quinta-feira, julho 15, 2004

A pior quinta-feira da minha história

Estou prevendo tudo:
caso aconteça o pior,
pelo menos terei
deixado o meu melhor
e o meu pior.

Então (minha vida
de escriba tem sido
usar um "Então")
aqui estão
o que suponho
serem o meu melhor
e o meu pior poema,
ironicamente,
em ordem reversa.


UMA FÉ SE FEZ

Quando a minha boa caneta surrada
ficou com pena de ver um teclado,
o inconformismo de todo o nada,
vida, amor, tudo foi desqualificado.

A atitude de árvore me acresceu raízes
e a vida quadrada fez-se adimensional.
As palavras partiram tal trupe de atrizes
e quase tive um parto pelo próprio pau.

Ninguém, nem mesmo outra pessoa só,
estava pra ver que eu já era duas duplas:
a sombra do sol se enroscou num nó
e só se desfez em imagens dúbias.

Os objetos estão a ensinar os sujeitos
que as objetas às vezes não estão sujeitas.
Pronominalmente perfeitos ou imperfeitos
descubro diálogos às esquerdas e às direitas.

Em suma, some, pois o sumo some na soma
sem condução ou cálculo remissível.
Este poema é para que você o coma,
sem saber ao certo se a missão é possível.


Blargh! Será esse o pior
(quem sabe um dos muitos "piores"...)?

Contra isso,
somente um ovilhejo perfeito:


SERVINDO A CERVANTES

Contra o verso redundante,
Dante.
Contra tantos versos crus,
Cruz.
Num poema que não se ousa,
e Sousa.

Contra carvão, diamante.
Contra a rima que repousa.
Ao tom ruim, o elegante
tom de Dante e Cruz e Sousa.

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