sábado, dezembro 31, 2011

FELIZ ANO NOVO AOS TRISTES

estar na pior no dia de hoje
é ser goleiro que não sai nem na foto
a alegria até parece que foge
mas a tristeza tem um controle remoto

a memória castiga os tristes
com mãos de cacto e acidez na língua
tudo está intacto em seus limites
o amor infecciona mas dá íngua

tirem pulga e arruda detrás da orelha
desfaçam as figas dos dedos do pé
olhem o que a solidão não espelha
e vejam a vida como ela é


antonio thadeu wojciechowski
ivan justen santana


* *

sexta-feira, dezembro 30, 2011

Prosa dedicada a quem quiser vestir a carapuça (mas eu vi primeiro e ninguém tasca)

É isso mesmo: chega de versinhos. Basta de poesia, metrificada ou não, difícil ou facinha, prosificadinha ainda em rimas ou o escambau a quatro. Agora é prosa mesmo, dialógica naquele... Ah, chega também de teorizações. Vamos falar com você.

Sim: você mesmo: não olhe pro lado: não repare os dois pontos: ouça bem: você mesmo, que não teve iniciativa nos momentos certos.

Você que faltou quando seria bom que estivesse presente, que não compareceu mesmo estando ali, na cara, na boca da botija. É. Na porra da boca da botija -- e digo mais: vou usar todo o vocabulário que aparecer: se você tem não-me-toques com palavrões, suma. Suma mesmo, porque o troço aqui vai virar trôço logo logo.

Você, sua anta atômica, seu nó na garganta apertada e apartada de qualquer tirocínio: você não soube agir e não soube explicar, não teve nem a manha de tentar se fazer entender. Ficou ali, até quem sabe achando que bastava deixar acontecer: e mesmo quando bastou, mesmo quando você se atreveu a pensar que era humildade: não era: era inércia, petulância, prepotência, falácia, complacência.

Eu vou te matar. Eu vou te matar dentro e fora de mim. Você perdeu e agora é tarde. Não passará desse final de ano. Não passará desta sexta-feira. Não passará da próxima hora. Não passará nem desse próximo minuto. Porque você já morreu. Ninguém avisou, mas agora estou fazendo essa preza: este é o seu fim. Engula. E bom proveito.

.

ETERNOS VERSOS DE CIRCUNSTÂNCIA E ÂNSIA

Vejam só: hoje já é dia trinta--
Quem sabe algum poema pinta

Pois é: e agora são dez horas--
Encostas tua cabecinha e choras

Sei não: estamos no mês de dezembro--
Pacóvio, pateta, mané, manembro

Aí sim: passe do tempo pro espaço--
Mesma lesma com passo escasso

Putz: o troço aqui não perdeu a graça?--
Sem problemas... dorme que passa

Mas então... sei: vai seguir rimando--
Sim: sem contexto o tempo é velho quando

Assim melhor deletar o poema:
o tema eu até já esqueci--

Tarde demais: não tema-- falta tema
mas todos já nos leram até aqui

___________________________________________

P.S.: E cadê a circunstância? Foi engano?
--Não. É simples. Amanhã é o fim do ano.

--Filho da mãe. Então termina assim?
--Sim. Sou óbvio. E as rimas também:

fim

___________________________________________

quinta-feira, dezembro 29, 2011

Droga, eu sei que você deve estar

Droga, eu sei que você deve estar
me odiando. Agora que não posso

evitar pensar em você, drogar
meu corpo no velho fundo do poço.

Droga! É impossível admitir isso,
impossível entregar o serviço,

mas vou admitir, vou entregar: sim,
droga, eu te amo. Como me amo, enfim,

como amo tudo e todos neste mundo.
Mas esqueço. Esquece. Esqueçam. Aqui

vai tudo que já vi, li e esqueci.
Agora o tempo não tem mais segundo.

Não tem mais. Acabou. Agora vai.
Você ficou, droga. Eu fui. Estou. Vou.

Sem alma. Nem corpo. Sem gol. Nem voo.
Só me resta eu me raspar sem um ai,

me depenar para eu não ser mais eu,
arrancar essa escova, -cerda a -cerda-

droga, eu sou um bosta, e você venceu.
Mas fui eu quem escreveu essa merda!

...

quarta-feira, dezembro 28, 2011

QUANDO UM MENINO FAZ UM ANO

Quando o menino fez seus seis dias,
lia e sacava Drummond e Pessoa,
sorria a sua mãe e a seu pai,
e dormia como um anjo à toa.

Quando o menino fez sete semanas,
passava as noites sonhando muito,
e pai e mãe igualmente sonhavam,
todos talvez tendo o mesmo intuito.

Quando o menino fez cinco meses,
acordando de meia em meia hora—
mãe e pai já não se entendendo—
o tempo confuso como quem chora.

Quando o menino fez onze meses,
teve a primeira desilusão —
pai em seu surto, mãe com pulsão,
e as rimas não foram revelação.

Quando o menino faz hoje um ano,
a vida segue suave e violenta,
o pai aloprado — a mãe xaropenta,
e a gente celebra, finge que esquece a poesia ou nem lembra da prosa, e tenta, e aguenta, e comenta, e se inventa e venta a menta bolorenta e larga a vírgula e não esquenta e perde a rima mas recupera a razão insana ou sutil ou bacana e diz para se ver vário afã de sol em si com elã que não frustrem em santa gana um feliz aniversário ao Ian Nadolny Roland Justen Santana.

*

segunda-feira, dezembro 26, 2011

UMA HISTÓRIA DE UM PAI, UMA MÃE E UM FILHO

(a dois dias de o filho completar um ano de idade)

Fiz tudo que podia fazer sozinho
naquele carnavalzinho
até conhecê-la
e conceber com ela
o nosso amado filhinho.

Agora ele morará com ela
mas comigo também,
nunca sozinho.

Agora haverá choro e ranger de dentes,
as coisas iguais e as diferentes,
as saudações a parentes,
os sorrisos aparentes,
e as tristezas sem traço.

Agora seremos três corpos no espaço,
ocupando muitos e vários lugares,
diversas salas de estares,
e os três nos mesmos lares
só nas rimas dos versos que faço.


Ivan
(primavera/verão de 2011/2012)

* * *

sábado, dezembro 24, 2011

SUTRA DO SURTADO

acorde sem acordo
campos sem augusto
joyce sem haroldo
leitora de procusto
de laço no pescoço
prato de tremoço
tremo não de susto
suspiro de arroto
todo bortolotto
tem seu texto justo
cada montenegro
em seu santo posto
pira que se acende
perra que dá gosto
flor que não sem custo
brota pelo esgoto
gruta na cidade
greta de algum garbo
pena de algum parvo
tinta pelo almaço
grito pelo almoço
testa este compasso
estuda aquele passo
pulsa no poço
trisca um traste escasso
fresta rumo ao fosso
volta na caverna
abrindo sua perna
chorando o esforço
chama o esfarrapado
chupando o roto
choca muito escroto
correndo o risco
riscando o disco
corroendo o osso
um velho anjo torto
xamã do louco
que racha a taxa
encaixa na faixa
chacoalha a caixa
xucra a macha
e ainda acha pouco

___________________

sexta-feira, dezembro 23, 2011

ORAÇÃO-PEDIDO DE PRÉ-NATAL

(sem blasfêmia, para macho e para fêmea)

Todos solicitamos a todos:
a luz de Jesus,
o coração de João,
o paredro sinedro de Pedro,
a poesia da alegria de Maria,
e até os deus-me-acudas de Judas,
até mesmo a fé-como-é-que-é de Tomé,
e uma amada melena de Madalena...

Mas que não nos venha um baita azar de Baltazar,
e sim o melhor de Melquior, sem raspar Gaspar.
E que nos abram as cadabras de Abraão,
e nos gargalhe a claque de Isaque,
com seus Josés, com Manassés e Moisés.
E que soem as palavras da parábola dos grãos,
para católicos e ortodoxos cristãos,
mas também aos de outra conversão
ou até mesmo de ateísta reversão.

Simplesmente nessa nossa comoção assim como sãos
e salvos ficaremos, festejemos,
estejamos numa muda de Buda,
para lá do lado de Alá,
naquela esquiva de Shiva
ou na rima inexistentíssima de Krishna --

em Pã, Tupã, Iansã, Oxum, Ogum, Oxalá e Ogã,
dos arcos-íris de Osíris até os coquetéis de Quetzalcóatl,
da Asgaard de Thor e Odin até os confins de Aldebarã.


Ivan, celebrando hoje o depois de amanhã.
__________________________________________________

PARA TI TANIA

Uma frase espontânea,
uma alegria subcutânea,
uma resposta instantânea.

Uma estranha manha,
um lance de perde ganha,
uma uva itália em plena Alemanha.

Um carinho sem nenhuma inânia.
Um dicionário que nos livre da insânia.
Uma guarânia urânia,
titânia da Lusitânia,
cantada e recitada pela Maria Betânia.

__________________________________________

UM TOQUE DE RETOQUE

Para Kaley Michelle

Não adianta
reclamar
do mundo:
basta olhar
dentro de si.
Pode ser até
sem dó e de ré:
mas o amor
sempre toca
lá no fundo.

________________________

terça-feira, dezembro 20, 2011

A VIDA ÍMPAR

Às Lemos – e aos mais que lemos

– Penso que no fundo elas se querem.
Bem, quem sou eu pra me intrometer,
antes que tudo que elas puderem
façam? – Será abuso de poder?

– E até parece que até posso tanto...
– Enquanto isso, e a sua vida aqui?
– Minha, sua, nossa – Nossa! – Espanto,
parto, pranto, pau, daqui, dali,

pá de cá pá de lá... – Pás de cal?
– Paz decalque? – Ué... É seu recalque?
– Você não acha tudo normal?
– Não é você o poeta, o mestre, o tal que...?

Então. Resolva-se antes, mané!
Primeiro julgue o que você conhece:
entenda-se em si, bote-se fé,
ou registre seu próprio S.O.S.

A vida é ímpar. Se cabe o surto,
cabe também tudo e todo mundo.
Mesmo que só reste um verso curto,
fica um mas... – Mas o amor vai mais fundo.

____________________________________________

sábado, dezembro 17, 2011

ÊXTASE: TU ESTÁS & ESTOU TAL

Nosso amor talhou
depois de dois ois
e uns nuncas num caos.

Mas bastou teu vou,
nós nus nos lençóis:
voltou tudo e talz...

Começou quem sou.
Se és qual lua em sóis
subo os teus degraus.

Porque estás, estou:
mesmo sem alcoóis
êxtase em mil graus...

______________________________

sexta-feira, dezembro 16, 2011

quinta-feira, dezembro 15, 2011

Um sexto dedo de prosa e duas ou três carradas de poesia

Hoje é aniversário da Alexandra Lemos Zagonel.

Também é aniversário do finado poeta curitibano Marcos Prado (50 anos hoje).

Depois de praticamente um poema por dia há quinze dias, hoje eu vou postar (em homenagem à Xanda), um poema que fiz imaginando o que teria acontecido a Marcos Prado após sua morte. Aviso aos incautos: é imaginação -- poesia é principalmente imaginação -- realidade exclusivamente realidade é pra quem faz economia e contabilidade, valeu? O poema também se refere ao que o Drummond fez quando morreu o Mário de Andrade. Eu fiz o meu em partes, ficou pronto já há algum tempo, e saiu na revista Coyote, no ano passado.

Enfim, acho que o meu surto poético ainda não acabou, mas talvez não seja muito saudável continuar jorrando versos novos todo dia, quando a vida é bem mais (e me exige bem mais) que poesia. A vida é imaginação mais realidade mais filosofia mais prática mais tudo que ninguém dá conta.

Enfim de novo: tem gente muito inspiradora nessa vida. Aos olhos do observador certo, toda pessoa é uma inspiração mágica. Mas, a olhos tortos, zarolhos e errados (no caso, os meus), tem gente que nos broxa o tesão de produzir, porque conseguem confundir poesia e realidade da maneira menos criativa possível. Mas é pra todas as pessoas, indiscriminadamente, que existem a poesia, a beleza, o amor, as limpezas, as sujeiras, a vaidade, e a verdade. Quer vivam mortas, quer morram vivas, quer consigam ou não entender isso.

E um brinde à Xanda, às criaturas inspiradoras, e à banda Criaturas.

* * *

MARCOS PRADO DESCE AOS INFERNOS

Sem dar pelota às descrições de Dante,
as quais, aliás, ele já traduzira em trio,
Marcos Prado baixou no inferno delirante,
cego de álcool num infinito vazio.

Um diabrete chato pra cacete
gritou sem voz um lembrete:
“Tua alma veio vendendo a saúde
que outras querem negociar por mal...”
“Isso”, fala Marcos, “é o que ilude
quem pensa que fazer o bem é normal.”

Mal pôde abrir a fedorenta boca
um outro diabinho que corrói,
Marcos, à queima-roupa:
“Carinho dói.”

O cáustico olhar de criança
azucrinava os demos, de infante a marmanjo:
“Vamos”, ulularam, “nessa contradança
levá-lo abaixo ao nosso maior anjo!”

“Quem é que te protege, poeta biônico?”
grasnou uma voz, em meio à bulha.
E Marcos, no velho estilo bolha, irônico:
“Santo Antônio da Patrulha!”

Aí Lúcifer, gentil, mostrou a cadeia da liberdade
que impedia Marcos de cruzar o portão,
e concedeu licença ao poeta pra voltar à sua cidade:
“Mas só porque lá já o pregaram num paredão”.

* * *

quarta-feira, dezembro 14, 2011

UM SIM EM NÓS

Meus versinhos são pistolas.
O teu silêncio – uma faca.
Toda cidade te assaca.
Eu gosto quando me amolas.

Te dizem sou louco triste.
Me falam és gata fraca.
Mas pra ver se quica em placa
Nosso amor resiste insiste.

Ontem saiu teu canudo.
Hoje acordei contudo:
Além do mal e do bem.

Eu ando meio incontido
Contando tudo que ouvi do
Sim que em nós teu dom com tem.

*

terça-feira, dezembro 13, 2011

DE CHARLES PARA CHANDALL

Ó Chandall, bela Von Kalckmann,
Ó cantora, eu canto a ti;
Vídeo-games têm seus pácmans,
Sete anões têm seu Atchim;
Tu serás a personagem
Personificada aqui...

Chocolates são mais doces,
Sóis vermelhos têm mais luz;
Mas mais doce tu não fosses
Só na fossa ouvindo um blues;
Mesmo assim és como os totens
De selvagens seminus...

Ó Chandall, a ti declaro
Minha idololização;
Quando ouvi teu timbre raro
De uma queda fui ao chão;
Pois sentiu meu triste faro
Que és maçã, não és melão...

Não me acudam três amazonas,
Não sacudam-me pelos pés;
Pois sei que entre três brincalhonas
Irmãzinhas grande tu és;
E portanto, trocando o ritmo,
Este teu tímido não íntimo
Aqui assina que és mesmo a tal...

Charles Von Ivan de Chandall

_________________________________

segunda-feira, dezembro 12, 2011

O CÉU AINDA FICA AZUL CAFONA

Para Rose Costa

O céu ainda fica azul cafona.
Filósofos replicam com quem andas.
Os bêbados sabem macia a lona.
O amor ainda dança essas cirandas.

Mulheres lindas numa e noutra Irlanda
Confirmam tais verdades bonitonas:
Um urso é mais bonzinho quando panda –
Paixões alastram-se – asinhas e asonas.

O fim do mundo não começa nunca.
A ponta do nariz é sempre adunca.
Aos Andes haverá de haver as Andas.

Quem dera o com tivesse a sua cona.
O céu ainda fica azul cafona
E o amor ainda dança essas cirandas.

_________________________________________

sábado, dezembro 10, 2011

O AMOR EM SEUS COMEÇOS

O amor em seus começos
transforma os endereços,
revira e vira avessos,
desamolece os gessos,
reinicia o mês, os
dias deslembro-esqueços.

O amor revive o inédito
chavão valor sem crédito
vulgar latim impédito
da rima aqui sem fé dito-
samente ao seu descrédito
num truque desinédito.

O amor só cola assim
repetitivo ah sim
usando de outrossim
com mais sim-sala-bim
rim-tim-tim por tim-tim
para sempre afim.

E até que o mundo entenda
da grana ou da merenda,
viva ou morta esta lenda,
aceitos estes preços,
em vinte e cinco versos
deixei semi-inexpressos
o amor em seus começos.

_____________________________

sexta-feira, dezembro 09, 2011

O PAPEL INGÊNUO DA VIDA

quem nunca fez uma cagada
que atire a primeira mãozada de bosta
a gente faz porque a gente gosta
cada um por si, todos por cada

Edilson Del Grossi, Edson de Vulcanis, Ars Magoo

...

Cada cagada que se faz no hoje
talvez amanhã se mostre um tesouro
e o gás que a algum nariz talvez enoje
será p’r’outra narina um peido de ouro.

Ivan, inspirando-se em seus irmãos camaradas

____________________________________________________________

quarta-feira, dezembro 07, 2011

MULTIDÃO

(letra e música: Sérgio Justen)

Tem gente que chora uma desunião
Tem gente que ri pela mesma razão
Tem gente que fala, tem gente que escuta
Tem gente que cala, tem gente que luta

Tem gente voltando pela contramão
Tem gente descendo pelo corrimão
Tem gente saindo, tem gente chegando
Tem gente brigando, tem gente se amando

Tem gente esperando pelo carnaval
Tem gente cansada já sem esperança
Tem gente perdida em meio ao temporal
Tem gente sonhando e que nunca se cansa

Tem gente que dança, dança...

Tem gente que gosta de banho de sol
Tem gente que odeia jogar futebol
Tem gente que agride, tem gente que agrada
Tem gente valente, tem gente de nada

Tem gente parada em frente ao edifício
Tem gente correndo atrás do prejuízo
Tem gente pra cima, tem gente pra baixo
Tem gente prum lado, tem gente pro outro

Tem gente esperando pelo carnaval
Tem gente cansada já sem esperança
Tem gente perdida em meio ao temporal
Tem gente sonhando e que nunca se cansa

Tem gente que dança...

[Vejam e ouçam Anna Toledo cantando uma composição de Sérgio Justen, Novos Ares -- é só clicar aqui]

segunda-feira, dezembro 05, 2011

DOZE MUSAS MUSICISTAS

Uma musa mais que rara
– sorte a qual nunca se aposta:
Nyara Costa.

Musa de pantera pele –
voz que além ninguém compara:
Michele Mara.

Mais versátil que cigana
– faz, desfaz o enredo ledo:
Anna Toledo.

Mais que o sucesso de cara –
mais que indiscutivelmente:
Uyara Torrente.

Criatividade bárbara
– mesmo se óbvio escrevo kirchner:
Barbara Kirchner.

Nota alegre ou nota séria –
mais ligada que mil voltz:
Rogéria Holtz.

Ensinando não se engana
– se até o cardo é mais – é nardo:
Ana Cascardo.

Pairam noites de Cabíria –
caprichosa feita maga:
Iria Braga.

Linda a língua que se edite
– cristalina assina ao largo:
Edith Camargo.

Compõe, canta, toca, emana –
Em latim revelo-a in nuce:
Ana Larousse.

Se a sereia vai menina
– volta máxi ou até míni:
Janaína Fellini.

Brilho que não cega ao vê-la –
dom com tom tão mais feliz
– mesmo quando a um triste trisque:
Estrela Ruiz Leminski.


* * * * * * * * * * * *

Adendo prosaico: hoje é aniversário da Ana Clara Fischer -- mais uma musa musicista que poderia perfeitamente constar nesse poema -- e com a Ana Clara eu poderia/deveria ter adicionado: Thayana Barbosa, Lívia Lakomy, Melina Mulazani, Laís Mann, Selma Batista, Etél Frota, Kátia Drumond, Helena Bel, Xanda Lemos, Cris Lemos, Tatiana Lemos, Chiris Gomes, Zelda-Gi, Márcia Pricilla, Andrea Hellena, Helena Sofia, Grace Torres, Anne Torres, Sílvia Contursi, Alexandra Scotti -- enfim, agora aqui são mais vinte e uma musas musicistas -- entre cantoras, compositoras, instrumentistas -- todas portadoras do instrumento musical natural da voz, portanto: musicistas -- e também musas inspiradoras, disso não tenho a menor dúvida -- mas por minha insuficiência calhei de escolher as doze que me surgiram antes à memória, e às quais as rimas vieram quase que imediatamente -- pois a memória, além de mítica mãe das musas, também é um pouco traiçoeira: me perdoem todas -- as acima versadas, as lembradas nesta prosa, e as muitas (inúmeras) não citadas -- nestes versos de reverso da minha melancolia, foram doze as luzes de que me vali, mais as vinte e uma que a seguir assinalei, das quais não é menor o mérito por isso -- quero deixar afinal aqui um meu genuíno desejo de que as rimas que ainda não achei encaixem-se em todos os nomes de todas, todas as que assim (e também) nas notas musicais brilham...

...

domingo, dezembro 04, 2011

PREDOMÍNIO DE BÍLIS NEGRA

Novamente prego.
Novamente pia.
Nasce-me o sol negro
Da melancolia.

Outra vez dezembro.
Outra vez sem via.
Outra vez sou membro
Dessa confraria.

Vou aos cemitérios.
Vou às catacumbas.
Voo nos mistérios.
Desço em meio às tumbas.

Artes têm segredos.
Artes têm magias.
Ao perder pros medos
Perdem-se alegrias.

Sem as minhas manhas,
Sem você, perdida,
Sangram as tamanhas
Espirais da vida.

Ou é só um remédio,
Ou só o precipício.
Ouço em tom de tédio:
Vício? Vai pro hospício.

Mas se você disse:
'Meu, eu sou feliz --'
Minha cretinice
Não pediu nem bis.

Outra vez um prego.
Outra vez na pia.
Nasce-me o sol negro
Da melancolia.

_____________________

sábado, dezembro 03, 2011

O MAIS BONITO SUICÍDIO

(a Cristina Gebran)

O mais bonito suicídio
é o suicídio simulado:

finge-se
uma esfinge. Se

você já se suicidou
assim

sabe que ou-
trossim

é esse
o mais bonito suicídio que acontece.

________________________________

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Deblaterações autoctônicas em abstruso estilo poéticoprosaico

Meu prezado e caro eu mesmo dentrodemim cúpido, cuspido, estúpido e enterredado Ivan:

o que será que será que você nem não está despercebendo nesta semitonante existência inultilitimemente matem-a-temática? Ou (sejamos claros -- e docemente pornográficos, como queria Drummond com seu duromundo) melhor expressando, com afã e elã sem manhatantã:

qual é a sua?

Aonde você pensa que vai assim?

Pra que toda essa panca de nem nada quase coisa nenhuma e simplesmente tudo na necas de Curitipitibiriba?

Enfim:

foi alguma moça nua

que te deixou estatelado e apatetado desse jeito com cara-de-velhinho-do-Passeio-Público jogando biriba?

Ou terá sido alguma rima que novamente te atravessou a prosaica coloquialidade do ramerrão diário e te botou virando cambalhotas mentais no atravessar em diagonal as marechais em pleno trânsito de intranseuntes motoristas neurastênicos metendo os pés pelas mãos aos volantes?

Ou antes:
(e agora vem a dura realidade, prepare-se:)
-- terá sido esse seu autoproclamado surto poético, de variadas e multíplices produções-sublimações-da-loucura-mais-absoluta, e essa Virada Cultural, e esses teus recitais no Café Parangolé, e enfim todas essas festas de ontens-hojes-amanhãs -- terá sido só e simplesmente tudo isso que acabou por te deixar com a cuca fora da casinha -- o suficiente pra que você se desprendesse assim de mulher e filho e passasse agora à beira do completo desatino do destino, achando bonito correr o risco máximo, conforme apregoou o grande (e suicida, não esqueça disso) poeta Torquato Neto, o qual você manjou no youtube, na maviosa interpretação do superator Paulo José (cliquem e ouçam-vejam-leiam-saibam) ao som da música de grandes bambambans capitaneados por Jards Macalé?)

-- Foi ou é isso que é, meu Zé, meu pé, meu Pelé, meu capilé, meu Tomé Barnabé qual-é como-é-que-é, meu cara-de-quem-faz-o-que-quer-da-vida-e-assim-mesmo-de-si-mesmo-toma-olé?

Não sei. Sei lá. Em tom de ré:

acho que foi. Sigo não obstantemente cumprindo as obrigações mais imediatas. Agradeço a superegoica chamada na chincha. Mas vou continuar desse jeito questionável por enquanto. Sem mais comentários, entretanto. Até.

...

(to be continued -- ou: tupi continha, ué...)
________________________________

quinta-feira, dezembro 01, 2011

DEDICADO A A.L.

fui dormir
pra sentir
quem me lê
quando li
logo ali
qu'est-ce que c'est?
(que és que se?)
esquecer
não tem como
nem me domo
vejo o cromo
deixo a pista
quem conquista
solo em mi
sonho um si
ponho aqui
isto a ti
desenhista

____________