Estou prevendo tudo:
caso aconteça o pior,
pelo menos terei
deixado o meu melhor
e o meu pior.
Então (minha vida
de escriba tem sido
usar um "Então")
aqui estão
o que suponho
serem o meu melhor
e o meu pior poema,
ironicamente,
em ordem reversa.
UMA FÉ SE FEZ
Quando a minha boa caneta surrada
ficou com pena de ver um teclado,
o inconformismo de todo o nada,
vida, amor, tudo foi desqualificado.
A atitude de árvore me acresceu raízes
e a vida quadrada fez-se adimensional.
As palavras partiram tal trupe de atrizes
e quase tive um parto pelo próprio pau.
Ninguém, nem mesmo outra pessoa só,
estava pra ver que eu já era duas duplas:
a sombra do sol se enroscou num nó
e só se desfez em imagens dúbias.
Os objetos estão a ensinar os sujeitos
que as objetas às vezes não estão sujeitas.
Pronominalmente perfeitos ou imperfeitos
descubro diálogos às esquerdas e às direitas.
Em suma, some, pois o sumo some na soma
sem condução ou cálculo remissível.
Este poema é para que você o coma,
sem saber ao certo se a missão é possível.
Blargh! Será esse o pior
(quem sabe um dos muitos "piores"...)?
Contra isso,
somente um ovilhejo perfeito:
SERVINDO A CERVANTES
Contra o verso redundante,
Dante.
Contra tantos versos crus,
Cruz.
Num poema que não se ousa,
e Sousa.
Contra carvão, diamante.
Contra a rima que repousa.
Ao tom ruim, o elegante
tom de Dante e Cruz e Sousa.
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