que originalidade!:D

    - meu ex-discípulo e agora condiscípulo na poesia, Wagner Schadek, chega e escreve um miniensaio crítico sobre o poema em alexandrinos da postagem anterior: valeu, Wagner!

    - meu camarada e condiscípulo de letras, Giuliano Andreso, apareceu também e já foi devidamente linkado;

    - a excelsa Ana Guimarães, que faz parte do seleto time de gente que leu mesmo e curte de verdade a obra de James Joyce, pinta aqui e frui a tradução a ela dedicada...

    - volta e meia, recebo a visita da Alexandra Lemos, uma de minhas ídalas da música, que recolhe alguns versinhos daqui e reposta-os em seu belo blog Diário de Viagem...

    O que mais posso eu querer da vida?

    O lance agora é simplesmente tentar seguir fazendo por merecer essas honras...

    Saudações a todos, especialmente a quem me leu até aqui: é por gente assim que eu existo, e não custa repetir um princípio de Paul Valéry: prefiro que uma pessoa me leia mil vezes, do que mil uma vez só.

    ResponderExcluir
  4. Como eu perguntei ao Beco Prado, pergunto a você: posso brincar com as palavrinhas, Ivan?

    I and Pangur Bán my cat
    `Tis a like task we are at:
    Hunting mice is his delight,
    Hunting words I sit all night.

    Eu e Pangur Ban meu gato
    Temos cá o nosso trato
    Caçar ratos ele quer
    E eu gasto a noite a ler

    Better far than praise of men
    `Tis to sit with book and pen;
    Pangur bears me no ill will
    He too plies his simple skill

    Melhor que ser afamado
    É o simples ler, escrever
    Pangur nunca me incomoda
    Simples também ele é

    'Tis a merry thing to see
    At our tasks how glad are we,
    When at home we sit and find
    Entertainment to our mind.

    É tão bom de a gente olhar
    Um e outro a trabalhar
    Quando em casa bem ficamos
    Cada um com o seu plano

    Oftentimes a mouse will stray
    In the hero Pangur`s way;
    Oftentimes my keen thought set
    Takes a meaning in its net.

    Muita vez algum ratinho
    Cruza do herói o caminho
    Muita vez alguma idéia
    Se enreda em minha teia

    'Gainst the wall he sets his eye
    Full and fierce and sharp and sly;
    `Gainst the wall of knowledge I
    All my little wisdom try.

    Contra a parede ele testa
    O seu olhar afiado
    Contra a parede se encolhe
    O meu saber, se testado

    When a mouse darts from its den,
    O how glad is Pangur then!
    O what gladness do I prove
    When I solve the doubts I love!

    Quando um ratinho se arrisca
    É quando Pangur petisca
    Quando uma idéia eu desvendo
    É quando então me contento

    So in peace our tasks we ply,
    Pangur Bán, my cat, and I;
    In our arts we find our bliss,
    I have mine and he has his.

    Assim, na paz, nós levamos
    Pangur Ban meu gato e eu
    O ofício que gostamos
    Ele o dele, eu o meu

    Practice every day has made
    Pangur perfect in his trade;
    I get wisdom day and night
    Turning darkness into light

    Praticando todo dia
    Ele é bom no que queria
    E eu acendo, noite e dia
    A luz da sabedoria

    Tão bom brincar, quando isso é tudo o que se sabe fazer...

    Beijo

    ResponderExcluir
  5. Beleza essa brincadeirinha: depois de eu passar horas conjuminando rimas, craniando versos, contando e recontando sílabas, vem uma blogueira nervosa de talento e perpetra uma versão simples e encantadora... Vou recortá-la devidamente e devolver a criança à mãe, assim:

    [poema original de um monge irlandês do século IX]
    Eis a versão portuguesa (melhor que dobrada à moda do porto:), pela lúdica Nervosa-San:

    PANGUR BÁN

    Eu e Pangur Ban meu gato
    Temos cá o nosso trato
    Caçar ratos ele quer
    E eu gasto a noite a ler

    Melhor que ser afamado
    É o simples ler, escrever
    Pangur nunca me incomoda
    Simples também ele é

    É tão bom de a gente olhar
    Um e outro a trabalhar
    Quando em casa bem ficamos
    Cada um com o seu plano

    Muita vez algum ratinho
    Cruza do herói o caminho
    Muita vez alguma idéia
    Se enreda em minha teia

    Contra a parede ele testa
    O seu olhar afiado
    Contra a parede se encolhe
    O meu saber, se testado

    Quando um ratinho se arrisca
    É quando Pangur petisca
    Quando uma idéia eu desvendo
    É quando então me contento

    Assim, na paz, nós levamos
    Pangur Ban meu gato e eu
    O ofício que gostamos
    Ele o dele, eu o meu

    Praticando todo dia
    Ele é bom no que queria
    E eu acendo, noite e dia
    A luz da sabedoria

    ResponderExcluir
  6. um pouco de san
    em todo verso que ivan
    e qualquer dia lhes fará eco
    aquele que mora no beco

    ResponderExcluir
  7. uau gatão, bela tradução -

    mas ainda assim, prefiro sob o tom da sua voz, ronronando:
    "Calma delícia, já estou chegando..."

    ResponderExcluir
  8. "Calma delícia, já estou chegando"? Heard dat before. Será que isso é coisa de poeta? Juro que me soa assim, familiar.

    ResponderExcluir