terça-feira, fevereiro 28, 2012

UM CASO DE VIDA OU ARTE

Arte e Vida se veem dividindo a mesma toalha
no piquenique organizado pelo chefe, o Tempo,
o qual adora dar tais festinhas nas horas vagas
e sempre as convida pra fruir estes bons momentos.

Começa a Arte: “Dizem que sou longa e você breve.”
“Mas se não fosse por mim você sequer nascia!”,
retruca ríspida a Vida, e em seguida, mais leve:
“Como vai aquela sua filha linda, a Poesia?”

“Ah, aquela uma parece que vai superar a mãe!
Vive arquitetônica, imitando Pintura e Música.”
E a Vida segue bela e expectativa: “Não estranhe,
mas sempre vi a sua Poesia assim, quase medúsica...”

A Arte vem de novo com o papo de breve e longa
e a Vida, lívida e bandida, por dentro se torce,
até que, ávida e sacuda e já farta da delonga,
gesticula ao Tempo um S.O.S. em código Morse.

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sábado, fevereiro 25, 2012

DOIS JOGOS

O amor é um peixe com asas:
as asas do amor são as rosas,
e as rosas são ganhas ou perdidas.

O xadrez é luta em casas:
em casas, em lances, em prosas,
as prosas às vezes divididas.

Mas são mais que só dois jogos:
são brasas, são brasões, são fogos
combinando mortes, sortes, vidas.

Peças. Entradas. Estradas. Saídas.

* * *

sábado, fevereiro 18, 2012

A MINHA GATA PRIMATA

Tive uma vez um gato cinza:
era um filhote muito esperto.
Tive também gatas ranzinzas:
choravam longe, riam perto.

Mas nunca tive gata alguma
como você, gata primata:
sonho seus lábios numa espuma,
beijo seu beijo de acrobata.

Seres humanos são estranhos
alguns praticam sodomia,
degustam ralos, raspas, ranhos--
enquanto a mim você só mia,

só me na pele acaricia,
some não some, amor de gata,
morde de leve, alonga e guia,
gata primata que me mata...

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quinta-feira, fevereiro 16, 2012

JORGE IVAN LUIS JUSTEN BORGES SANTANA

ao Rodolfo Jaruga

[veja antes a explicação entre colchetes ao final da postagem, ou tente solucionar este problema-poema sem usar qualquer colher de chá]

I
II

Num ringue muito grave, jogadores
Frágil Rei, vesgo Bispo, encarniçada
Regem as lentas peças: tabuleiro
Dama, reta Torre, Peão espertinho
E dois detentos, sério picadeiro
Sobre o preto e branco de seu caminho
Onde se odeiam--dançam duas cores.
Buscam e travam a batalha armada.
Dentro brilham os mágicos rigores
Não sabem que uma mão assinalada
Das formas: Torre homérica, ligeiro
De um jogador governa seu destino,
Cavalo, Dama armada, Rei matreiro,
Não sabem que um rigor adamantino
Oblíquo Bispo e Peões violentadores.
Sujeita seus desejos na jornada.
Quando o par de adversários for partido,
O jogador também é um prisioneiro
Quando já o tempo os tenha consumido,
(Frase de Omar) mas noutro tabuleiro
Por certo não terá cessado o rito.
De negras noites e de brancos dias.
No Oriente pegou fogo esta guerra
Deus move o jogador, que move a peça.
Cujo anfiteatro é hoje toda a Terra,
Que Deus por trás de Deus o ardor começa
Como o outro, este jogo é infinito.
De poeira e tempo e sonhos e agonias?

[intercalados aqui acima estão os dois sonetos de Jorge Luis Borges sobre o jogo de xadrez, ambos em versão brasileira de Ivan Justen Santana]

* * *

terça-feira, fevereiro 14, 2012

DENTRO WITHIN DE YOU VOCÊ WHITOUT SEM YOU VOCÊ

WITHIN YOU WITHOUT YOU
DENTRO DE VOCÊ SEM VOCÊ

We were talking—about the space between us all
Estávamos falando—do espaço entre nós todos
And the people—who hide themselves behind a wall of illusion
E das pessoas—que se escondem atrás duma parede de ilusão
Never glimpse the truth—then it's far too late
Nunca vislumbram a verdade—então é mais que tarde demais
—when they pass away.
—quando elas falecem.
We were talking—about the love we all could share
Estávamos falando—do amor que todos podíamos compartilhar
—when we find it
—quando o descobrirmos
To try our best to hold it there—with our love
Pra tentar nosso melhor pra o manter lá—com nosso amor
With our love—we could save the world
Com nosso amor—poderíamos salvar o mundo
—if they only knew.
—se ao menos eles soubessem.
Try to realise it's all within yourself
Tente perceber que tudo está dentro de você mesmo
no-one else can make you change,
ninguém mais pode fazer você mudar,
And to see you're really only very small,
E ver que você é realmente apenas muito pequeno,
and life flows on within you and without you.
e a vida segue fluindo dentro de você e sem você.
We were talking—about the love that's gone so cold
Estávamos falando—do amor que ficou tão frio
And the people
E das pessoas
Who gain the world and lose their soul—
Que ganham o mundo e perdem a alma delas—
they don't know—they can't see—are you one of them?
elas não sabem—elas não conseguem ver—você é uma delas?
When you've seen beyond yourself—
Quando você tiver visto além de si mesmo—
then you may find peace of mind is waiting there—
então você talvez descubra que a paz da mente lhe espera lá—
And the time will come when you see
E o tempo chegará quando você vir que
we're all one and life flows on within you and without you.
todos somos um e a vida segue fluindo dentro de você e sem você.

George Harrison
versão brasileira:
Ivan Justen Santana

VOCÊ VEM ME... VÊ COMO TU... ME DÁ ME DÊ MEDI ME DOU

Em estado de Happy Valentine,
for my beloved querida y amada S.L.C.T


Você vem me montando em peças e aos pedaços--
Me peça o que quiser, pedaço do meu céu--
Você montando em mim, pés, pernas, risos, braços,
Mãos, dedos, seios, cóccix, cócegas, babel
De frases soltas-- junto a nossa língua os traços
De ostras já fósseis, dóceis, gráceis-- mais o mel
Que lambo e lembro ao limbo em lombo e me deslumbro
Num ressumbro umbrófilo dum falar osco-umbro--

Vê como tu me impões que te ponha em meu sonho--
Numa língua desnuda, articulada em sons
Que nem me conto, tonto estonteio, bisonho,
Esculturando pouco a pouco os loucos tons
Daquelas tardes sem sorver fado enfadonho,
Só sorvendo o que é teu, meu, nossas multidões
De dons de bons ronrrons e ardores e os amores
Que tu colores, flor mais flor de todas flores--

Sim: fiz assim pra nós um multilíngue show:
Desmontável, montable, un travel to Moscou--
Eu say: ficou incompreensível mas foi gol:
Como você me dá me dê medi me dou...
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segunda-feira, fevereiro 13, 2012

PRA QUE É QUE SERVE O AMOR?

A QUOI ÇA SERT L'AMOUR
PRA QUE É QUE SERVE O AMOR

A quoi ça sert l'amour?
On raconte toujours
Des histoires insensées.
A quoi ça sert d'aimer?
Pra que é que serve o amor?
Pergunta sempre em flor
Nos contos mais surreais
Pra que é que serve amar?

L'amour ne s'explique pas!
C'est une chose comme ça,
Qui vient on ne sait d'où
Et vous prend tout à coup
O amor é irracional!
É coisa assim que tal
Vinda de onde nem sei
Pega você de vez

Moi, j'ai entendu dire
Que l'amour fait souffrir,
Que l'amour fait pleurer.
A quoi ça sert d'aimer?
Até já ouvi dizer
Que o amor só faz sofrer
Que o amor só faz chorar
Pra que é que serve amar?

L'amour ça sert à quoi?
A nous donner d' la joie
Avec des larmes aux yeux...
C'est triste et merveilleux!
O amor serve pra quê?
Pra nos dar mais prazer
Mais choro em nossos olhos
Tristes, maravilhosos

Pourtant on dit souvent
Que l'amour est décevant,
Qu'il y en a un sur deux
Qui n'est jamais heureux...
Mas sempre vem à tona
Que o amor decepciona
Que em dois um geralmente
Acaba descontente

Même quand on l'a perdu,
L'amour qu'on a connu
Vous laisse un goùt de miel.
L'amour c'est éternel!
Mesmo quando perdemos
O amor que conhecemos
Fica um sabor tão terno
O amor é mesmo eterno!

Tout ça, c'est très joli,
Mais quand tout est fini,
Il ne vous reste rien
Qu'un immense chagrin...
Tudo isso é bem bonito
Mas não sobra um palito
Quando um amor acaba
Só resta imensa mágoa...

Tout ce qui maintenant
Te semble déchirant,
Demain, sera pour toi
Un souvenir de joie!
Tudo que neste instante
Nos é dilacerante
Depois será saudoso
Um suvenir de gozo!

En somme, si j'ai compris,
Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins,
On a vécu pour rien?
Em suma, se entendi
Sem o amor por aqui
Sem mais dor nem prazer
Viver não tem porquê

Mais oui! Regarde-moi!
A chaque fois j'y crois
Et j'y croirai toujours...
Ça sert à ça, l'amour!
Assim! Olhe pra mim!
Sim, acredito enfim
Sempre com todo o ardor
Pra isso que serve o amor!

Mais toi, t'es le dernier,
Mais toi, t'es le premier!
Avant toi, 'y avait rien,
Avec toi je suis bien!
Você será pra sempre
Você que é diferente!
Antes de ti ninguém
Contigo eu fico bem!

C'est toi que je voulais,
C'est toi qu'il me fallait!
Toi qui j'aimerai toujours...
Ça sert à ça, l'amour!
Você que eu mais queria
Luz que faltava ao dia!
Eu te amo com ardor
Pra isso que serve o amor!...

Letra e música: Michel Emer
Versão brasileira:
Ivan Justen Santana

Cliquem aqui e assistam a essa animação imperdível,
ao som da canção interpretada
por Edith Piaf & Théo Sarapo:

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

L'AMITIÉ [A AMIZADE]

Beaucoup de mes amis sont venus des nuages
Avec soleil et pluie comme simples bagages
Ils ont fait la saison des amitiés sincères
La plus belle saison des quatre de la terre
Muitas das minhas amizades vêm dos ares
Junto com o sol e a chuva e os sutis luares
Fazendo da sinceridade uma estação tão prima
Mais bela que as quatro estações de todo o clima

Ils ont cette douceur des plus beaux paysages
Et la fidélité des oiseaux de passage
Dans leurs cœurs est gravée une infinie tendresse
Mais parfois dans leurs yeux se glisse la tristesse
Possuem a doçura das belas paisagens
Mais a fidelidade de aves em viagem
Nos corações gravada uma eterna ternura
E às vezes por seus olhos passa uma amargura

Alors, ils viennent se chauffer chez moi
Et toi aussi tu viendras
Então
Elas vêm
Se aquecer
Em meu lar
E assim
Tu também
Chegarás

Tu pourras repartir au fin fond des nuages
Et de nouveau sourire à bien d'autres visages
Donner autour de toi un peu de ta tendresse
Lorsqu'un autre voudra te cacher sa tristesse
Tu poderás partir de novo rumo a outros ares
E sorrir novamente aos sóis, às chuvas e aos luares
Compartilhar ao teu redor tua ternura
Enquanto alguém te esconderá sua amargura

Comme l'on ne sait pas ce que la vie nous donne
Il se peut qu'à mon tour je ne sois plus personne
S'il me reste un ami qui vraiment me comprenne
J'oublierai à la fois mes larmes et mes peines
Conforme não se sabe o que essa vida traz
Talvez me veja um dia só como jamais
Mas se então me restar uma amizade fiel
Esquecerei as lágrimas, a dor e o fel

Alors, peut-être je viendrai chez toi
Chauffer mon cœur à ton bois
Então
Eu talvez
Chegarei
Em teu lar
E o meu
Coração
Tu aquecerás

Letra de Jean-Max Rivière
Música de Gérard Bourgeois

Versão brasileira:
Ivan Justen Santana

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

NOSSO AMOR FAZ O AMOR AMAR FAZER AMOR

com S.L.C.T., de novo e de novo

Não é pelo exagero o que eu aqui exagero
pois zero vezes infinito é igual a zero.

Na matemática o primeiro é o número um
mas sei: sozinho eu valho menos do que um pum.

Somado a ti valemos mais que qualquer soma.
Até a potenciação encolhe, empaca e embroma.

Nosso amor faz o amor amar fazer amor.
Amor feliz se em nós é cada vez maior.

Talvez alguém nos ache assim: estão se achando.
Talvez ninguém em nosso voo enxergue o chão do.

Nosso calor inflama a chama quando afago-a.
Nosso licor a encharca e até dá banho n'água.

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A ARTE DA RECUSA

[em parceria com
Fernando de Oliveira Sikorski
Mario Henrique Domingues
Octavio Camargo

numa mesa do Café Parangolé]


a poesia é a arte da recusa

não ser descarte de quem o acusa

não virar pedra em frente à medusa

ser estandarte pra plebe obtusa

paredro que medra na fusa confusa

parte pelo todo

troiano negro

grego ostrogodo

lua em marte sua em vênus

nua ao menos

língua lusa seios plenos

braços pernas descruza

usa abusa hipotenusa

lambe alisa chupa alaga aleita e goza a

musa


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terça-feira, fevereiro 07, 2012

UM ANO, UM MÊS, UMA SEMANA E UM DIA

declaro nestes quatro versos um pouco escassos
a idade com que o Ian ergueu-se e andou de alegria:
filho de poeta completa seus primeiros passos
ao fazer um ano, um mês, uma semana e um dia:

clique aqui pra ver esse momento histórico

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

CONTRA DESALMADOS E IMBECIS, O ANTÍDOTO: GARIBALDIS & SACIS

Quem tem medo de alegria e carnaval?
Quem detesta diversão e encampa o mal?

Tinha uma cidade: já vai tarde e rosna.
Tinha elite amarga feito chá de losna.

Tem ainda gente que cultiva o ódio:
corações de cloreto arrotando sódio.

A brutalidade policial nem sonha,
mas ouçam, parvos do comando sem mando:

logo verga e cai sua pose na vergonha,
e a nossa alegria só está começando...


Pré-Carnaval de 2010, em Curitiba

sexta-feira, fevereiro 03, 2012

NÃOS NENS ...

Caos e cosmos o ensinaram a versar tão bem
que agora você vai inventar tridecassílabos,
e vai alternar as rimas do jeito que vêm,
em acentos ímpares, em tons de monossílabos.

Você vai chutar os baldes só depois de enchê-los,
tendo em vista os poucos a lhe dar atenção,
vai tirar escalpos sem arrancar os cabelos,
vai pedir licença poética e saber que são:

são da sua turma ricos, pobres, mais ou menos.
Não adiantam raivas, uivos, ais, gritos a Deus.
São do seu terreno grilos grandes e pequenos,
erros, quedas, mortes, sortes, cortes: todos seus.

Toda sua é esta humanidade apatetada.
Todos seus estes contrastes, trastes, som e luz.
Neste instante já notou que fez um quase nada?
Que esses versos se revelam nãos, nens, nis, nós, nus?

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quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Hoje é aniversário...

Hoje é aniversário,
aniversário de Joyce,
James Joyce: um gênio,
que fornece oxigênio,
oxigênio ao cérebro,
que é feito a marmota,
marmota que é esperta,
e o clima ela acerta,
o clima é sagrado,
nem sempre é do agrado,
do agrado dos chatos,
irmãos dos carrapatos,
que Joyce não encheu,
quem encheu fui eu.

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quarta-feira, fevereiro 01, 2012

O QUE MAIS QUERO O QUE MAIS FAÇO O QUE MAIS TEU

a S.L.C.T., novamente e sempre

Mais uma vez o mundo inteiro se enganou.
Mais uma vez quem ler sequer pode sacar.
Não vão notar nem pois nem mas nem só nem ou.
Talvez só peçam pra sair tomar um ar.

Não vão nem comentar. Não querem compreender.
Perder seu tempo é o mais que sabem como, qual,
por que, quem, onde, quando, em quê. Dar dor se der.
Sem ceder. Sem ousar dizer se é bom, se é mau.

Só nós, é sim, só nós notamos a ironia
de tentar resolver na base da porrada.
Só nosso maior gozo em falas na poesia
expressa mais como é querer bem tudo ou nada.

E assim eu te amo como teu bem mais queria,
minha primeira, grande e verdadeira amada.

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