terça-feira, agosto 02, 2016

O CAVALEIRO POBRE

Alexandre Sergueievitch Pushkin
(Moscou, 06/06/1799 — São Petersburgo, 10/02/1837)


Ninguém soube quem era o Cavaleiro Pobre
Que viveu solitário, e morreu sem falar:
Era simples e sóbrio, era valente e nobre,
                E pálido como o luar.

Antes de se entregar às fadigas da guerra.
Dizem que um dia viu qualquer coisa do céu:
E achou tudo vazio... e pareceu-lhe a terra
                Um vasto e inútil mausoléu.

Desde então, uma atroz devoradora dama
Calcinou-lhe o desejo, e o reduziu a pó.
E nunca mais o pobre olhou uma só dama,
                — Nem uma só! Nem uma só!

Conservou, desde então, a viseira abaixada:
E, fiel à Visão, e ao seu amor fiel,
Trazia uma inscrição de três letras, gravada
                A fogo e sangue no broquel.

Foi aos prélios da Fé. Na Palestina, quando,
No ardor do seu guerreiro e piedoso mister,
Cada filho da Cruz se batia, invocando
                Um nome caro de mulher,

Ele, rouco, brandindo o pique no ar, clamava:
“Lúmen coeli Regina!” e, ao clamor dessa voz,
Nas hostes dos incréus como uma tromba entrava,
                Irresistível e feroz.

Mil vezes sem morrer viu a morte de perto.
E negou-lhe o destino outra vida melhor:
Foi viver no deserto... E era imenso o deserto!
                Mas o seu sonho era maior!

E um dia, a se estorcer, aos saltos, desgrenhado,
Louco, velho, feroz, — naquela solidão
Morreu: — mudo, rilhando os dentes, devorado
                Pelo seu próprio coração.


Versão brasileira:
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac
(Rio de Janeiro, 16/12/1865 — 28/12/1918)
...

Nenhum comentário: