sexta-feira, setembro 23, 2011

A PANTERA

No Jardin des Plantes, Paris


O olhar, de tanto passar pelas grades
gastou-se: não está preso a mais nada.
A ela, só existem mil grades, e atrás de
mil grades o seu mundo todo acaba.

O ritmo macio do seu movimento
forte, em círculos cada vez menores,
é uma dança de energia até um centro
onde jazem suas vontades enormes.

Raramente ela descerra em silêncio
o véu da pupila – e a imagem vivaz
adentra a mansidão do corpo tenso,
cai no coração e se desfaz.


Rainer Maria Rilke

Versão felina brasileira
(reescovando os pelos da pantera
numa singela homenagem a Monica Berger:)
Ivan Justen Santana

quarta-feira, setembro 21, 2011

Diálogo automático consigo mesmo

"Olá, Ivan, como foi a apresentação musical dos Dublês de Dublin?"
"O show foi muito bom, Ivan. Foi quase excelente mesmo. Obrigado por se interessar em saber."
"E como vai o doutorado, Ivan? Passou bem nas matérias do primeiro semestre?"
"Ainda não sei das notas, Ivan, mas acho que não fiz feio."
"E a família, Ivan? Como vai?"
"Faça um favor a nós dois, Ivan: vá dormir, e só volte aqui quando tiver algo de bom pra postar, valeu?"
"Valeu, Ivan, boa noite."
"Boa noite."
...

sábado, setembro 10, 2011

DECLARADO O DIA IVÂNICO DESCARADO DESCARACTERIZADO

Hoje não era pra ser um Dia Ivânico
(pra quem não sabe o que é isso: clique aqui)
mas como no ano passado o Dia Ivânico
(8/9/10) passou em branco, eis que aqui

está declarado o Dia Ivânico Descarado Descaracterizado:
Dez do Nove do Onze:
como um gonzo que gonze,
como um guizo à guisa de gaze,
ou só esses versos passando de fase,
feito em casa um caso do casal de coisa que nem me case:


RASTROS DOS ASTROS DE SISTROS SINISTROS DAQUELES DESASTRES JAMAIS VISTOS DESDE OS SETEMBROS PRETÉRITOS PASSADOS (Ou: POEMA QUE NÃO DEVIA TER TÍTULO)

Minha pedra tem artistas.
Tem enxames de turistas.
Não permitam que alguém chame
nossa classe assim de Lóki,
mesmo que ela se coloque
a serviços de reclame.

Minha pedra não é a perda
de quem fume a pedra-merda,
de quem caia a mesma queda,
ou quem ri da lesma surda
das que zombam ui que meda:

mesmo que ela se coloque
a serviços de reclame,
nossa classe tem estoque
além do bem velho róque,
posta a chama ou seu vexame:

a quem cale ou a quem ame.

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segunda-feira, setembro 05, 2011

AO IAN NADOLNY ROLAND JUSTEN SANTANA, NO MOMENTO EM QUE FAZ 8 MESES E 8 DIAS

O maior dilema
não é fazer ou não fazer
para você ou para a sua mãe
um primeiro ou mais um poema.

O maior dilema
é mais que só ser ou sequer
nem ser quem perca ou ganhe
ou grite ou chore ou sofra ou gema.

Dilemas totais
mais fundamentais
que mamães e papais:
isso existe?

Talvez as razões
de ao tentar ser bons
tocarmos tantos sons
num tom triste.


(Foto: Gianna Roland)

quinta-feira, setembro 01, 2011

O CORUJÃO & A GATINHA

________I
O Corujão e a Gatinha foram pro mar,
__Num belo dum barquinho bem verdinho,
Levaram muito mel, e dinheiro a granel,
__Empacotado em cédulas de cinco.
O Corujão via as estrelas com ardor,
__E cantava com seu violãozinho,
“Ó minha adorável Gatinha! Ó meu amor,
__Ó Gatinha do meu coraçãozinho,
____Zinho,
____Zinho!
Ó Gatinha do meu coraçãozinho!”

________II
E a Gatinha ao Corujão: “Você é cortesão!
__Que doce essa canção que você fez!
Ó vamos já casar! Em boa hora e lugar:
__Porém o que fazer quanto aos anéis?”
Navegaram em calmaria, um ano e um dia,
__Às terras onde a planta Bonga tem raiz
E lá numa vereda um Porco tinha venda
__Com anéis no final do seu nariz,
____Nariz,
____Nariz,
Com anéis no final do seu nariz.

________III
“Caro porco janota, aceita alguma nota
__Por tais anéis?” Disse o Porco: “Eu aceito.”
E então os compraram e a seguir se casaram
__Declarados pelo Peru, o Prefeito.
Jantaram araruta, e fatias de fruta,
__Que comeram com uma colher nua;
De mãos dadas, em par, pela beira do mar,
__Cantaram e dançaram à luz da lua,
____Da lua,
____Da lua,
Cantaram e dançaram à luz da lua.


corujice original: Edward Lear (1812-1888)
[clique aqui pra ver o texto fonte]
gatimanha tradutória: Ivan Justen Santana


Imagem surrupiada do site storynory.com,
(na verdade é uma colorização da ilustração
do próprio Edward Lear, mas não contem pra ninguém).