VERSOS DE OUTRORA
Fui bom. Mas a bondade é coisa trivial:
A infância, a infância fez-me uma guerra infernal.
Fui alegre e sincero. O mundo, a rir, em troco,
Abominavelmente achou que eu era um louco.
Ema, a teus pés caí, beijei-te as mãos, Ester!
Fiz tolices de quem não sabe o que é a mulher...
Com que olhar de altivez, com que fundo desprezo,
Chamastes-me coitado – olhar noutro olhar preso.
Numa ideia de forma esquisita, uma vez,
Aspirei com ardor a esplêndida nudez;
Gente que não entende um fino gozo d’arte,
Que eu era um imoral, disse-o por toda parte.
Indiferentemente eu agora caminho
Sobre rosas em flor ou sobre linho ou espinho;
Automático vou, sem pesar nem prazer;
Ora pois! vamos ver o que é que vão dizer...
[Num País de Bárbaros.]
Emiliano Perneta (1866-1921)
Fonte:
PERNETA, Emiliano
Ilusão e outros poemas.
Rio de Janeiro : GRD, 1966 [pp.51-52]
Grandes versos do Emiliano, como sempre.
ResponderExcluirLegal, Ivan.
Abraço,
Wagner
Gostei Ivan. Confesso que não conhecia... Valeu o post.
ResponderExcluirAquele abraço!