Os dois sentados ali na praça
Enquanto a tarde virava fumaça
Ela o olhou e ele sentiu uma brasa tisnar seus ossos
Sentiu solidão até o pescoço e desejou ter detido o tino
E ficou atento a uma mera ironia do destino
Andaram ao longo do velho canal
Meio confusos, se não lembro mal
Pararam naquele estranho hotel com o neon de brilho forte
Ele sentiu no calor da noite um impacto de trem sobrevindo
Passando como uma mera ironia do destino
Um saxofone ao longe soprava
Enquanto ela andava pelas arcadas
Enquanto a luz furava a sombra onde ele estava semidesperto
Ela pingou uma moeda no caneco de um cego quase dormindo
E passou esquecida por uma mera ironia do destino
Ele acordou, o quarto vazio
Não viu a direção em que ela saiu
Mas decidiu que seria frio, e escancarou as persianas
Sentiu uma angústia desumana, como um bilhete não escrito
Trazido por uma mera ironia do destino
Ele ouve os tique-taques dos minutos
E anda com um papagaio quase mudo
À caça dela nos becos vagabundos aonde os marinheiros vão
Talvez ela volte a ele então – até quando esperar sorrindo
Outra vez por uma mera ironia do destino
As pessoas me dizem que é pecado
Saber o sentimento encalacrado
Ainda creio, ela é meu fado, mas perdi as alianças
Ela nasceu e cresceu criança, e eu não envelheci menino
Tudo culpa de uma mera ironia do destino
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