quarta-feira, abril 23, 2014

PALAVRAS DE TITÂNIO

[sim, mais um poema do meu irmão Cid Justen Santana (1971-2014), escrito em homenagem a seus professores, quando o Cid fazia a oitava série e tinha 13 para 14 anos de idade -- esse texto não foi selecionado para nenhuma premiação, mas fica aqui registrado a quem possa emocionar]

I

Tu, que trabalhas arduamente,
fazendo plantas e esquemas
de construção simples mas engenhosa,
engenheiro da mente humana.

Tens nas tuas rédeas,
tens nas tuas mãos
olhinhos agressivos e espertos
ou olhares reprovadores e radicais.

Que levas e mais levas!
(quase não acabam mais)
Se dormes, é tarde da noite,
Se não, são planejamentos que fazes,

planejamentos audazes,
planejamentos tenazes,
pra conter na tua mão
o que às vezes numa sala não cabe.


II

Carregas em teu nome
tua dura vida
com centenas de alunos
-- um pai com centenas de filhos.

É duro não ser perfeito.
É duro nem sempre acertar,
pois tuas palavras de titânio
consolidam mil caracteres,

pois em tuas mãos
formas as existências.
O que disseres, o que fizeres
vai comandar o futuro.

És o elo entre antes e depois:
quanto mais passares adiante
e quanto menos segurares
mais razão teve a tua vida.

Sem exagero, pode-se dizer:
-- Sublime tarefa de amor.
Vida doada ao futuro,
vida doada à esperança!

És os olhos do mundo
modelando teus alunos.
És os olhos dos teus alunos
olhando corretamente o mundo.


[Curitiba, 7 de outubro de 1985]

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segunda-feira, abril 14, 2014

Mais um poema do meu irmão --

Esse é uma joia rara: confiram --


SONETO DA FELICIDADE

A felicidade não é grande nem azul.
A felicidade não é o norte nem o sul.
Não tem mapa nem direção.
É frágil e de curta duração.

Para que nela caiba toda tua vida
procura em todos os momentos a alegria escondida.
Usa cada tristeza tua como uma lição.
Usa cada alegria como impulsão.

A busca da felicidade é uma estrada
por selvas cercada e por pedras barrada:
remove-as sem levantar para não ser derrubado.

Não as empurres que o tesouro será esmagado.
Verte-as apenas para o lado, de mansinho
e terás aberto o caminho.


Cid Justen Santana (1971-2014)

[publicado num boletim informativo do Colégio Positivo, em outubro de 1986]

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quinta-feira, abril 10, 2014

BATENDO NA MESMA TECLA

[Mais um poema do meu irmão Cid Justen Santana (Curitiba, 8 de novembro de 1971 - 6 de abril de 2014); este foi premiado no décimo segundo concurso Palavra Viva, da Sociedade Educacional Positivo, em 1988.]

Batendo na mesma tecla,
eu vou conseguir explicar
que bater na mesma tecla
é o que devemos realizar,
pois nos batem na mesma tecla
que está certo o que é antigo,
já batido de mesma tecla,
copiar não tem perigo,
e todos batemos na mesma tecla,
precisamos bater pra existir,
e até que bater tanto a tecla
fica um pouco legal de se ouvir,
e eu bato na mesma tecla,
pois tal bate toda a gente,
e batendo na mesma tecla
eu não pareço diferente,
e de tanto bater na tecla
eu já me sinto até decente,
especialista em batimento de tecla,
de grande engrenagem sou dente,
não se apoquente (batendo na mesma tecla),
que eu já consegui reservar
(enquanto batia na tecla)
meu nome na lista de espera
(e vou batendo na mesma tecla)
pra um dia eu poder viajar
(até lá eu bato na tecla)
ao mundo dos Sem-Polegar.
(Batendo na mesma tecla.)

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domingo, abril 06, 2014

MUDANÇAS

(poema de Cid Justen Santana, meu irmão, falecido neste dia 6 de abril de 2014, aos 42 anos de idade; o poema foi premiado no décimo Concurso Literário Palavra Viva, promovido pela Sociedade Educacional Positivo, em 1986, quando o Cid contava 15 anos de idade)

Mudanças.
A vida está cheia delas.
Depois de amores e procelas,
coisas feias e belas,
que resta para o Homem?
Apenas o nome.

Quando se é criança,
moleque, se é tratado pelo nome
mais um "inho" e apenas.
Doce vida a das crianças pequenas...

Depois vem a idade adulta
(daí o tratamento é mudado).
É "senhor" ou "senhora" e o nome.
É duro sustentar os alicerces desse mundo avacalhado.

Então vem a velhice:
"vô", "vó" e o nome; é só.
Vibração microscópica no silêncio
ostracístico da solidão do pó.

Causa, procedimento, conseqüência.
Estudo por estudo, vida do Homem,
chega-se à conclusão de que
o tempo muda e tudo consome.

É distância impercorrível que fica
da pureza do parto à morte do Homem.
Vai ficando embrutecido pelo mundo
e só permanece... inalterado... o nome.

Cid Justen Santana

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sexta-feira, abril 04, 2014

E AÍ É O UI E O OU

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Todo mundo faz cocô.
Todo mundo tem chulé.
Tudo bem que tem a flor.
Tudo bem que tem o pé.
Todo mundo sofre dor.
Ninguém faz tudo o que quer.
Tudo bem que tem amor.
Tudo bem que tem a fé.
Mas às vezes até a fé
se confunde com o horror
e portanto, meu senhor,
não me diga, por favor,
dessa vida sem temor
ser questão de o que é o que é.

ijs
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