terça-feira, dezembro 13, 2016

PECARAM

*
PECARAM a favor de quem os elegeu:
não foi você, tampouco fui eu:
eleição = ilusão.

Pecaram a favor de quem detém a grana:
não é o João, muito menos a Joana:
são poucos = ouvidos moucos.

Pecaram a favor da salvação nacional:
salvação da revista, da TV e do jornal:

e o povo vai ter vez = feliz 2036!

__

sexta-feira, dezembro 09, 2016

MESMO MESMO (PRA MINHA GRAÇA)

(de ijs pra ffr)

mesmo que a rua rua (do verbo ruir)
mesmo que o poema seja vão chavão
e já vão longe as chances de sorrir
e sejam pobres as rimas como são
as comoções diante dos desastres
e os complexos complexos
e os contrastes com trastes
e os nexos desconexos reflexos
dos sexos de nós em nós até que sós
e após as pós e os pós sem dós
a linguagem finja esfinge
e se desfaça

algo sim ainda assim sublime nos atinge
e você foi é sempre será minha graça

___

terça-feira, novembro 08, 2016

SE DEIXAREM-SE

(pra toda humanidade, menos pro um por cento dela que submete os outros 99%)

Se deixarem-se deixar levar
pelas vozes verdadeiras
e entenderem que é pela Educação,
que a causa não é matar ninguém
(ao contrário dos que atacam)
e se perceberem
(e se perceberem?!)
que estão brigando consigo mesmos
quando deveriam
ouvir as vozes verdadeiras
e então entender,
então entenderão
que não é invasão
mas invenção
daquela velha nova escola
e então
só então
não
junto então
entenderão
que se todos se opuserem
ao desmanche
e à entrega da nação
o que é que eles
os poucos traidores
poderão?
Sim:
o que eles poderão?
Eles poderinhos
e nós é que poderão:
juntos então:
pelo aumento
e não diminuição
dos "gastos" com a Saúde
e a Educação!
Redução sim:
de salários e benesses
e auxílios aos que já têm tudo
e de sobra
sim:
auxílio é para quem precisa,
não para juiz com interesse de família
em jogo
que faria melhor
morou?
em se declarar parte interessada
e não dar mais mancada.

E assim, sim:
se deixarem-se
assim
pensarem diferente
de como estão
nesta questão
e se nos deixarmos
compreender
antes de vociferar
então
as vozes
verdadeiras
ver
darão:
e o que pode ser melhor
que um país que gasta
gasta não: investe
em educação?

IJS

segunda-feira, outubro 31, 2016

NUNCA ESQUEÇAM:

(um poema pras Anas Júlias, a pedido de uma garota que não se chama Ana Júlia)

existem muito mais do que só uma aluna Ana Júlia
e as pelo menos novecentas Anas Júlias
que estão pelas novecentas ocupações
poderiam ter ido lá e brilhado
da mesma forma,
expressando-se
com emoção
e com razão, sim,
e respondendo
ao nobre presidente da casa
com igual capacidade e bravura.

Vamos prestar atenção ao que interessa
e fazer as coisas:
e já que eu decidi na vida
que faria versinhos,
vamos lá: que prosaísmo é esse?

Era uma vez
uma garota
que sabia jogar
xadrez.

E era uma vez outra garota
que lia e compreendia
economia política.

E era outra e muita vez
uma garota que falava
o que pensava -- e o que já sabia.

E era mais umas tantas vezes
e muitas e mais ainda
uma garota chamada Ana Júlia --
sim, por causa duma maldita canção
dos Los Hermanos, mas que bom:
esta Ana Júlia escrevia
poesia.

ijs

sexta-feira, outubro 14, 2016

A história dos Estados Unidos da América, contada por seu mais recente laureado...

Com Deus A Nosso Lado
(With God On Our Side - Bob Dylan)

Com Deus Ao Nosso Lado

Meu nome não importa, e a idade, tampouco
Minha terra natal se chama Meio Oeste
Pois lá fui criado pras leis respeitar
E a terra onde vivo tem Deus a seu lado

Os livros de história contam, e contam tão bem
A cavalaria atacava, e os índios caíam
A cavalaria atacava, e os índios morriam
O país era jovem, com Deus a seu lado

A Guerra Hispano-Americana teve o seu dia
E a Guerra Civil também depressa se foi
E os nomes de heróis me forçaram a decorar
Com armas nas mãos e Deus a seu lado

A Primeira Grande Guerra lacrou nosso destino
A razão dessa luta eu nunca entendi
Mas aprendi a aceitá-la e aceitá-la com orgulho
Pois não se contam os mortos quando Deus está a seu lado

A Segunda Grande Guerra chegou ao seu fim
Perdoamos os alemães e nos tornamos seus amigos
E embora seis milhões nos fornos eles tenham fritado
Os alemães agora também têm Deus a seu lado

Aprendi a odiar os russos por toda minha vida
Se outra guerra começar serão eles os inimigos
De odiar e temer, de correr e se esconder
E tudo aceitar bravamente, com Deus a meu lado

Mas agora temos armas de pós químicos tóxicos
Se formos obrigados, vamos usar esses tóxicos
Um apertar um botão, e lá se vai o mundo todo
E você nunca faz perguntas, quando Deus está a seu lado

Nas minhas horas escuras tenho pensado sobre isso:
Que o próprio Jesus Cristo foi traído por um beijo
Mas não posso pensar por você, decidir sobre o fato:
Se Judas Iscariotes tinha Deus a seu lado

Então agora em despedida, estou cansado pra diabo.
A confusão que sinto língua alguma falava
As palavras me enchem a cabeça, e se derramam por terra:
E se Deus está a nosso lado, impedirá a próxima guerra

versão brasileira: ijs



quinta-feira, outubro 13, 2016

NÃO HESITE NÃO (’TÁ TUDO CERTO)

[Don’t Think Twice (It’s Alright)]
Bob Dylan

Não adianta sentar e meditar, garota
De qualquer forma, não importa
E não adianta sentar e meditar, garota
Se não sabe nem agora
O galo canta, já nasceu o dia
Olhe lá fora, lá por onde eu ia
Por ti parti nesta manhã tão fria
Não hesite não,’tá tudo certo

Não adianta acender tua luz, garota
Luz que eu nunca conheci
E não adianta acender tua luz, garota
Meu caminho é escuro assim
Seria bom se você desse de falar
Tentasse argumentar e me fazer ficar
A gente nunca conversou muito, afinal
Então não hesite não, ’tá tudo certo

Não adianta gritar meu nome, menina
Como você nunca gritou
Não adianta gritar meu nome, menina
Eu já não ouço mais teu tom
Vou pensando, matutando pela estrada
Uma vez amei e aquela menina se achava
Dei-lhe o coração, ela queria a alma
Mas não hesite não, ’tá tudo certo

Vou seguindo a estrada solitária, garota
Pra onde eu vou nem sei dizer
Mas até logo é bom demais pra nós, garota
Assim só digo passe bem
Não me queixo de maus tratamentos
É: podia ter sido melhor mas já nem esquento
Você só gastou o meu precioso tempo
Mas não hesite não, ’tá tudo certo

segunda-feira, agosto 29, 2016

PRESENTE DE ANIVERSÁRIOS

(de ijs a ffr)

de fato, existe um presente
entre tantos dos presentes
que só eu posso te dar
e o qual você espera sempre
em qualquer tempo e lugar

--- quanto mais no aniversário
ou antes, nos dois: de namoro
e também de birthday mesmo:
neste mês de agosto do poeta
tentei ser teu poeta a gosto
mesmo com rima indireta
e até sem mostrar o rosto.

Felizes aniversários para nós!
___

segunda-feira, agosto 22, 2016

MERA IRONIA DO DESTINO

(Simple Twist Of Fate - Bob Dylan - vb:ijs)

Os dois sentados ali na praça
Enquanto a tarde virava fumaça
Ela o olhou e ele sentiu uma brasa tisnar seus ossos
Sentiu solidão até o pescoço e desejou ter detido o tino
E ficou atento a uma mera ironia do destino

Andaram ao longo do velho canal
Meio confusos, se não lembro mal
Pararam naquele estranho hotel com o neon de brilho forte
Ele sentiu no calor da noite um impacto de trem sobrevindo
Passando como uma mera ironia do destino

Um saxofone ao longe soprava
Enquanto ela andava pelas arcadas
Enquanto a luz furava a sombra onde ele estava semidesperto
Ela pingou uma moeda no caneco de um cego quase dormindo
E passou esquecida por uma mera ironia do destino

Ele acordou, o quarto vazio
Não viu a direção em que ela saiu
Mas decidiu que seria frio, e escancarou as persianas
Sentiu uma angústia desumana, como um bilhete não escrito
Trazido por uma mera ironia do destino

Ele ouve os tique-taques dos minutos
E anda com um papagaio quase mudo
À caça dela nos becos vagabundos aonde os marinheiros vão
Talvez ela volte a ele então – até quando esperar sorrindo
Outra vez por uma mera ironia do destino

As pessoas me dizem que é pecado
Saber o sentimento encalacrado
Ainda creio, ela é meu fado, mas perdi as alianças
Ela nasceu e cresceu criança, e eu não envelheci menino
Tudo culpa de uma mera ironia do destino

____

sexta-feira, agosto 19, 2016

UM DIA NA VIDA

[A Day In The Life:]
(Lennon/McCartney -- vb:ijs)


eu li a notícia hoje -- que puxa --
sobre um homem sortudo que chegou lá
e apesar da notícia ser um tanto triste
eu bem que tive que dar risada
eu vi a fotografia

ele estourou a cabeça num carro
-- não percebeu o sinal vermelho
umas pessoas pararam e olharam
-- já tinham visto a cara dele --
ninguém tinha certeza mesmo
se ele não era da câmara dos lordes

eu vi um filme hoje -- que puxa --
o exército inglês ganhara a guerra
umas pessoas se afastaram
mas eu tive que olhar
tendo lido o livro
eu adoraria
ligar
você

*despertador*

acordei
caí da cama
passei um pente na cabeça
achei meu caminho descendo as escadas
e bebi uma caneca
e olhando pra cima
percebi: atrasado
achei meu casaco
e peguei o chapéu
subi no ônibus (dois andares)
achei meu caminho subindo as escadas
e acendi um cigarro
e alguém falou
e penetrei um sonho

eu li a notícia hoje -- que puxa --
quatro mil buracos em Blackburn, Lancashire
e apesar dos buracos serem um tanto pequenos
tiveram que contar todos eles
e agora sabem com quantos buracos
se enche o teatro Albert Hall
eu adoraria
ligar
você

...

quinta-feira, agosto 18, 2016

VOCÊ CAÇOU MEU POKEMON

...

tava demorando:

tava demorando pra colocarem
uma personagem dos videogames
num poema --

enfim,
nada é tão grande novidade
assim --

a poesia é meu game favorito, meu amor:
e você é a personagem principal dela
para mim --

fomos fazer um piquenique
e as crianças só queriam caçar os monstrinhos...

Mas você sabe o que é bom:
por isso, foi você,
sim

só você
foi quem achou
e caçou

meu pokemon.


ijs
[para ffr]

...

terça-feira, agosto 09, 2016

O GALO DE OURO

Poema-conto de Alexandre Pushkin (1799-1837)
Versão brasileira: R. Magalhães Jr (1907-1980)
Seleção e transcrição: Wagner Schadeck
Revisão e preparo: Ivan Justen Santana


Num reino de alto renome,
Do qual não direi o nome,
Viveu um Czar altaneiro
Por nome Dadon Primeiro.
Fero, duro, tudo ousava
E aos vizinhos saqueava.
Mas, minguada com a idade
Sua belicosidade,
Quis então o velho Czar
Das guerrilhas descansar.
Os vizinhos, atrevidos,
Com batalhões aguerridos,
— Como ódio velho não cansa —
Buscaram tirar vingança.
Dadon seu reino perdia
Ou tropas mil manteria...
Seus capitães não dormiam,
Porém às vezes fugiam…
Se era o sul fortificado,
Era o resto vulnerado…
Se era uma brecha coberta,
Já numa praia deserta
Desembarcava o inimigo!
Czar Dadon, ante o perigo,
Quase até mesmo chorava!
Não dormia, — cochilava,
Num viver acabrunhante!
Foi, por isso, a um nigromante
Um velho eunuco pedir
Que viesse o Czar assistir.
O Feiticeiro assentiu
E com o eunuco partiu
Para o palácio do Czar…
Na corte, logo ao chegar,
Tirou de um baú de couro
Um pequeno galo de ouro.
“Este galo — disse o mago —
É a proteção que trago
Ao amado e nobre Czar.
Num poste deve ficar
Bem alto, sobre a cidade,
Dominando a imensidade
Do reino que é vosso orgulho,
Sem ouvir nenhum barulho.
Na altura em que ficará
Este galo cantará
Apontando a direção
Donde quer que haja traição,
Donde a perfídia transpire
Ou o inimigo conspire!”
O mago do galo de ouro
Teve em rublos um tesouro
Mas foi apenas o prólogo:
“— Formula um desejo, astrólogo”,
 Disse o Czar, “e eu, como amigo,
A realizá-lo me obrigo...”

No alto poste colocada,
Ficou a ave bem vigiada,
E, se o perigo apontava,
Como que o galo acordava
E, então, as asas ruflando,
Era de vê-lo cantando,
Co-co-ró, co-co-ri-có!
E indicava um lado só
Por onde vinha o inimigo…
Para Dadon o perigo,
O sobressalto era findo:
Não o pegavam dormindo!

Um ano… Outro ano passou,
E o galo não mais cantou…
Mas um dia, de repente,
Ao Czar Dadon um tenente
Diz: “Acorde, majestade!
O perigo o reino invade!
Venha, venha sem demora!”
“Afinal, que é isto agora?”
Na cama se espreguiçando,
Indaga o Czar gaguejando.
Diz o tenente: “É que o medo
Domina! Senhor, hoje cedo
O galo de ouro cantou!”
Para o galo o Czar olhou
E o viu, no poste, a indicar,
Cantando, o lado do mar.
“Depressa! O inimigo investe!
Cavalheiros! Rumo ao Leste!”
O herdeiro do Czar, valente,
Das tropas saiu à frente.
Como o galo se calou,
Dadon então repousou…

Os dias correram, mágicos,
Sem rumores ou sons trágicos.
Afinal, quem venceria?
O Czar Dadon não sabia…
Mas… Eis o galo cantando
Outra vez… E eis, pois, marchando
Nova tropa, em garbo e brilho,
Tendo à frente o outro filho
Para socorrer o irmão.
Como na outra ocasião,
Dando mostras de contente,
O galo quedou silente.
Más notícias não chegaram…
Oito dias mal passaram,
Já canta o galo e, destarte,
Eis que nova força parte!
Quem a conduz, sobranceiro?
É o Czar Dadon Primeiro!

Noites, dias, ao mormaço,
Marcha, morto de cansaço,
Dadon procurando, em vão,
Uma vaga indicação
Quanto ao campo de batalha…
Nem vestígios de metralha
Nem destroços! Coisa estranha!
Mas ao galgar a montanha
Alta, erguida junto ao mar,
Que veria o nobre Czar?
Toda em seda adamascada
Ali há uma tenda armada…
Reina um silêncio funéreo
Como em vasto cemitério…
Jaz, ao lado, a tropa morta…
Investe o Czar para a porta
Da tenda… E cheio de horror,
Seus filhos, com estupor,
Vê, a ferro traspassado
Um pelo outro, lado a lado!
No solo, sobre o gramado
O sangue real derramado
Nem coagulara ainda…
De Dadon a dor infinda
Leva-o a falar assim:
“Filhos! Filhos! Ai de mim!
Meus falcões, por ínvia trilha,
Caístes numa armadilha!”
Todo o exército chorou…
E o vale, o monte, a devesa,
Vestiu luto a natureza!
Mas da tenda eis se avizinha,
De Samarcândia a Rainha,
— Pomo da discórdia — e, airosa
Estende a mão cor de rosa,
Num gesto de enfeitiçar
A Dadon, o velho Czar,
Que ficou trêmulo, olhando
Para ela, não mais pensando
Nos seus dois filhos defuntos.
Ele a mão beijou-lhe e, juntos,
Na tenda real penetraram…
Lado a lado os dois cearam
E após, num leito dourado,
Recoberto de brocado,
Amável, galante, o Czar
A levou a repousar…
Sete noites, sete dias,
Teve o Czar tais regalias.
Qual moço amante perfeito,
Quase não deixava o leito…

Com a pausa que ordenara
Já bastante retardara
O Czar do regresso o avanço.
“Chega, agora, de descanso”,
Diz… E resolve voltar.
A nova, ao se propagar,
Leva às portas da cidade
Gente em grande quantidade.
Em torno ao coche do Czar,
Iam todos a aclamar,
Como a polidez convinha,
O Czar e a linda Rainha.

Barba branca como um cisne,
Sem fio negro que a tisne,
Sob o seu chapéu mourisco,
Montando um corcel arisco,
Surge o mago fabuloso
E diz: “Salve, poderoso,
Salve, onipotente Czar!”
“Então, não vais formular,
Afinal, o teu desejo?”
Dadon pergunta. “Este ensejo,
Em meio a tanto bulício,
Não me parece propício
— Diz o mago — a formular
Meu desejo, ó nobre Czar!”
Dadon retruca: “Tolice!
Vamos! Faze o que eu te disse…
Dize! A palavra de um rei
Atrás não volta… Empenhei
Contigo a minha”. E o mago
Esboça um sorriso vago...
À frente do povo ouvia
De Dadon o que queria:
“Pois bem, Czar: que seja minha
Esta formosa Rainha!”
Tira o Czar a adaga e brande-a:
“Como? A flor de Samarcândia?
És louco, atrevido mago!”
— “Só com ela estarei pago!”
— “Mas há limite, ora essa!”
— “Meu Czar, promessa é promessa!”
— “Cobrir-te-ei de ouropéis!
Dou-te até os meus corcéis,
Mesmo o meu belo alazão!
Farei de ti um barão!
Metade do meu império
Será teu… Prometo-o, a sério!”
— “Nobre Czar, a ambição minha
É tão somente a Rainha…”
Cuspindo de raiva, o Czar
Começa a vociferar
Injúrias, em vil jargão:
— “Que este infame, este bufão,
Desapareça daqui!”
E o mago apenas sorri…
Sorri sem nada dizer,
Talvez por lhe parecer
Uma imprudência brincar
Com a cólera do Czar…
Mal se vai o nigromante,
Com o cetro, o Czar, radiante,
Toca do eunuco o ombro…
Diante do geral assombro
Morre o pobre de repente!
Mas, de todos diferente,
A Rainha nada teme…
Com seus desvelos, extreme,
Sorri-lhe o Czar… E se vão!
Eis que se alvoroça então
O povo a um certo ruído!
É que — céus! — tinha fugido
Do alto do seu mirante
Naquele trágico instante
O galo de ouro… Ei-lo voando,
As áureas asas ruflando:
Como em presságio feral,
Procura o coche real!
No Czar, aflito, desfeito,
Pousou o galo… Bem feito!
Então, branco de terror,
Eis que salta o imperador
Do coche, aos gritos, tremendo,
No chão rolando e morrendo…
E a Rainha se esvanece,
Qual se ali não estivesse…

Fábulas, sendo invenções,
Mesmo assim nos dão lições…

sexta-feira, agosto 05, 2016

WE MUST GET HOME

James Whitcomb Riley
(Greenfield, Indiana, 07/10/1849 - Indianapolis, 22/07/1916)

TEMOS QUE IR PRA CASA
(versão brasileira: Ivan Justen Santana
seleção e curadoria: Faena Figueiredo Rossilho)

We must get home! How could we stray like this?-- 
So far from home, we know not where it is,-- 
Only in some fair, apple-blossomy place 
Of children's faces--and the mother's face-- 
We dimly dream it, till the vision clears 
Even in the eyes of fancy, glad with tears. 
Temos que ir pra casa! Como pudemos vaguear assim?----
Tão longe de casa, nem sabemos onde, enfim,----
Somente num lugar justo e belo e frugal
De rostos infantis----e rosto maternal----
Sonhamos até que essa visão clareie
Aos olhos da mente, em lágrimas alegres.

We must get home--for we have been away 
So long, it seems forever and a day! 
And O so very homesick we have grown, 
The laughter of the world is like a moan 
In our tired hearing, and its song as vain,-- 
We must get home--we must get home again! 
Temos que ir pra casa----já estivemos afastados
Tanto tempo que parece um dia além da eternidade!
E tanta saudade de casa nós já sentimos,
Que o riso do mundo todo é como um gemido
Ao nosso ouvir cansado, e seu canto é tão vaidoso,----
Temos que ir pra casa----temos que ir pra casa de novo!

We must get home! With heart and soul we yearn 
To find the long-lost pathway, and return!... 
The child's shout lifted from the questing band 
Of old folk, faring weary, hand in hand, 
But faces brightening, as if clouds at last 
Were showering sunshine on us as we passed. 
Temos que ir pra casa! De corpo e alma achar
Almejamos a trilha perdida há muito, e voltar!...
O grito infantil elevado da banda em jornada
Da turma antiga, exaustos, mas de mãos dadas,
Os rostos brilhando, como nuvens que finalmente
Chovessem raios de sol à nossa frente.

We must get home: It hurts so staying here, 
Where fond hearts must be wept out tear by tear, 
And where to wear wet lashes means, at best, 
When most our lack, the least our hope of rest-- 
When most our need of joy, the more our pain-- 
We must get home--we must get home again! 
Temos que ir pra casa: Dói tanto ficar aqui,
Onde os afetos são chorados lágrima a lágrima,
E onde a umidade nos cílios diz, quando não mais,
Quanto maior nossa falta, menor a esperança de paz----
Quanto maior nossa carência, mais fica doloroso----
Temos que ir pra casa----temos que ir pra casa de novo!

We must get home--home to the simple things-- 
The morning-glories twirling up the strings 
And bugling color, as they blared in blue- 
And-white o'er garden-gates we scampered through; 
The long grape-arbor, with its under-shade 
Blue as the green and purple overlaid. 
Temos que ir pra casa----casa das coisas mais simples----
As flores-sininhos girando suas cordinhas
E cores berrantes, a trombetear seus azuis-e-brancos
Sobre as cercas dos jardins que atravessamos;
O longo parreiral, com sua sombra embaixo
Azul feito o verde e o púrpura misturados.

We must get home: All is so quiet there: 
The touch of loving hands on brow and hair-- 
Dim rooms, wherein the sunshine is made mild-- 
The lost love of the mother and the child 
Restored in restful lullabies of rain,-- 
We must get home--we must get home again! 
Temos que ir pra casa: Tudo é tão tranquilo lá:
O toque de mãos amorosas em cabelos e testas----
Quartos sombrios, onde a luz solar amansa----
O amor perdido da mãe e da criança
Restaurados em tranquilos acalantos chuvosos,----
Temos que ir pra casa----temos que ir pra casa de novo!

The rows of sweetcorn and the China beans 
Beyond the lettuce-beds where, towering, leans 
The giant sunflower in barbaric pride 
Guarding the barn-door and the lane outside; 
The honeysuckles, midst the hollyhocks, 
That clamber almost to the martin-box. 
As fileiras de milho-verde e os feijões-da-China
Além da horta, onde, qual torre, inclina-se
O girassol gigante em seu orgulho de bárbaro
Vigiando a porta do celeiro e o caminho afora;
As madressilvas, em meio às malvas-rosas,
Que escalam até quase a caixa-toca.

We must get home, where, as we nod and drowse, 
Time humors us and tiptoes through the house, 
And loves us best when sleeping baby-wise, 
With dreams--not tear-drops--brimming our clenched eyes,-- 
Pure dreams that know nor taint nor earthly stain-- 
We must get home--we must get home again! 
Temos que ir pra casa, onde, ao acenar e cochilar,
O tempo nos anima e vai na ponta dos pés pela casa,
E mais nos ama quando dormimos feito pimpolhos,
Com sonhos----não lágrimas----transbordando pelos olhos,----
Puros sonhos sem manchas deste solo tão terroso----
Temos que ir pra casa----temos que ir pra casa de novo!

We must get home! The willow-whistle's call 
Trills crisp and liquid as the waterfall-- 
Mocking the trillers in the cherry-trees 
And making discord of such rhymes as these, 
That know nor lilt nor cadence but the birds 
First warbled--then all poets afterwards. 
Temos que ir pra casa! O apito de madeira chama
No tom nítido e líquido da cascata--
Zombando dos macucos nas cerejeiras
E causando discórdia com rimas como essas,
Sem sotaque nem cadência, porém as aves
Primeiro trinaram----aí todos os poetas vieram.

We must get home; and, unremembering there 
All gain of all ambition otherwhere, 
Rest--from the feverish victory, and the crown 
Of conquest whose waste glory weighs us down.-- 
Fame's fairest gifts we toss back with disdain-- 
We must get home--we must get home again! 
Temos que ir pra casa; e, deslembrados lá
De todo ganho de toda ambição noutro lugar,
Sossegar----da vitória febricitante, e da coroa
Da conquista cujo desperdício nos desacorçoa.----
Os dons da fama lançamos de volta, desdenhosos----
Temos que ir pra casa----temos que ir pra casa de novo!

We must get home again--we must--we must!-- 
(Our rainy faces pelted in the dust) 
Creep back from the vain quest through endless strife 
To find not anywhere in all of life 
A happier happiness than blest us then ... 
We must get home--we must get home again!
Temos que ir pra casa de novo----de qualquer maneira!----
(Nossos rostos chuvosos jogados na poeira)
Rastejar de volta da busca vã por essa luta infinita
Para não achar nalgum lugar em toda a vida
Felicidade mais feliz que a que já então nos abençoou...
Temos que ir pra casa----temos que ir pra casa de novo!

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terça-feira, agosto 02, 2016

O CAVALEIRO POBRE

Alexandre Sergueievitch Pushkin
(Moscou, 06/06/1799 — São Petersburgo, 10/02/1837)


Ninguém soube quem era o Cavaleiro Pobre
Que viveu solitário, e morreu sem falar:
Era simples e sóbrio, era valente e nobre,
                E pálido como o luar.

Antes de se entregar às fadigas da guerra.
Dizem que um dia viu qualquer coisa do céu:
E achou tudo vazio... e pareceu-lhe a terra
                Um vasto e inútil mausoléu.

Desde então, uma atroz devoradora dama
Calcinou-lhe o desejo, e o reduziu a pó.
E nunca mais o pobre olhou uma só dama,
                — Nem uma só! Nem uma só!

Conservou, desde então, a viseira abaixada:
E, fiel à Visão, e ao seu amor fiel,
Trazia uma inscrição de três letras, gravada
                A fogo e sangue no broquel.

Foi aos prélios da Fé. Na Palestina, quando,
No ardor do seu guerreiro e piedoso mister,
Cada filho da Cruz se batia, invocando
                Um nome caro de mulher,

Ele, rouco, brandindo o pique no ar, clamava:
“Lúmen coeli Regina!” e, ao clamor dessa voz,
Nas hostes dos incréus como uma tromba entrava,
                Irresistível e feroz.

Mil vezes sem morrer viu a morte de perto.
E negou-lhe o destino outra vida melhor:
Foi viver no deserto... E era imenso o deserto!
                Mas o seu sonho era maior!

E um dia, a se estorcer, aos saltos, desgrenhado,
Louco, velho, feroz, — naquela solidão
Morreu: — mudo, rilhando os dentes, devorado
                Pelo seu próprio coração.


Versão brasileira:
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
(Rio de Janeiro, 16/12/1865 — 28/12/1918)
...

quinta-feira, julho 21, 2016

UMA LIÇÃO DE VIDA

(com agradecimentos aos irmãos Caetano e Rogério Galindo)

Isso: num momento, somos o garoto
e contracenamos com Charles Chaplin.

Noutro, somos aquele sinistro tio careca
da família que pouca gente lembra qual era.


ijs
...

segunda-feira, julho 18, 2016

VOCÊ ME RES GATA

}à FFR{

A Lua está tão bela
e eu cansei de esperar
que a inspiração bata
ou arrombe a janela
e me traga esse olhar
que você me traz, gata:

por trás dessa retina
que eu desejo preencher
mora um cérebro belo
e uma luz cristalina
na qual vou me perder
mesmo usando um novelo.

E assim o poema acaba:
quando as últimas rimas
saem pra dar
um passeio.

ijr
__

terça-feira, julho 12, 2016

POEMA BLOGADO AO SAIR DO BANHO

(ao Sandro Moser, o Luiz Rebinski e o Marcio Renato dos Santos)

o poeta sem obra
se dobra, mas
tem energia de sobra

o poeta com obra
soçobra
na glória
salobra
de quem celebra a própria obra

ijs
...

sexta-feira, julho 08, 2016

Junho foi um mês sem postagem

e este mês já não promete muito movimento.
O tempo cada vez mais rápido-------------e lento.

ijs

quarta-feira, maio 18, 2016

PARA MIM OU PRA VOCÊ

(e — ou — também pro meu caro amigo Wagner Schadeck)

Não queira ser qual Dante neste doce
estilo novo e já mais velho e seco,
nem mais contemporâneo do que deco-
ração supérflua como se não fosse.
Na ponta do conselho não tem eco.
Você vai ver mudança sem ser posse:
sem pose nem xarope tira-tosse,
pitaco, piparote, peteleco.

No meio desta rua tem um beco.
No fim do beco tem outro começo
e outro soneto cujo molde engesso.
Quem veio até aqui pagou o preço,
porém não mereceu ver repeteco:
no mais, ficou com ordem e progresso.

_ijs_

sábado, abril 30, 2016

A HORA DO AMORNOSSO

(COMEMORANDO UM ANIVERSÁRIO)

de IJS a FFR

Melanfórico feliste,
entenimado achei o vazio:

nosso amor por mais que diste
e que por mais que a ninguém pediste

aqui está
e aqui estará:

sempre existiu.

*

segunda-feira, abril 04, 2016

ROUBARAM (AFANARAM) O TÚMULO DO SEM MISTÉRIO


*
Cada lado luta ―
peleja
por estar
"mais certo".

Porém
cada golpe aplicado
mostra que a briga

se restringe a conseguir
ser
ou não ser
mais errado que o adversário.

Ninguém
é um caso mais sério
do que o estúpido lá
do outro lado.

Ninguém mais certo
que um Cupido
escarrado.

Não adianta.


É anta

e sacripanta

pra

tudo

quanto

é

lado.


I J S
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sexta-feira, março 18, 2016

Atendendo a pedido do meu camarada Rodrigo Barros Homem Del Rei, aqui está um poema publicado hoje por Rodolfo Jaruga, e que simboliza minha participação direta na manifestação de hoje:


POR QUE MARCHAREI - 18 de Março de 2016

vou dizer agora por que hoje às 18 horas
vou levantar meus punhos
e entoar a minha voz

não defendo este governo, híbrido e bastardo,
que não é filho do povo
nem é pai do novo,
e que serve a dois senhores

não defendo os governantes e governantas
que fizeram muito e fizeram tantas
que enriqueceram bancos
como nunca dantes

mas

defendo e defenderei o estado
que somos todos nós
a lei
que é nosso algoz mas também
o nosso escudo
e esta justiça
que é uma velha cega e conservadora
mas é o que nós temos por agora

defendo e defenderei
o poder popular
os movimentos sociais
a resistência ao liberalismo
a resistência à destruição do estado
defendo e defenderei
a união da esquerda
a democratização dos meios de comunicação
a universalização da educação
o surgimento do novo

uma revolução política

e mesmo correndo o risco
de por tabela defender um governo caquético
de um partido caquético
de líderes caquéticos

e mesmo correndo o risco
de parecer ingênuo
não ficarei aqui de braços cruzados

vou levantar meus punhos
e entoar meu canto
em defesa da democracia,
esta deusa sem rosto,
em defesa de um estado,
que é o espelho de nós todos

vou sim à praça santos andrade,
na república popular de curitiba,
celebrar a festa da democracia
e resistir
resistir
e resistir

sem perder a ternura

Rodolfo Jaruga

sábado, março 05, 2016

ALMA FERIDA

(João da Cruz e Sousa)

Alma ferida pelas negras lanças
Da Desgraça, ferida do Destino,
Alma, de que a amargura tece o hino
Sombrio das cruéis desesperanças,

Não desças, Alma feita das heranças
Da Dor, não desças do teu céu divino.
Cintila como o espelho cristalino
Das sagradas, serenas esperanças.

Mesmo na Dor espera com clemência
E sobe à sideral resplandecência,
Longe de um mundo que só tem peçonha.

Das ruínas de tudo ergue-te pura
E eternamente, na suprema altura,
Suspira, sofre, cisma, sente, sonha!

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quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Ou antes: por que eu seria pior (ou melhor) tradutor que Fernando Pessoa (ou quem mais chegar)?

*
ÚLTIMA ROSA ESTIVAL

Última rosa estival
Sozinha desabrocha;
As amáveis colegas
Jazem qual rocha;
Nenhuma outra rosa
Sequer em botão
Reflete o rubor,
Rebate o rumor.

Não te largo, rara!
No caule, de vela;
Se as amáveis dormem
Vai! Dorme com elas.
Gentil já disperso
As folhas na cama
Onde as coleguinhas
Jazem sem aroma.

Possa eu te seguir
Se amizades sequem
E do anel do Amor
As gemas despenquem.
Se os peitos pulsantes
De todas se forem,
Alguém viveria
Num mundo sem flores?


Thomas Moore (1779 - 1852)
Ivan Justen Santana (1973 - )

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quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Por que Fernando Pessoa é melhor (pior) tradutor que eu.

*
A ÚLTIMA ROSA DO VERÃO

É a última rosa
Do verão, sozinha;
Nenhuma outra resta
Formosa e vizinha,
Nenhuma irmã sua
Ou botão de rosa
Responde aos suspiros
Que exala, formosa.

Não quero deixar-te
Sozinha a florir:
Tuas irmãs dormem,
Vai também dormir.
Por isso eis que espalho
Tuas folhas no chão,
Onde as irmãs tuas
Já mortas estão.

Tão breve eu vá quando
Os que amo fugirem,
E do anel do amor
As joias caírem.
Caídos os que ama
No sono profundo,
Quem habitaria
Sozinho este mundo?

Tradução: Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13/06/1888 – 30/11/1935)

Colo abaixo a versão brasileira que fiz (foi postada aqui em 19/02/2011), deste poema

'TIS THE LAST ROSE OF SUMMER
de Thomas Moore (Dublin, 28/05/1779 – Wiltshire (UK), 25/02/1852)

A ÚLTIMA ROSA DO VERÃO

Eis a última rosa do verão
Deixada a desabrochar sozinha;
Todas suas adoráveis amigas
Feneceram no fim da estação;
Pétala alguma da sua espécie,
Botão nenhum a brotar por perto
Reflete o rubro que lhe aparece,
Repete ao suspiro o rumor certo.

“Eu não deixarei você sozinha
Secando em caule sem mais ninguém;
Co’as adoráveis adormecidas
Você já pode ir dormir também.”
Então gentil eu disperso assim
Pétalas rubras na cama morna
Onde as amigas lá do jardim
Jazem já mortas e sem aroma.

Tão logo eu possa, sigo seu rastro,
Quando amizades forem ao chão;
Do anel brilhante do Amor tão vasto
Os diamantes também se vão.
Quando murchar o peito distante
E seu dileto também se for,
Quem vai restar, último habitante
De um mundo escuro e desolador?
__
'TIS THE LAST ROSE OF SUMMER

'Tis the last rose of summer,
 Left blooming alone;
 All her lovely companions
 Are faded and gone;
 No flower of her kindred,
 No rosebud is nigh,
 To reflect back her blushes,
 Or give sigh for sigh.

I'll not leave thee, thou lone one!
 To pine on the stem;
 Since the lovely are sleeping,
 Go, sleep thou with them.
 Thus kindly I scatter,
 Thy leaves o'er the bed,
 Where thy mates of the Garden
 Lie scentless and dead.

So soon may I follow,
 When friendships decay,
 And from Love's shining circle
 The gems drop away.
 When true hearts lie withered,
 And fond ones are flown,
 Oh! who would inhabit
 This bleak world alone?

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terça-feira, fevereiro 09, 2016

MADRUGADA, NOVE DE FEVEREIRO

}de ijs a ffr{


Sem você

é tudo triste

e a alegria

até existe

porque surge

vez em quando

só pra me dizer:

calma! ela já volta

e eu fico assim

só na paquera

dela (você) mesma

só tentando só

mantê-la solta

em si consigo

juntos nós.



Nós sem nada

que a paixão

não morda:

górdios

nesta besta fera

desta festa flora

deste amor pantera

desta terça-feira

gorda.

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quarta-feira, fevereiro 03, 2016

BI OGRA FIA

*
Minha voz
não é minha voz.

Vós
sois quem tem uma voz
(se nem sempre avós)
e sabeis dos pronomes
e das conjugações.

eu
a gente
nós

não sei
não sabe
não sabemos

se
quer
ar
ti
cu
lar
sons

trons
ou



os
bons

tons

:

que dirá escrever poesia

que dirá publicar minha
ou da gente
ou nossa

bi
ogra
fia

.

ijs
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quarta-feira, janeiro 13, 2016

MINHA MORTE

(Canção original francesa: Jacques Brel
Versão inglesa: David Bowie
Versão brasileira: Ivan Justen Santana)

Minha morte espera como um velho canalha
Tão confiante de que vou segui-lo
Assobie a ele
E ao tempo que passa

Minha morte espera como uma bíblica verdade
No funeral da minha juventude
Bebíamos a isso
Ao tempo que passa

Minha morte espera como
Uma bruxa na noite
Tão seguramente quanto nosso amor brilhante
Não vamos pensar nisso nem no tempo que passa

Mas o que quer que esteja atrás da porta
Não há muito o que fazer
Anjo ou demônio, eu não me importo
Pois em frente a essa porta
Está você

Minha morte espera como um mendigo cego
Que vê o mundo por uma mente apagada
Jogue-lhe uma moeda
Pelo tempo que passa

Minha morte espera ali entre suas coxas
Seus dedos frios vão fechar meus olhos
Vamos pensar a respeito
E no tempo que passa

Minha morte espera para dar a meus amigos
Alguns bons momentos
Antes do fim
Então bebamos a isso
E ao tempo que passa

Mas o que quer que esteja atrás da porta
Não há muito o que fazer
Anjo ou demônio, eu não me importo
Pois em frente a essa porta
Está você

Minha morte espera lá entre as folhas
Em misteriosas mangas de mágicos
Em coelhos e cães
E no tempo que passa

Minha morte espera lá entre as flores
Onde a sombra mais escura se escondem
Então vamos colher lilases
Pelo tempo que passa

Minha morte espera lá numa cama de casal
Naus de oblívio em meu cérebro vagal
Então puxe os lençóis
Contra o tempo que passa

Mas o que quer que esteja atrás da porta
Não há muito o que fazer
Anjo ou demônio, eu não me importo
Pois em frente a essa porta
Está você
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terça-feira, janeiro 12, 2016

O HOMEM QUE VENDEU O MUNDO

(David Bowie. versão brasileira: Ivan Justen Santana)

Passamos pela escadaria
Falamos do quando e do antigo
Apesar de eu não estar ali
Ele disse que eu era seu amigo
O que foi algo meio insólito
Falei pra dentro dos seus olhos:
"Achava que você morreu só (e em paz)
Há muito, muito tempo atrás"

"Ah, não, eu não
Nunca perdi o controle
(Nem por um segundo)
Você está cara a cara
Com o homem que vendeu o mundo"

Gargalhei e apertei sua mão
E tomei o rumo de casa
Busquei terra e formação
Vaguei anos e anos pela estrada
Contemplei contemplativo olhar
Aos milhões que estavam lá
"Devemos ter morrido sós (e em paz)
Há muito, muito tempo atrás"

"Quem sabe? Eu não
Nunca perdemos o controle
(Nem por um segundo)
Vocês estão cara a cara
Com o homem que vendeu o mundo"
...


segunda-feira, janeiro 11, 2016

TEMPO

(David Bowie. versão brasileira: Ivan Justen Santana)

O tempo abre as asas sobre nós
Falando asneiras com sua estranha voz
Eu e você estamos no script dos minutos
O tempo se contorce como um puto
Cai e se esparrama pela sala
Nós somos sua trapaça
O tempo está nas agulhas e goles
Exigindo David Bowies
E outros ídolos da juventude
Não se engane, o tempo ilude

Ele mira sua cabeça
Regurgita a sua sujeira
É incestuoso e frívolo
E possui muitos outros títulos
Eu vejo a hora: nove e vinte e cinco
Penso "meu deus, ainda estou vivo"
Todos os sonhos foram embora
Nós devíamos existir agora

Você não é uma vítima
Você só está chateado e grita
Mas o tempo você nunca evita
Diabos, você parece um carro usado
Vai congelar e pegar um resfriado
Não tratou bem da sua saúde
Não se engane, o tempo ilude

Subir na vida é duro
Mas é pior ficar no escuro
Tive muitos sonhos
Colapsos medonhos
Mas você foi minha fada madrinha
Que o amor deixou desolada e sozinha
Talvez você esteja sorrindo por trás da dor
Mas tudo que eu posso lhe dar
É a culpa de ser um sonhador
Todos os sonhos foram embora
Nós devíamos existir agora

...