segunda-feira, setembro 30, 2013

O CEGO WILLIE McTELL

Blind Willie McTell -- Bob Dylan
versão brasileira: Ivan Justen Santana

Seen the arrow on the doorpost
Saying, “This land is condemned
All the way from New Orleans
To Jerusalem”
I traveled through East Texas
Where many martyrs fell
And I know no one can sing the blues
Like Blind Willie McTell
A placa-seta no batente da porta
Dizia: "Condenada a terra além
Da estrada desde Nova Órleans
Até Jerusalém"
Viajei pelo Leste do Texas
Onde muito mártir já foi réu
E sei que ninguém mais canta o blues
Feito o cego Willie McTell

Well, I heard that hoot owl singing
As they were taking down the tents
The stars above the barren trees
Were his only audience
Them charcoal gypsy maidens
Can strut their feathers well
But nobody can sing the blues
Like Blind Willie McTell
É, ouvi aquela coruja cantando
Enquanto eles derrubavam as tendas
As estrelas sobre as árvores secas
Eram a única audiência dela
Aquelas moças ciganas carvoeiras
Desfilam com as penas ao céu
Mas ninguém mais canta o blues
Feito o cego Willie McTell

See them big plantations burning
Hear the cracking of the whips
Smell that sweet magnolia blooming
See the ghosts of slavery ships
I can hear them tribes a-moaning
Hear that undertaker’s bell
Nobody can sing the blues
Like Blind Willie McTell
Veja as grandes plantações queimando
Ouça os estalos dos chicotes
Sinta a doce magnólia desabrochando
Veja os navios negreiros e seus lotes
Posso ouvir as tribos e seus gemidos
E o sino do coveiro toca ao léu
Ninguém mais consegue cantar o blues
Feito o cego Willie McTell

There’s a woman by the river
With some fine young handsome man
He’s dressed up like a squire
Bootlegged whiskey in his hand
There’s a chain gang on the highway
I can hear them rebels yell
And I know no one can sing the blues
Like Blind Willie McTell
Tem uma mulher à beira do rio
Junto com algum belo rapaz
Vestido como um escudeiro
Carregando seus uísques ilegais
Tem uma gangue de correntes na estrada
Ouço seus gritos rebeldes ao céu
E sei que ninguém mais canta o blues
Feito o cego Willie McTell

Well, God is in His heaven
And we all want what’s His
But power and greed and corruptible seed
Seem to be all that there is
I’m gazing out the window
Of the St. James Hotel
And I know no one can sing the blues
Like Blind Willie McTell
É, Deus está em Seu paraíso
E todos queremos o que é Dele
Mas poder, ganância, semente corruptível
São só o que existe, ao que parece
Estou olhando pra fora da janela
Daqui deste indiferente hotel
E sei que ninguém mais canta o blues
Feito o cego Willie McTell

domingo, setembro 29, 2013

ASSISTINDO AO RIO PASSAR

[Watching The River Flow -- Bob Dylan
versão brasileira: Ivan Justen Santana]

Qual é o problema comigo
Não tenho muito o que dizer
A aurora já se esgueira pela janela
E eu ainda aqui nesse café
De um lado pro outro sob a lua
Lá fora os caminhões vão devagar
Sento aqui nesse banco de areia
E assisto ao rio passar

Quem dera voltasse à cidade
Em vez desse velho banco de areia
O sol batendo sobre as chaminés
E por perto a amada, bem aquela
Se eu tivesse asas e voasse
Eu saberia por onde planar
Mas agora sento aqui satisfeito
E assisto ao rio passar

As pessoas discordam sobre tudo, é
Faz você parar e refletir
Por que ontem vi alguém na rua
Que não parava com o mimimi?
Ah, esse velho rio segue correndo
Não importa quem nele nem qual vento a soprar
E enquanto isso bem aqui me sento
E assisto ao rio passar

Pessoas brigando aonde quer que se olhe
Faz você parar e querer ler um livro
Por que ontem vi alguém na rua
Que só ficava se sacudindo
Mas esse velho rio segue correndo
Não importa quem nele nem qual vento a soprar
E enquanto isso bem aqui me sento
E assisto ao rio passar

...

O poema mais importante do Cláudio Bettega

...
agora não sei por que me bateu de postar isso---é que não estava em blogue nenhum (mas tem uma postagem com vídeo aqui)

altero o ego
do meu outro
eu
de acordo

com o sonho
que nesta noite
me bateu
modulo
o abismo
que nos separa
e faço dele
minha parte
minha
somos um
não há outro
e em mesmo
sendo um
não somos
pouco

Cláudio Bettega (1971-2010)
...

quinta-feira, setembro 26, 2013

INFOSCÍVEL

*
Ao Paulo de Toledo


desistir é mais fácil
e mesmo assim difícil
se até o que fosse fóssil
detona como míssil

*

segunda-feira, setembro 16, 2013

SOL DOS INSONES!

[SUN OF THE SLEEPLESS! George Gordon, Lord Byron]

Sol dos insones! melancólico astro!
Teu raio de lágrima ao longe é um rastro,
Mostrando à treva, a qual não esconjuras,
Quão semelhante és às lembranças puras!
Brilha assim o passado, luz de outrora,
Que não aquece a quem atinge agora;
Brasa que a Angústia vela, findo o dia,
Distinta e distante — clara — mas fria!


versão brasileira: Ivan Justen Santana

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terça-feira, setembro 10, 2013

NOSSA VILA (PUXA VIDA, CURITIBA)

*
nossa vila tem as taras de costume
e outros podres gestos menos ou mais nobres
dos poderes que a controlam com seus cobres
das mamatas que inda causam muito ciúme

nesta festa tem também a classe artística
com autistas quase gênios quase monstros
produzindo em jorros obras feitas mênstruos
feitas frases mísseis de fatal balística

mas bombando estão as forças repressoras
civilização-barbárie: são conceitos
tão semelhos que nem sei bem se eu aceito-os
como aceito que haja raivas ruivas loiras

e eu faria até canções semiambiatômicas
tipo aquela Desolation Row do Dylan
só filando esse filé que tantos filam
junto às nossas priscas juventudes sônicas

mas o simples se tornou aqui complexo
se estes versos não te soam bem: meus pêsames
pois o idioma que não fiz nessa hora pesa-me:
sexo é nexo --- nexo é plexo --- plexo é sexo

da linguagem tu leitor que assim mereças
largo então estreitas pistas pelos pés
recalcando as babas prontas dos manés
e imortalizando-os mesmo que às avessas

se puderem compreender coisas como essas

IJS

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