segunda-feira, agosto 31, 2009

DÍSTICOS ENSIMÍSTICOS (ou PORQUE HOJE É MAIS UMA MANHÃ DE SEGUNDA...)

Porque hoje é mais uma manhã de segunda
atiro mais um poema que não boia nem afunda

neste blog blaguejante – e com isso me permito
mais um neologismo meio feio e bem bonito.

Desoxirribonucleicamente hipomaníaco,
estribo-me na borboleta do teu osso ilíaco,

ó musa que me averiguou num verão passado:
ainda me averiguas, nua, como temos passado...

Sim, minha linguagem segue sendo hermeticazinha
e talvez eu seja mesmo um piá brincando de casinha,

simplesmente um sapato semivelho – mas ainda sirvo
pra fazer outra rima acabar em livro. Antes de ir, vo-

cês podem comentar aqui na caixa de comentários
e infeccionar mais a blogosfera com vírus vários –

clamem, reclamem e trocem: suas troças me soltam
a macaqueá-las com meus macaquinhos no sótão.

Estar ou não estar – é isto que está em questão:
por que esta dúvida estarrecerá – e outras não?

Afinal, largo ao elíptico e elusivo leitor uns sinais
na tentativa vã de ivan em versos verbivocovisuais:

agora você vê, agora você não V – seja feliz
nos ângulos dos eNes e nos pingos dos Is –

leiafaleveja o que há no vértice desse ralo A
– basta olhar o nada nessa letra e decifra-lo-á.

sábado, agosto 22, 2009

"Quando você nasceu, caiu numa tina de sextinas..."

Doutor nenhum usou tesoura pra este corte
que repartiu meu ser assimétrico assim
e ao satírico pã que sobrou meio à parte
deu flauta de bambu. Nunca flauteei-a bem,
pois sua escala em si define um universo
desmesuradamente infinitesimal.

Lamento muito e sei: não vão achar normal
que eu me remonte ao tom da sextina e recorte
cada cesura – triz! –, cada fatia-verso,
e lance mão de sons – flup! – sem sentido assim,
e gagueje de pró-propósito... Também
ninguém mandou vocês aqui buscarem arte.

Isso que eu faço assim se faz por toda parte
nos reinos mineral, vegetal e animal:
mera reprodução, espelhamento bem
simplório, sim, pois não! Então tome outro corte
no seu bedelhozinho expectativo sim-
ples de grande leitor e masque mais um verso,

um corpo que não cai, um romance ao reverso,
uma rua sem mão, sem cardápio à la carte,
descendo muito mal porque se desse assim
essa semifração decimal desse mal
pra todo mundo não teria mais um corte
bem na cena final pra acabar tudo bem.

Gostei das locuções: mais umas caem bem:
uns loucos sem sessões, outrossins noutro verso,
as rimas sem seus sons, e novamente um corte
pra algo completamente indiferente e à parte:
um Thor de força atroz, um Lóki não-do-mal,
um filho de Odin que faça do não sim

feito aquele versinho assim: não, não, não, sim.
Tá: agora abusei, mas se não fui tão bem,
não fui lá tão – latão? – é, latão: lá tão mal...
Eu só tentei fazer uma sextina verso
a verso, pra ver só como é versar destarte
sem nem tema de amor nem qualquer – mais um corte!

Enfim reverto sim à velha volta ao verso,
desculpo-me a meu bem, que a vida é parca em arte,
e acho esse final mau mas pronto pra outro corte.

domingo, agosto 16, 2009

DIGA SIM OU NÃO: SIM OU NÃO

Não. Um bom versinho não se faz
com pouco risco e menos traço.
Seria melhor deixá-los em paz.

Não agir.
Não traduzir.
Não fazer o que ainda faço.


Mis pasos en esta calle
Resuenan
_________En otra calle
Donde
______Oigo mis pasos
Pasar en esta calle
Donde
Sólo es real la niebla.

________OCTAVIO PAZ
(apud Julio Cortázar,

Rayuela, capítulo 149)


Meus passos nesta praça
Ressoam
________Noutra praça
Onde
_____Ouço meus passos
Passar nesta praça
Onde
Só é real a névoa.

________OCTAVIO PAZ
(Versão brasileira:

Ivan Justen Santana)

Por que trocar calle por praça?
Porque poesia é assim:
numa língua vai de skate,
noutra, de patim...

Sim. Poesia se faz
arriscando-se o pescoço no laço
sem deixar verso algum descansar em paz!

Traduzo sem fuso
e cometendo abuso
com nossa última flor do lácio
a qual classificar-se-ia de fóssil
ou de animalzinho dócil
se ela fosse fêmea fácil.

terça-feira, agosto 11, 2009

CEMITÉRIO AÉREO

O olho que escorreu da minha testa
(é favor escandir o hiato: o – olho)
com gesto de quem morre e não protesta
sim sim este olho que desfez-se em molho
foi o rio rubro mais feliz de mim,
melhor que sensação de não-mereço,
maior que a rima alargada no fim,
mais sim que frase de amor no começo.

Foi com tal olho que perdi o contato
duma verdade a qual não foi tão tarde:
aquela mais-verdade do retrato
do artista quando jovem cão covarde
que não viaja numa noite fria
depois do cerco de quarenta invernos,
mas que requenta sim a poesia
e sim repete-a aos quintos dos infernos.

Naquela não-pupila eu fui desejo
de amordaçar a primeira pessoa
e fundir tudo em tudo – ser que almejo
quando o gongo do último assalto soa
por fora da ilusão do tempo-espaço
e o mundo bolha explode sem registro
sem som sem tom sem cor sem descompasso
num assombroso silêncio sinistro.

Junto com o olho foi qualquer suspeita
de que eu cifrasse em versos simples isto
numa levada em que tudo se ajeita
e não sobra a má impressão que despisto.

Assim, exausto de usar tantos ques
os quais nem deixam um quê de mistério,
desovo outro corpo morto a vocês,
meus caros hóspedes dum cemitério aéreo.

sexta-feira, agosto 07, 2009

Curitiba, 07 de agosto de 2009

Hoje é dia 07/08/09.

Você queria chamar isso de Dia Ivânico.

O primeiro Dia Ivânico deste milênio foi 01/02/03.

No ano seguinte, foi obviamente o 02/03/04.

Nestes primeiros dias ivânicos,
você não tinha plena consciência da historicidade dessas datas,
pois você estava na pré-história da sua loucura.

No dia 03/04/05, você talvez nem fosse mais você mesmo,
uma dúvida que permanece até o dia de hoje.

Em 04/05/06, a sua confiança dava sinais de recuperação,
e quem sabe uma pálida sombra daquela
sua personalidade anterior ao início dos tempos ivânicos
voltava a mostrar seus reflexos nas suas desfiguradas feições.

Em 2007, o dia 05/06 viu você passar e quis
(mas não conseguiu)
gritar-lhe:
"Ivan! Atenção: sua vida está passando
e este é o quinto Dia Ivânico do resto de todos os tempos!".

Já no ano passado, em 06/07/08,
você devia estar começando a compreender a importância
de tantos eventos significativos na sua vidinha:
a época pré-consciente dava sinais de seu fim.

Hoje, você gostaria de não ter viajado em tantas considerações
totalmente supérfluas,
queria ter feito um texto em prosa sobre tudo que acha importante,
as coisas, pessoas, ideias que ultimamente têm se revolvido
no terreno baldio do seu cérebro,
mas tudo acabou ficando por isso mesmo.

Preste atenção, Ivan:
só restam mais quatro dias ivânicos na história do universo,
e algum dia desses você vai se ver forçado a articular
tudo que poderia ter escrito nestes últimos seis anos...