sábado, dezembro 08, 2012

Dedicado individual e especialmente a cada pessoa que acha não ser possível traduzir poesia (ou, nesse caso, texto poético de canção do Bob Dylan, sem ouvir e ler e entender no original).


BALADA DE UM MAGRO
Bob Dylan: Ballad Of A Thin Man --

Você entra na sala
Com um lápis na mão
Vê alguém sem roupa
E diz: “Quem é esse?”
Você tenta tanto
Mas não compreende
Nem sabe o que vai dizer
Pros espectadores insones
Pois alguma coisa acontece aqui
Mas você não faz ideia do quê
Não é mesmo, Mister Jones?

Você ergue a cabeça
Diz: “É aqui que é o negócio?”
E alguém aponta você e diz: “Sócio”
E você: “O que é meu?”
E um outro: “Onde o que é?”
E você: “Meu Deus
Estarei só entre fingidores?”
Pois alguma coisa acontece aqui
Mas você não faz ideia do quê
Não é mesmo, Mister Jones?

Você entrega o ingresso
E vai assistir à esquisitice
Que vem direto até você
Ao ouvir o que você disse
E diz: “Como é que é
Ser uma aberração dessas?”
E você diz: “Impossível”
Enquanto ele lhe entrega um cone
Pois alguma coisa acontece aqui
Mas você não faz ideia do quê
Não é mesmo, Mister Jones?

Você tem muitos contatos
Entre lenhadores natos
Pra obter fatos
Se algo faz você torcer o rosto
Mas ninguém tem respeito
Só esperam do seu jeito
Entregar mais um cheque
De caridade abatível no imposto

Você esteve entre professores
Que amaram seus remoques
Com grandes advogados você
Discute leprosos e escroques
Já passou por todos aqueles
Livros de Scott Fitzgerald
Você os leu e já eram de
Domínio de todos, né?
Pois alguma coisa acontece aqui
Mas você não faz ideia do quê
Não é mesmo, Mister Jones?

É, o engolidor de espadas vem
Até você e se ajoelha
E se persigna e se benze
E estala os saltos-agulhas
E sem mais nenhum alerta
Pergunta-lhe o que dá na telha
E diz: “Estou devolvendo tua goela
Grato também pelos fones”
Pois alguma coisa acontece aqui
Mas você não faz nem ideia do quê
Não é mesmo, Mister Jones?

Agora você vê um caolho anão
Que grita a palavra “AGORA”
E você: “Por qual razão?”
E ele: “Como fora?”
E você: “O que significa isso?”
E ele: “Você é vaca leiteira
Me dê logo algum leite
Ou sai fora, tetas de clone”
Pois alguma coisa acontece aqui
Mas você não faz ideia do quê
Não é mesmo, Mister Jones?

É, você entra na sala
Qual camelo, franze a testa
Coloca os olhos no bolso
E o nariz numa fresta
Tinha que haver uma lei
Contra você por perto
Você devia ser forçado
A usar nos ouvidos tampões
Pois alguma coisa acontece aqui
Mas você não faz ideia do quê
Não é mesmo, Mister Jones?

vb: ijs
...

sábado, dezembro 01, 2012

Mais Lord Byron...

[extraído de Childe Harold´s Pilgrimage, Canto I, de Lord Byron --- versão brasileira: Ivan Justen Santana]

O ADEUS DO INFANTE

1.
Adeus, adeus! nativas costas
__Somem no azul do mar;
Ventos suspiram, ondas postas,
__Guincha a espuma a vogar.
O Sol se põe lá no horizonte,
__Seguimos os voos seus;
Boa noite agora a quem te aponte,
__Terra natal---Adeus!

2.
Daqui a umas horas nascerá
__P'ra dar a Aurora à luz;
E eu saudarei os céus de lá
__Mas não meus chãos tão nus.
Deserta está minha mansão,
__Lareira desolada;
Ervas selvagens no portão;
__Meu cão uivando ao nada.

3.
"Vem cá, vem cá, pequeno pagem!
__Por que choras e gemes?
Tens medo de alguma voragem
__Ou pelo barco tremes?
Limpa estas lágrimas dos olhos;
__Nosso barco é potente:
Nosso falcão despreza escolhos,
__Planando alegremente."

4.
"Zurzam ventos; ondas: avante!
__Não temo ondas nem ventos:
Mas não te espantes, Mestre Infante,
__Pelos meus sentimentos;
Do lar de meu pai eu parti
__Deixando a mãe amada,
Não tenho amigos; tenho a ti
__E ao Pai maior---mais nada.

5.
"Meu pai me abençoou com fé,
__E assim restou contente;
Mas minha mãe sofrerá até
__Que eu volte novamente."---
"Já basta, basta, meu rapaz;
__Teu pranto tem valia,
Deixasse tanto para trás
__Eu também choraria.

6.
"Vem cá, vem cá, meu bom feitor,
__Por que pálido estás?
Temes por francês malfeitor
__Ou pelo barco audaz?"---
"Achas que só por mim lamento?
__Ó Infante, não sou fraco;
Na esposa ausente o pensamento
__Comove até um velhaco.

7.
"Esposa e filhos meus deixei
__Lá à borda do teu Lago,
Se eles chamarem por seu pai
__O que ela há de falar?"---
"Já basta, basta, meu feitor
__De dor justa e pesada;
Pois eu, que trago leve o humor
__Fujo dando risada.

8.
"Pois quem confiava nos gemidos
__De esposa ou namorada?
Secam olhos já umedecidos
__Por nova paixão dada.
Por prazer morto não me enluto,
__Perigo não me assusta;
A grande dor pela qual luto
__Lágrima não me custa.

9.
"E agora aqui sozinho estou
__Sobre este vasto mar:
Por que grunhir por outros vou
__Se a mim não vão chorar?
Talvez meu cão se queixe em vão,
__'Té que estranho o alimente;
E se eu voltar noutra estação
__Ele me crava o dente.

10.
"Contigo, barco, eu vou veloz
__Sobre a campa marinha;
Nem ligo aonde vamos nós
__Se não de volta à minha.
Bem-vindas, ondas, vindo eternas!
__Sumindo aos olhos meus;
Bem-vindos, desertos, cavernas!
__Terra natal---Adeus!"