sábado, julho 31, 2004

Aos poucos gostos duvidosos que seguem me lendo

COPROFILIA ENIGMÁTICA

Sempre que me oriento pra dar a descarga
ideogramas me seduzem lá no fundo:
a diarréia que não tive quase desce,
mas o trôço confuso e convoluto
não me esquece, não me larga sem luto.

Luto por admitir a perfeição metafísica
que há naquelas fezes enroladas
e o rolo semi-vazio ao lado da privada
me instiga a lavar mãos de Pilatos,
pois me ponho irresponsável por meus atos.

Quinze vezes, quinze versos, quinze
bundas redondamente redondinhas
diminuiriam a sensação de desperdício,
o vício de roubar quarenta latrinas
e decifrar mil e uma bostas cristalinas.

quarta-feira, julho 28, 2004

O menor poema da minha existência

Hesitei entre esta postagem e outra mais carne crua,
que vai ficar pra próxima,
só para efeito de suspense...

Enquanto isso, em Gotham City, aqui está a miniatura:

CONCISÃO
 
eu com cisão

domingo, julho 25, 2004

A uma gata, com amor

Assim bem ridícula mesmo
minha homenagem
para a linda Taninha
que nem vai dar por isso...

Como sou péssimo poeta
copiei uns versos de canção
para você, meu bem:

 
BOLERO

Sinto o mais distante porque o mais distante é o melhor p´ra mim
Vejo belas nuvens tão belas nuvens me carregam enfim
A vez que penso é a vez que choro
Por alguém bem mais distante
Que não vejo entre meus lençóis
Estive quase quase por lembrar
De um passado quando eu te via
Entre minhas mãos estávamos tão sós
P´ra ser feliz melhor deitar e desaparecer
Dessa cidade-fantasma em que o mais difícil sempre é te esquecer
Viver é só uma questão de dias
Entre seus lábios e milhões de vícios
Sobre a cabeça um sonho tão lindo
Sobre as bandeiras de tantos países
Meu caminho algo mesmo assim
Quando sonho tremo só por acordar
Sou feliz se esqueço a grande alegria de estar com você
Sou alguém que foge antes que o mundo possa me entender
Estou entre o cowboy e o que perdia
Estou feliz por quem já não existe
Não sei não não estou aqui
Não sei não algo estava na minha cabeça


(reeditando a postagem
tento remendar essa "traquinagem"
informando que essa letra de canção
é dos meus idolatrados Picassos Falsos,
mais precisamente de Humberto Effe.
Ufa, os federais já estavam quase na minha cola.)

sábado, julho 24, 2004

grinfando a onda

*
Tigre (grinfado* de William Blake)
 

tigre! tigre! bêbado biltre
nos botecos de mau alvitre:
que imortal garrafa vai
revelar-te a arte de ser pai?

em quais longínquos cafundós
cantaste as tuas notas a sós?
com que asas tua alma ascendeu
do fogo que lambeu jezebel?

e qual belzebu e qual urubu
transtornaram-te em Sampa um sampaku?
e quando teu sul trilou em ré
quem desculpou? quem foi? quem é?

que neurônio? ou qual martelo?
martelaram teu cérebro belo?
qual é o joio? e quanto trigo
gasta este grotesco triste amigo?

quando o mar cansou das ondas
e veio molhar as muitas bundas
alguma sorriu de me ver aqui?
posso? ou a tigresa é só pra ti?

tigre! tigre! bêbado biltre
nas bodegas de mau alvitre:
que imortal dosagem vai
revelar-te a arte de ser pai?


 
* grinfo: trapaça, golpe, embuste (assim como essa palavra e definição).

quarta-feira, julho 21, 2004

Cutucando de longe como sempre

 
BRINCANDO PERTO DA JAULA
 
O silêncio da pantera é denso,
é feito o silêncio do suspense,
o efeito dos filmes de tensão:
feito Sob o Domínio do Medo,
de Sam Peckinpah.
 
O silêncio da pantera é suave,
sim, quem há de negar a verdade:
desejamos ver a pantera,
tocar sua negra beleza,
quem sabe mesmo levá-la pra casa. 

O silêncio da pantera seduz,
até que se rompe
num rosnado selvagem:
o pavor toma conta
e só nos resta desejar paz.

O silêncio da pantera é a paz.

 

terça-feira, julho 20, 2004

Mais um soneto fingindo que não é soneto

Muito bem,
como o poema sobre o Marcos teve repercussão,
postarei alguns frutos
dessa velha parceria (12 anos)
até os dias de hoje pouco conhecida:

Instruções para morrer bem no elevador

Quando abrir a porta tenha certeza
de que o elevador está ali mesmo.
Será precipitado um passo a esmo
e morrer bem requer mais sutileza.
 
Entre sabendo o plano de cabeça.
Chame qualquer andar além do décimo.
O cabo de aço deve estar em péssimo
estado, rangendo bem. Não esqueça
 
que você é feito de água, em carne e osso.
Em queda livre, ainda que sua massa erre o
peso máximo, cai igual a um trôço.
 
Não tenha medo de que o impacto ferre-o:
não há nenhum andar além do poço:
com a mola você volta alegre ao térreo.

 
Ivan Justen Santana
 
(com o auxílio, a aprovação, a parceria
e o vá-te-catar de Marcos Prado de Oliveira)

Triste a escutar pancada por pancada

Frio e chuva massacram o corpo por fora.
 
Angústia do irreversível e solitude
completam o serviço por dentro.
 
Eu queria falar de diálogo,
mas parece que só os mudos me ouvem.
 
Então (de novo) mais um poema
explícito, simples, falso como tudo mais.
 
Bom apetite:
 
A ARTE DA PERDA
 
(sugado de Elizabeth Bishop)

Perdi até o que eu já nem tinha: 
uma menininha que brinca sozinha. 

Perdi coisas que já nem são:
coisas que nem vem nem vão. 

No vão das perdas, o que se acha
é uma caixa dentro de outra caixa
dentro de outra caixa. 

Perco sempre, até de mim, sempre
perco como quem perde eternamente. 

A derrota na vida, minha querida,
sobra até para quem deixa a bebida,

o cigarro, o amor, a raiva e a culpa:
será que perder tem alguma desculpa? 

Eu já nem sei quanto mais perderei
nem se bem sei o que esqueci de rimar: 

perdido, tropeçando no tombadilho
do navio de loucos onde me soltaram,
tocando o céu e bebendo o mar,
só sei que nunca deixarei de amar.

domingo, julho 18, 2004

O ESCRITOR E O ESCREVINHADOR

 
No limbo claro-escuro da poesia
topo com o poeta Marcos Prado
que me estende a mão já fria
cujo aperto evito, desavisado.
 
– Você, pelo jeito, ainda com a mania
de botar em verso tudo que é besteira!
– Mas se foi você quem me pôs nessa fria
meu caro Marcos Prado de Oliveira!
 
– Naquele tempo a gente traduzia
feito riscar de novo pinturas rupestres.
– Mas decassílabos também produzia
nossa dupla de dois pretensos mestres.
 
A troca de farpas prosseguiria
não fosse a tosse santa e o sacro escarro:
sinais de fim de papo e mais poesia –
voltei à poeira e ele, ao barro.

sábado, julho 17, 2004

um, dois, três: surto!

surto site meter:
quem foi se meter no seu site?
 
daybyday&nightbynight..........
 
e ontem?:
 
ninguém.
 
então surtei.

Blogo você de coração

Quase postei sobre o batismo
do meu violão (surtado tem disso:
chama-se arco & flecha) ,
pensei até em voltar a tocar
mas melhor não:
resolvi por fim postar
para a minha cunhã Léia:
 
Leinha, você não está online,
então eu vou fazer um poema
em sua homenagem: vai se chamar
Homenagem do Ivan para a Léia
(Claudinéia Augusto(a)? Leite):
 
*pega o violão, toca e canta
debaixo da janela de Léia,
acordando a vizinhança*
 
Enquanto Léia me lia
havia algo de magia,
mas não diria uma palavra:
ela teria muitas reticências
pro meu pobre abracadabra.

sexta-feira, julho 16, 2004

Lugar comum

O título já é lugar comum,
batizando uma canção de Gilberto Gil e João Donato.
 
Este é um texto comum,
digitado por dedos comuns.
 
O poema a seguir é medíocre
e aconselhável pra quem não gosta de emoções inéditas.
 

CHÔRO UM DOIS TRÊS QUATRO
 
Chove lá fora e aqui faz tanto frio.
Minha alegria sumiu.

Tenho andado vencido e distraído,
freqüentando os mesmos lugares:
minha alegria sumiu.

Um dia vi que apenas triste
conseguiam gostar de mim:
feliz, eu era insuportável.
Minha alegria sumiu.

Hoje, triste, continuo
afastando as companhias.
E já não posso mais testar
o efeito de sorrir e cantar:
minha alegria sumiu de vez.

quinta-feira, julho 15, 2004

A pior quinta-feira da minha história

Estou prevendo tudo:
caso aconteça o pior,
pelo menos terei
deixado o meu melhor
e o meu pior.

Então (minha vida
de escriba tem sido
usar um "Então")
aqui estão
o que suponho
serem o meu melhor
e o meu pior poema,
ironicamente,
em ordem reversa.


UMA FÉ SE FEZ

Quando a minha boa caneta surrada
ficou com pena de ver um teclado,
o inconformismo de todo o nada,
vida, amor, tudo foi desqualificado.

A atitude de árvore me acresceu raízes
e a vida quadrada fez-se adimensional.
As palavras partiram tal trupe de atrizes
e quase tive um parto pelo próprio pau.

Ninguém, nem mesmo outra pessoa só,
estava pra ver que eu já era duas duplas:
a sombra do sol se enroscou num nó
e só se desfez em imagens dúbias.

Os objetos estão a ensinar os sujeitos
que as objetas às vezes não estão sujeitas.
Pronominalmente perfeitos ou imperfeitos
descubro diálogos às esquerdas e às direitas.

Em suma, some, pois o sumo some na soma
sem condução ou cálculo remissível.
Este poema é para que você o coma,
sem saber ao certo se a missão é possível.


Blargh! Será esse o pior
(quem sabe um dos muitos "piores"...)?

Contra isso,
somente um ovilhejo perfeito:


SERVINDO A CERVANTES

Contra o verso redundante,
Dante.
Contra tantos versos crus,
Cruz.
Num poema que não se ousa,
e Sousa.

Contra carvão, diamante.
Contra a rima que repousa.
Ao tom ruim, o elegante
tom de Dante e Cruz e Sousa.

quarta-feira, julho 14, 2004

Liberdade e Rapinagem

Hoje é aniversário da Revolução Francesa.

Quem acha que não tem nada com isso
revela muita ignorância, e eu
tenho flagrado a minha própria
quase todo dia.

Então fiquem a história e a cultura
e a merveilleuse poesie française
com toda a sua falta de higiene
pra depois, e voltemos pro Brasil:

oba, aqui o crime ainda compensa,
então vamos rapinar um poema
dum poeta amigo (sacanear desconhecidos
é muito menos divertido).

Aí vai, finjam que fui eu que fiz:


Todo durão é frio,
com o coração de gelo.
Mas basta uma vil
de sangue quente
e coração ardente
para derretê-lo.

terça-feira, julho 13, 2004

Recebendo uma boa nova

Muito bem:
antes fosse uma mulher
nova e boa,
(recebe-la-ia assim, cordial)
mas de qualquer jeito
me fez bem
a boa notícia
que só pesquei
não faz mais
que duas horas:

os Picassos Falsos
estão de volta,
já há algum tempo.

Mais informações ali:

www.picassosfalsos.com.br

Interessante como a trajetória dessa banda
coincide com meu interesse pelo rock brasileiro.

Ascensão e apogeu nos anos oitenta,
a década de noventa passou quase em brancas,
e agora que voltei meus ouvidos
para nossa linda sonzeira curitibana
(Mordida, Criaturas, RoberSoulTheValsa,
Gato Preto, Maremotos, entre outras)
vem esse pessoal carioca novamente incomodar:

eles são ruins de bons, entendem?

Pelo menos pra mim, que curto o choque
de arte que não tem medo de soar ingênua
e assim soa forte:

"Sinto o mais distante
que o mais distante
é o melhor pra mim

"Vejo belas nuvens
tão belas nuvens
me carregam enfim

"A vez que penso
é a vez que choro
por alguém bem mais distante

"Que não vejo entre meus lençóis
estive quase, quase por lembrar
de um passado quando eu te via
entre minhas mãos, estávamos tão sós"

(...)

(trecho de letra de canção do disco
Supercarioca, de 1988)

Bom, meu nome rima com fã,
então quando eu gosto, babo mesmo.

Em homenagem bairrista,
vou experimentar digitar
mais um poema impromptu
(ninguém acreditará que
o soneto da postagem anterior
foi feito de improviso,
mas foi):

AS CRIATURAS MORDIDAS

Elas chegaram ignorando noite e dia.
Estavam perturbadas pela própria sabedoria:
sabiam que sabiam o que mais ninguém sabia,
um conhecimento que ninguém escolheria.

Elas chegaram para o autor desta poesia,
sugaram toda a sua carcaça de alegria,
acabaram com suas rimas
e sumiram.

segunda-feira, julho 12, 2004

Pesadelos Marítimos (um prelúdio sem seqüência)

Meus amores moram à beira-mar:
algumas em ilhas, outras em prédios.
Algumas, quase impossíveis de amar,
outras, longínquas vilas dos remédios.

Meu barco vai com água pelos joelhos,
tubarões rondam afiando as mandíbulas:
escrevo só pra meter meus bedelhos
em alheias cartas de amor ridículas.

Uma cegonha faz meu serviço postal:
ela e um pelicano dormem juntos há anos
mas nunca conseguiram constituir família.

Ondas varreram meu senso de bem e mal.
Isto virou soneto só graças a enganos.
Trocaria meu blog deserto por uma ilha.

domingo, julho 11, 2004

Mordida

Baby eu só queria um beijo seu
só eu
somente meu...

perdi o sábado e a alegria

volto a postar no meu blog vazio

letra de música é poesia

quem me feriu ainda mais se feriu.


Não. Sério. Agora a prosa.

Eu amo a banda Mordida
ela é minha preferida
uma banda da minha vida
cabulosa e divertida

Não consigo falar da Mordida em prosa
porque o envolvimento emocional
é poético: arte apaixona,
o público delira, grita

Aí também tem os Criaturas,
que mandam muito bem,
chefiados pela versátil Xanda...

Meu coração é loteado e cresce
para abrigar mais gente,
e a solitude ao menos me traz paz.

Mordida toca hoje em Antonina
e eu não vou poder ir ver...

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
lalala

foi mal

sexta-feira, julho 09, 2004

Dia do grude

Sexta-feira é o dia em que as pessoas grudam umas nas outras.

Em homenagem, vou recortar do meu caderno de criança
e colar aqui um poema sobre uma aranha,
bicho que tem grude na ponta das patas.

Amanhã mais aranhas neste blog já cheio de teias delas...


CRIATURA QUE ME ATURA

Uma aranha vermelha
nasceu na minha orelha.

Era pra ser uma aranha marrom
mas resolveu sozinha mudar de tom.

Ela nem sabia que me envenenaria
pois quis ser uma simples aracnídea
mais bela e rara que uma orquídea.

Cresceu passeando toda prosa,
chegando ao cúmulo da poesia:
se amigou com a rosa perfumada
mais rosada que havia,
descobriu muitas irmãzinhas
e quis ficar pra titia.

Eu hoje já não sei quantas aranhas são
mas aquela aranha vermelhinha
ainda mora no meu coração.

quinta-feira, julho 08, 2004

Cumprimentos, compromissos, sempremissas...

Hoje meu amigo Chico Cardoso lança seu livro,
ÁRVORES DE CURITIBA,
na Biblioteca Pública do Paraná.
Faz frio e chuva em Curitiba:
só os amigos e interessados mesmo estarão lá.

O livro é excelente,
apesar dos senões que o autor venha a fazer.

Abaixo vai um poema que escrevemos
eu e o chico,
uma parceria que ainda deve render.


quantos isqueiros já perdi na vida?
quantas mulheres ficaram na hora da saída?

foi minha vida que mudou de mundo
ou foi o rumo que perdeu o prumo?

não sei

ainda não foram postas as respostas
e até as perguntas já me deram as costas

falar e fazer

Se tudo der certo,
o trocinho que mede visitas
será instalado agora.

Postarei um poema de tarde.
Aguardem, fantasmas...

quarta-feira, julho 07, 2004

Oito patas felinas

*revisado domingo, 10 de julho*

Não sei quase nada.
Não sei se muita gente está me lendo,
parece que não: ninguém comenta.
Vou instalar um gueri-guéri chamado counter
(mede quem me visita, não necessariamente quem lê),
mas ainda não sei direito como,
ou melhor, até sei, mas agora estou com preguiça.

*bocejo*

Esta vai ser uma postagem longa:
vou começar do início:
no início eu queria só visitar o blog da
minha linda amiga:


aí quis comentar e acabei fazendo este troço.

Mas, em homenagem a ela,
nesta oitava postagem
(celebrando nosso aniversário de uma semana e um dia)
aqui vai um poema de Sylvia Plath,
revertido ao português por mim mesmo:
espero que os leitores e leitoras fantasmas se divirtam.

Ela eu sei que vai gostar.


Essa é a versão final pra mim:
não quero cutucar muito essa pantera.


PERSEGUIÇÃO

Há uma pantera me esperando de tocaia:
Algum dia vou morrer graças a ela;
Sua gana ateou fogo nas florestas,
Ela espreita, envolvente como a lua.
Muito macio e suave desliza seu passo,
Avançando sempre pelas minhas costas;
Da cicuta soturna, gralhas gritam desastre:
A caçada começa, o cerco está armado.
Esfolado por espinhos eu percorro pedras,
Ressecado pelo calor branco do meio-dia.
Ao longo da rede vermelha de suas veias
Que fogos correm, que desejos despertam?

Insaciável, ela explora e pilha o território
Condenado pela falha de nossos ancestrais,
Gritando: sangue, que o sangue jorre mais;
Carne tem que encher na sua boca o rasgo novo.
Afiados os dentes dilacerantes e doce
A chamuscada fúria de sua pelugem;
Seus beijos deixam crestas, as patas, fuligem,
Só um juízo final consumirá sua fome.
No rastro da grande felina encarniçada,
Acesos como tochas para sua diversão,
Homens tostados e devorados no chão
Viram iscas de sua fúria esfomeada.

Morros já tramam perigo, a sombra se incuba;
A meia-noite encobre o bosque opressor;
A saqueadora negra, atrelada pelo amor
Nos quadris fluentes, me força à fuga.
Por trás do matagal confuso dos meus olhos
Fléxil ela espera; na emboscada dos sonhos,
Brilhantes as garras que estraçalham corpos
E famintas, famintas, suas tensas coxas.
Seu ardor me enlaça, incendeia as árvores,
E eu fujo com minha pele já flamejante;
Qual acalanto, qual alívio será frio bastante
Quando esse olhar de topázio queima e marca?

Lanço-lhe meu coração para frear seu ritmo,
Desperdiço sangue para saciar sua sede;
Ela come, mas não alivia sua ansiedade,
Que requer compulsiva um total sacrifício.
Sua voz me alicia, me enfeitiça em transe,
A floresta estripada desmorona em cinzas;
Apavorado por desejo secreto, fujo ainda
De um ataque tão violento e rutilante.
Entrando na torre dos medos mais sentidos,
Fecho as portas da minha culpa sinistra,
Eu tranco a porta, tranco toda e cada porta.
O sangue acelera, retumba nos ouvidos:

Os passos da pantera vêm pelas escadas,
Subindo mais, subindo mais pelas escadas.


Sylvia Plath

Versão brasileira: Ivan Justen Santana

terça-feira, julho 06, 2004

Terça-feira magra

A postagem (vou usar esse termo daqui em diante:
"post" é pra quem fica parado)
de ontem foi feita em 20 segundos,
antes de acabar minha hora no café cibernético.

Hoje o tempo está sobrando feito umas gorduras
que devo ter acumulado no cérebro.

A regra aqui era acabar as postagens com poemas,
então vamos tentar obedecer.

Faz seis meses e duas semanas que não bebo,
depois daquele surto
(todos os surtos são "aquele surto").

A quadrinha a seguir vai só pra jogar lenha
na fogueira da minha secura que não se cura:


entre náufragos da desgraça
uma moça em meu olhar veleja:
tomo três goles de cachaça
e viro um copo de cerveja...

segunda-feira, julho 05, 2004

Corra, Ivan, corra

Este é o sexto post.
Estou postando por postar.
Não vai dar tempo.
Rápido.
Mais.
Fim.

domingo, julho 04, 2004

Sacrifício

Aqui é o lugar:
sacrificarei aqui meu melhor e o pior,
principalmente: o mundo e eu merecemos.
Só falta um verso pra terminar.
Ufa, quinto post. É bom sobreviver.

sexta-feira, julho 02, 2004

A humanidade em quatro partes

Não entendo nada de numerologia,
mas um pouco de estatística me atingiu
durante os anos escolares.

De onde vêm os pensamentos de bar é óbvio:
da situação no bar, que tem menos convenções
do que as situações mais ordenadas.

Uma das coisas que já me ocorreram num bar
foi que o ser humano devia acasalar em grupos
de quatro pessoas, não de duas.

Não me peçam pra explicar. Eu explico pior:
cada pessoa teria quatro diferentes parceiro(a)s.
Diz o ditado: variedade é o tempero da vida.

A estatística que me sobra diz que num grupo
de quatro pessoas existem 64 combinações
diferentes: cada um sozinho, pares, trios...

Agora eu vou ferrar esse post de vez:
o poema a seguir me veio duma vez
num bar onde a poesia tem sua vez.


O EIXO CURITIBA - SEATTLE

Tenho transtorno afetivo
do tipo de Kurt Cobain,
falta só mais um pouquinho
para eu me matar também.


Puxa vida. Depois de escrever isso,
voltei pra casa, fui dormir
e sonhei que era poeta.

Quando acordei, não sabia mais
se era um louco que tinha sonhado ser poeta
ou um poeta sonhando que era louco.

O que era só o que me faltava já não falta mais.

quinta-feira, julho 01, 2004

Tristeza em três partes

Tresanteontem um amigo meu estava num bar e quando apareci
ele me disse que tinha os três versos finais de um poema.
Não pude me segurar e disse:
então eu vou fazer os três versos iniciais.

Aí vai o resultado:
no meio das duas estrofes vocês por favor ponham muita tristeza,
que ela tem me sobrado em quantidade ultimamente.


Pois é: o dia já nasceu.
Raios se espalham pelas esquinas.
Não casei nem comprei uma bicicleta.

E agora, o que faço eu
com apenas alguns versos, rimas
e um velho casaco de poeta?