segunda-feira, janeiro 31, 2011

No fim do mês, um Bóris Pasternak pra vocês...

Postagem dedicada ao amigo e poeta William Teca

ОПРЕДЕЛЕНИЕ ПОЭЗИИ
DEFINIÇÃO DE POESIA

Это – круто налившийся свист,
Это – щелканье сдавленных льдинок,
Это – ночь, леденящая лист,

Это – двух соловьев поединок,
É – trinado perfeitamente maduro,

É – cacarejar do gelo triturado,
É – noite empedrando uma folha no escuro,
É – dois rouxinóis em duelo acirrado,

Это – сладкий заглохший горох,
Это – слезы вселенной в лопатках,
Это – с пультов и флейт – Figaro
Низвергается градом на грядку.

É – canteiro de ervilhas asselvajadas,
É – lágrimas divinas dentro de vagem,
É – das flautas e batutas às rajadas
Fígaro que cai – granizo em flor selvagem.

Все, что ночи так важно сыскать
На глубоких купаленных доньях,
И звезду донести до садка

На трепещущих мокрых ладонях.
Crucial descoberta de uma noite toda
Nas profundezas de buracos flutuantes,
Estrela a ser trazida ao jardim à flor das
Palmas de mãos úmidas e tremulantes.

Площе досок в воде – духота.
Небосвод завалился ольхою.
Этим звездам к лицу б хохотать,
Ан вселенная – место глухое.

Calor – mais chato do que placas nas águas.
O firmamento feito árvore de outono.
As estrelas sentem falta de risadas,
Pena que o cosmo é cômico que dá sono.

Борис Леонидович Пастернак
Bóris Leonidovitch Pasternak (1890-1960)

Versão brasileira:
Ivan Justen Santana

sábado, janeiro 29, 2011

NÊNIA PRA NINAR LEOPOLDO SCHERNER

Quando um homem se faz Ícaro,
é justo que o céu lhe seja dado,
ou no mínimo um púcaro búlgaro
pois quem tem sede será sedado.

Ao homem Leopoldo ainda resta vida.
Por que chorar sobre a cera derretida?
Chorar? Antes sonhar: não custa nada
num naufrágio ser náufrago que sobrenada,

ser navegador e ser Adamastor,
ser o ser que sente além da dor.
Nenhuma questão agora lhe é estorvo.
Até o nunca mais já está no bico do corvo!

Antonio Thadeu Wojciechowski
Ivan Justen Santana

São José dos Pinhais / Curitiba, 27/01/2011

(Para mais detalhes sobre Leopoldo Scherner,
CLIQUE AQUI)

quarta-feira, janeiro 26, 2011

A HISTÓRIA DE UM POBRE DEUS POBRE

amor me trouxe outra vez de volta a toda vida
eu já lambera os lapsos todos de todas as línguas
mas minha ira era tamanha que um dia logo ali da
beira da estrada ao nada suicida morri às mínguas

novamente me transformo em metafísica do corpo
e minha alma é recompensa seja vivo seja morto
eu sou meu ogro meu sogro meu lobo meu globo
se alegro mas não trepo joãozeio mas não bobo

numa curva do universo o tempo perde as botas
aproveito pra rever meus velhos cadernos de notas
o deus que move a peça é o deus que move o jogador

entre tantos entretantos mas com tudo em toda via
crio mundos povos sonhos como deus nenhum criaria
fim da aposentadoria pois lá vem de novo amor
*

segunda-feira, janeiro 24, 2011

CARA ÁCARA: MÁSCARA

*
nada está mesmo na cara

nem baratas ficam de cara

tampouco tapas na própria

mas cara que mascara sua

nunca esqueças minha cara

se a morte não é a tua cara

sequer os orgulhos do cíclope

custaram-lhe os olhos da cara
*

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Medidas dos meus sonhos...

A RAINY NIGHT IN SOHO
UMA NOITE CHUVOSA NO BATEL SOHO

I've been loving you a long time
Down all the years, down all the days
And I've cried for all your troubles
Smiled at your funny little ways
We watched our friends grow up together
And we saw them as they fell
Some of them fell into Heaven
Some of them fell into Hell
Tenho amado você faz muito tempo
Por todos os anos, por todos os dias
E já chorei por todos os seus problemas
E já sorri de todas as suas manias
Vimos nossos amigos crescerem unidos
E vimos todos os seus tombos eternos
Alguns deles caíram nos Paraísos
E alguns deles, nos Infernos

I took shelter from a shower
And I stepped into your arms
On a rainy night in Soho
The wind was whistling all its charms
I sang you all my sorrows
You told me all your joys
Whatever happened to that old song
To all those little girls and boys
Me abriguei daquele baita toró
Adentrei seu abraço entre os alarmes
Numa noite chuvosa no Batel Soho
O vento assoviava todos seus charmes
Cantei pra você todos meus banzos
Você me contou todas suas alegrias
O que será que foi daqueles velhos cantos
Daqueles piazinhos e daquelas gurias

Now the song is nearly over
We may never find out what it means
But there's a light I hold before me
And you're the measure of my dreams
The measure of my dreams
Agora a canção está quase no fim
Talvez a gente nunca saiba o que significa
Mas uma luz eu trago diante de mim
E dos meus sonhos você é a medida
Dos meus sonhos a medida

Sometimes I wake up in the morning
The gingerlady by my bed
Covered in a cloak of silence
I hear you in my head
I'm not singing for the future
I'm not dreaming of the past
I'm not talking of the first time
I never think about the last
Às vezes eu acordo de manhã
Com a taberneira à minha cama
Coberta num manto de silêncio
Ouço você no crânio em chamas
Eu não canto pro futuro
Eu não sonho com o passado
Eu não falo no momento certo
Nunca penso no minuto errado

Now the song is nearly over
We may never find out what it means
Still there's a light I hold before me
You're the measure of my dreams
The measure of my dreams
Agora a canção está quase no fim
Talvez a gente nunca saiba o que significa
Mas uma luz eu trago diante de mim
E dos meus sonhos você é a medida
Dos meus sonhos a medida

Canção original: The Pogues (Shane MacGowan)
Versão brasileira: Ivan Justen Santana

segunda-feira, janeiro 17, 2011

TENTANDO (E NUNCA CONSEGUINDO) SUPERAR MEUS AMIGOS POETAS

(dedicado especialmente a Sérgio Viralobos, Thadeu Wojciechowski & Édson de Vulcanis)

beijo ou não beijo: aí estão os lábios
a marcarem sem batom os alfarrábios

será mais nobre na mente sofrer
as flechas e os estilingues do prazer

ou ajustar tais bodoques na língua
e acertá-la de setra no que xingo-a?

eis o respeito de um peito sem jeito:
fez-se bem redondo e bem redondo foi feito

eis a de graça boceta pandora que aleita
os meus orgasmos nesta colheita perfeita

*

terça-feira, janeiro 11, 2011

Apesar de não ser de verdade um dia ivânico,

hoje está mesmo um dia mágico
onze do um de dois mil e onze
hoje pra mim quase nada está trágico
as horas soando feito estátuas de bronze

hoje fiz tudo como num plano estratégico
como se eu fosse um estrátego desestragado
nenhum trago me foi ingrato ou alérgico
nada me soube amargo nem restou de lado

esta noite está sendo uma noite típica
mas muito mais típica que um som de zê
pois mesmo esta rima típica triplica-se
em noite de onze do um de dois mil e onze

serão onze horas da noite ou vinte e três horas
leio que um amigo poeta está vazando felicidade
parafraseando um verso de todos os amigos e agoras
meu coração vaza estrelas nas nuvens chuvosas da cidade
*

domingo, janeiro 09, 2011

Poema pra comunidade Paulo Leminski no Orkut

composto a partir de três palavras
(propriedade / capitalismo / poesia)
sugeridas pela "membra" Sandra, no tópico
"seja criativo faça uma poesia com o tema dado")

Quase todo mundo anseia a livre gestão.
Quase ninguém se compromete numa questão.
Quase todo mundo sabe criticar todo o resto.
Quase ninguém ousa uma autocrítica justa.

Quase todo mundo busca a liberdade.
Quase ninguém a nota na disciplina.
Quase todo mundo nunca se procura.
Quase ninguém topa si mesmo ali na esquina.

Quem nasce e cresce neste capitalismo
um dia aprenderá a reconhecer o altruísmo?
Quem só lê (ou nem mal lê) prosa vazia
um dia interpretará (de Mallarmé) a poesia?

Quem é capaz de questionar a propriedade?
Ficai todos vós (em toda voz) à vontade...
*

sábado, janeiro 01, 2011

A MAIOR METÁFORA DO UNIVERSO

A maior metáfora do universo
são duas:
a primeira é o ferro elétrico,
porque o universo é tudo
e tudo passa.

A segunda maior metáfora é a vinha,
pois, apesar de eu considerar
seus frutos maravilhas da natureza
e talvez a nossa mais incrível argamassa,
a verdade que reafirmo é que
tudo passa,
e assim, até a uva
passa.
*

EPÍLOGO:

Se eu nunca blogasse,
talvez apenas gravasse
os meus versinhos em bronze.

Porém, e portanto, que tudo passe
e mesmo sem métrica nem classe,
feliz 2011!
*