sexta-feira, maio 26, 2006

Blogando com impropriedade

Muito bem, essa é uma postagem rápida:

meu amigo Antonio Monti me pergunta sobre a Ode ao Rouxinol, de John Keats.

Há uma boa tradução feita por Augusto de Campos,
está num livro chamado LINGUAVIAGEM
(não confundir com viadagem, querido Tony).

Foi editado pela indefectível Companhia das Letras,
e muito me admira que um paulista da gema (sem viadagem de novo)
não conheça este belo trabalho tradutório do inobnubilável (idem)
príncipe dos poetas concretistas do bairro das Perdizes...

Por sinal, o livro de traduções de Keats que meu orientador,
John Milton, e o estrambólico (idem) Alberto Marsicano
publicaram chama-se As Invisíveis Asas da Poesia,
que é de um verso da referida Ode.

Ou muito me engano (coisa bem comum) ou a Ode não consta
nesta edição. Então o negócio é ir atrás da tradução do Augusto
(de novo sem viadagem, por favor).

Ontem eu di uma olhada (idem) e viajei (idem) no texto da Ode,
cujas oito estrofes terminam com um "será que estou acordado
ou dormindo?",
e que começa com um "meu coração dói, parece que tomei um
veneno e estou indo pros infernos...", algo assim.

De qualquer modo, a respeito de rouxinóis,
em vez dos delírios de Keats,
sou mais um haicai de Issa:

trila o rouxinol:
brilho de lua,
reflexo de sol

Bom, esta postagem já está longa e confusa demais,
então chega.

quarta-feira, maio 17, 2006

Em meio ao caos de sentimentos e realidades pesadas de pesadelos, versinhos para abrigar corações que sobrevivem...

Je rêve de vers doux et d'intimes ramages,
De vers à frôler l'âme ainsi que des plumages,

Eu sonhei versos doces de íntimas ramagens,
Versos cocegando a alma ao modo de plumagens,
De vers blonds où le sens fluide se délie
Comme sous l'eau la chevelure d'Ophélie,
Versinhos onde o senso fluido se desfia
Feito os cabelos Dela imersos na água fria,

De vers silencieux, et sans rythme et sans trame
Où la rime sans bruit glisse comme une rame,

Versos silenciosos, sem ritmo ou drama extremo
Onde a rima sutil desliza feito um remo,

De vers d'une ancienne étoffe, exténuée,
Impalpable comme le son et la nuée,

Versos dum arcaico estofo, extenuado,
Impalpáveis feito o som ou o céu nublado,
De vers de soir d'automne ensorcelant les heures
Au rite féminin des syllabes mineures.

Versos de tardes de outono que enfeitiçam horas
No rito feminil das sílabas menores.
De vers de soirs d'amour énervés de verveine,
Où l'âme sente, exquise, une caresse à peine...
Versos de tardes de amor, nervosa bebida,
Onde a alma goza, doida, uma carícia doída...


Je rêve de vers doux mourant comme des roses.
Sonhei versos doces morrendo feito as rosas.

Albert Samain (1858-1900)
Ivan, o cocegador cocegante

quinta-feira, maio 04, 2006

Soneto já antigo novinho em folha


Impossível dizer como começa
essa impressão voraz feito uma enchente:
tentar falar qual sensação é essa,
sacada tão só inconscientemente,

é o meu trabalho ingrato de poeta:
a sina de assassino de versinhos -
os sempre assim rebeldes meus versinhos,
os arremates meus longe da meta...

Tá: apesar da fuga total ao tema
(mas sem nunca perder ela de vista),
aí está a sensação que se assimila

à citada impressão que faz que eu gema
e mais não diga que não seja pista:
a rima já entregou: você, Priscila.

terça-feira, maio 02, 2006

Você, sempre você...

Você é minha imaginação
e minha realidade,
minha razão
e minha insanidade:
todos os meus caminhos vão
na direção

da sua cidade.