quinta-feira, março 30, 2006

versinhos balsâmicos (refletidos por ti*)

*

DAS UTOPIAS
Mario Quintana

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

terça-feira, março 28, 2006

a dor que agora dói ne mim

a dor que agora dói ne mim
não é qualquer dorzinha assim

a dor que agora dói ne mim
não é qualquer riminhazinha que dá fim

a dor que agora dói ne mim
não dá pra te explicar timtim por timtim

a dor que agora dói ne mim
não some nem com pó de pirlimpimpim

a dor que agora dói ne mim
não é por te saber tão perto e longe enfim

não é por tantos nãos e im
perfeições que escrevo aqui

talvez então seja porque
eu hoje não ouvi

não compreendi
pedi pra você repetir

sentindo a dor que agora dói ne mim
na palavrinha que você me disse sim

quinta-feira, março 23, 2006

Pediu ganhou...

se nosso sexo
é sempre assim,
assim não iria
a bissetriz
verter-te despida?

por isso peço
que espirre em mim:
vai ser o dia
mais feliz
da minha vida...

Vamos abrir as portas da esperança...

(um diálogo fora do tempo e do espaço)

- Ivan: você deve escolher todas as seguintes alternativas:
- Oba! Quer dizer: tá bom: manda...
- Você vai ver seu time em crise (sem o técnico germanofáustico) perder em seu próprio chão, e assim ser eliminado do campeonato, com direito a contusão do craque da equipe; depois você vai ver pela TV o time perder de novo, em solo carioca, no dia (na noite) do seu aniversário (e também do craque em crise); você vai ser enxovalhado neste dia de aniversário, vai sofrer uma dose concentrada das torturas acumuladas ao longo dos últimos tempos...
- É emocionante: e o que mais?
- O pior fica pro fim: na manhã seguinte, ligeiramente ressaqueado, você vai acordar sorrindo e o dia vai estar lindo.
- Eu não mereço tanto...
- Não mesmo: melhor você voltar pros versinhos antes que se quebre o encanto...
- Positivo, operante: deixa aqui pro beque que só mesmo em rima eu adianto.

quinta-feira, março 09, 2006

Eu só reflito você...*

*

ESTIVAL

Rubén Darío

___I

A tigresa de Bengala,
com sua lustrosa pelugem de listras,
está alegre e gentil, está de gala.
Salta pelas águas ariscas
dum riacho, ao cerrado
bambuzal; logo ei-la diante
da rocha à entrada de sua gruta.
Ali lança um rosnado,
se agita feito uma bacante
e eriça de prazer a pele hirsuta.

A fera virgem ama.
É o mês do ardor. Parece o solo
um rescaldo, e o sol
no céu, imensa chama.
Pela ramagem sepulcral
salta em fuga um marsupial.
A jibóia incha, dorme, esquenta-se
ao tórrido lume;
um pássaro senta-se
repousando sobre o verde cume.

Sentem-se vapores de forno;
e a selva indiana,
em lufadas de ar morno,
lança, sob os langues tons
do céu, um sopro de si.
A tigresa ufana
respira a plenos pulmões,
e ao ver-se bela, altiva, soberana,
dilata os seios, acelera as pulsações.

Contempla sua grande pata, e nela a garra
de marfim; logo toca
o veio de uma rocha,
o testa e o marca.
Observa então seu flanco
que açoita com o rabo pontiagudo
em preto e branco,
inquieto e felpudo;
depois seu ventre. Em seguida
abre as largas mandíbulas, altaneira
qual rainha a exigir vassalagem;
e então fareja, busca, segue. A fera
exala algo à maneira
de um suspiro selvagem.

Um surdo rosnado
ouviu. Depressa
volve a visão de lado a lado.
E cintila o olhar verde e dilatado
ao ver de um tigre a cabeça
surgir sobre o topo de um penhasco.
O tigre aproximava-se.
____..............................Mui garboso.

Gigantesco talhe, pêlo fino,
olhar puxado, robusto pescoço,
era um Don Juan felino
na selva. Em silenciosos solavancos
vem, vê a tigresa inquieta, sozinha,
e lhe exibe os brancos
dentes; e logo agita
a cauda catita.

Ao caminhar se via
seu corpo ondear, com garbo e bizarria.
Miravam-se os músculos inchados
debaixo da pelugem. E se diria
ser aquela criatura
um rude gladiador da altura.
Os pêlos eriçados
do lábio relambia. Quando andava,
seu peso afundava
a relva verde e mole,
e o ruído de seu bafo semelhava
o ressoar de um fole.
Ele é, ele é o rei. Cetro de ouro
não, mas a garra vasta
que se crava régia no crânio do touro
e carnes desbasta.

A grande águia negra, de pupilas
de fogo e curvo bico reluzente,
tem o Aquilão; as fundas e tranqüilas
águas são do caimão; o elefante
possui planalto e planície;
a víbora, os juncais à sua malícia;
e um ninho aquecido,
na árvore suspendido,
é da ave doce e terna
que ama a primeira luz.
_______........................Ele, a caverna.

Não inveja ao leão a juba, nem ao potro
o casco, nem ao hipopótamo
o lombo corpulento,
que, sob as ramagens do copado
baobá, ruge ao vento.

Assim caminha orgulhoso, chega, afaga;
corresponde a tigresa que lhe espera,
e com carícias as carícias paga,
em seu selvagem ardor, a carniceira.

Depois, o misterioso
tato, as impulsivas
forças que arrastam com poder pasmoso;
e – Oh, grande Pan! o idílio monstruoso
sob as vastas selvas primitivas.
Não aquele das musas de brandas horas
suaves, expressivas,
nas curtas auroras
e nas azuis noites pensativas;
mas o que a tudo inflama, anima, exalta,
pólen, seiva, calor, nervo, braveza,
e em torrentes de vida brota e salta
do seio da grande Natureza.

____II

O príncipe de Gales vai à caça
por bosques e por morros,
com seu grande séquito e cachorros
da mais fina raça.

Silenciando o tropel dos vassalos,
detendo parelhas e cavalos,
com a visão inquieta
contempla os dois tigres, na entrada
da gruta. Demanda a escopeta,
e avança e não se abala.

As feras se acariciam. Não ouviram
o tropel dos caçadores.
A esses terríveis seres,
embriagados de amores,
com cadeias de flores
poderiam tê-los jungido
à nevada concha de Citera
ou ao carro de Cupido.

O príncipe atrevido
se adianta, se aproxima, pára;
aponta a arma e fecha um olho; dispara;
da arma o estrondo
ecoa pelo bosque fechado.
O tigre sai correndo
e a fêmea cai, o ventre perfurado.

Oh, está morrendo!... Mas antes, fraca, hirta,
esguichando sangue pela ferida aberta,
com olhar dolorido
fita aquele caçador, lança um gemido
feito um ai! de mulher..., e cai morta.

_____III

Aquele macho que fugiu, bravo e medonho
com os raios ardentes
do sol, em seu covil depois dormia.
E então tem um sonho;
que enterrava as garras e os dentes
em ventres rosados
e peitos de mulher; e que engolia
em pedaços delicados
refeições tão plenas,
como tigre guloso entre gulosos,
umas quantas dezenas
de bebês tenros, louros e saborosos.


Versão brasileira: Ivan Justen Santana

terça-feira, março 07, 2006

só mais um poeminha de amor...

minhas lágrimas em teus olhos
me falaram de amor:
pra que queimar meus miolos
se basta ofertar-te uma flor?

se tudo que eu dissesse
chegasse até você como prece,
quem sabe a falta de pressa
fosse afinal um fim que começa

sem essa de querer ser deusa:
já é demais ser só você mesma:
você já descansou minha beleza

musa: nossa comida está servida
no banho, na cama e na mesa


Antonio Thadeu Wojciechowski e Ivan Justen Santana