quinta-feira, dezembro 15, 2011

Um sexto dedo de prosa e duas ou três carradas de poesia

Hoje é aniversário da Alexandra Lemos Zagonel.

Também é aniversário do finado poeta curitibano Marcos Prado (50 anos hoje).

Depois de praticamente um poema por dia há quinze dias, hoje eu vou postar (em homenagem à Xanda), um poema que fiz imaginando o que teria acontecido a Marcos Prado após sua morte. Aviso aos incautos: é imaginação -- poesia é principalmente imaginação -- realidade exclusivamente realidade é pra quem faz economia e contabilidade, valeu? O poema também se refere ao que o Drummond fez quando morreu o Mário de Andrade. Eu fiz o meu em partes, ficou pronto já há algum tempo, e saiu na revista Coyote, no ano passado.

Enfim, acho que o meu surto poético ainda não acabou, mas talvez não seja muito saudável continuar jorrando versos novos todo dia, quando a vida é bem mais (e me exige bem mais) que poesia. A vida é imaginação mais realidade mais filosofia mais prática mais tudo que ninguém dá conta.

Enfim de novo: tem gente muito inspiradora nessa vida. Aos olhos do observador certo, toda pessoa é uma inspiração mágica. Mas, a olhos tortos, zarolhos e errados (no caso, os meus), tem gente que nos broxa o tesão de produzir, porque conseguem confundir poesia e realidade da maneira menos criativa possível. Mas é pra todas as pessoas, indiscriminadamente, que existem a poesia, a beleza, o amor, as limpezas, as sujeiras, a vaidade, e a verdade. Quer vivam mortas, quer morram vivas, quer consigam ou não entender isso.

E um brinde à Xanda, às criaturas inspiradoras, e à banda Criaturas.

* * *

MARCOS PRADO DESCE AOS INFERNOS

Sem dar pelota às descrições de Dante,
as quais, aliás, ele já traduzira em trio,
Marcos Prado baixou no inferno delirante,
cego de álcool num infinito vazio.

Um diabrete chato pra cacete
gritou sem voz um lembrete:
“Tua alma veio vendendo a saúde
que outras querem negociar por mal...”
“Isso”, fala Marcos, “é o que ilude
quem pensa que fazer o bem é normal.”

Mal pôde abrir a fedorenta boca
um outro diabinho que corrói,
Marcos, à queima-roupa:
“Carinho dói.”

O cáustico olhar de criança
azucrinava os demos, de infante a marmanjo:
“Vamos”, ulularam, “nessa contradança
levá-lo abaixo ao nosso maior anjo!”

“Quem é que te protege, poeta biônico?”
grasnou uma voz, em meio à bulha.
E Marcos, no velho estilo bolha, irônico:
“Santo Antônio da Patrulha!”

Aí Lúcifer, gentil, mostrou a cadeia da liberdade
que impedia Marcos de cruzar o portão,
e concedeu licença ao poeta pra voltar à sua cidade:
“Mas só porque lá já o pregaram num paredão”.

* * *

Nenhum comentário: