Angústia do irreversível e solitude
completam o serviço por dentro.
Eu queria falar de diálogo,
mas parece que só os mudos me ouvem.
Então (de novo) mais um poema
explícito, simples, falso como tudo mais.
Bom apetite:
A ARTE DA PERDA
(sugado de Elizabeth Bishop)
Perdi até o que eu já nem tinha:
uma menininha que brinca sozinha.
Perdi coisas que já nem são:
coisas que nem vem nem vão.
No vão das perdas, o que se acha
é uma caixa dentro de outra caixa
dentro de outra caixa.
Perco sempre, até de mim, sempre
perco como quem perde eternamente.
A derrota na vida, minha querida,
sobra até para quem deixa a bebida,
será que perder tem alguma desculpa?
Eu já nem sei quanto mais perderei
nem se bem sei o que esqueci de rimar:
perdido, tropeçando no tombadilho
do navio de loucos onde me soltaram,
tocando o céu e bebendo o mar,
só sei que nunca deixarei de amar.
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