[extraído de Childe Harold´s Pilgrimage, Canto I, de Lord Byron --- versão brasileira: Ivan Justen Santana]
O ADEUS DO INFANTE
1.
Adeus, adeus! nativas costas
__Somem no azul do mar;
Ventos suspiram, ondas postas,
__Guincha a espuma a vogar.
O Sol se põe lá no horizonte,
__Seguimos os voos seus;
Boa noite agora a quem te aponte,
__Terra natal---Adeus!
2.
Daqui a umas horas nascerá
__P'ra dar a Aurora à luz;
E eu saudarei os céus de lá
__Mas não meus chãos tão nus.
Deserta está minha mansão,
__Lareira desolada;
Ervas selvagens no portão;
__Meu cão uivando ao nada.
3.
"Vem cá, vem cá, pequeno pagem!
__Por que choras e gemes?
Tens medo de alguma voragem
__Ou pelo barco tremes?
Limpa estas lágrimas dos olhos;
__Nosso barco é potente:
Nosso falcão despreza escolhos,
__Planando alegremente."
4.
"Zurzam ventos; ondas: avante!
__Não temo ondas nem ventos:
Mas não te espantes, Mestre Infante,
__Pelos meus sentimentos;
Do lar de meu pai eu parti
__Deixando a mãe amada,
Não tenho amigos; tenho a ti
__E ao Pai maior---mais nada.
5.
"Meu pai me abençoou com fé,
__E assim restou contente;
Mas minha mãe sofrerá até
__Que eu volte novamente."---
"Já basta, basta, meu rapaz;
__Teu pranto tem valia,
Deixasse tanto para trás
__Eu também choraria.
6.
"Vem cá, vem cá, meu bom feitor,
__Por que pálido estás?
Temes por francês malfeitor
__Ou pelo barco audaz?"---
"Achas que só por mim lamento?
__Ó Infante, não sou fraco;
Na esposa ausente o pensamento
__Comove até um velhaco.
7.
"Esposa e filhos meus deixei
__Lá à borda do teu Lago,
Se eles chamarem por seu pai
__O que ela há de falar?"---
"Já basta, basta, meu feitor
__De dor justa e pesada;
Pois eu, que trago leve o humor
__Fujo dando risada.
8.
"Pois quem confiava nos gemidos
__De esposa ou namorada?
Secam olhos já umedecidos
__Por nova paixão dada.
Por prazer morto não me enluto,
__Perigo não me assusta;
A grande dor pela qual luto
__Lágrima não me custa.
9.
"E agora aqui sozinho estou
__Sobre este vasto mar:
Por que grunhir por outros vou
__Se a mim não vão chorar?
Talvez meu cão se queixe em vão,
__'Té que estranho o alimente;
E se eu voltar noutra estação
__Ele me crava o dente.
10.
"Contigo, barco, eu vou veloz
__Sobre a campa marinha;
Nem ligo aonde vamos nós
__Se não de volta à minha.
Bem-vindas, ondas, vindo eternas!
__Sumindo aos olhos meus;
Bem-vindos, desertos, cavernas!
__Terra natal---Adeus!"
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2 comentários:
Excelente tradução, Ivan.
É aquela balada que irrompe o canto épico. É como o canto de morte no I-Juca-Pirama, do Gonçalves. Com aquela repetição e tudo: "Mein Vater, mein Vater...", do Rei dos Elfos, do Goethe, musicado por Schubert. Maravilha é a parte do cão, como o cão de Odisseu. O sentimento de retorno pra casa. O 'nostoi' do Peregrino Haroldo Infante.
Achei interessante, Ivan, deixar aqui este excerto original:
1.
Adieu, adieu! my native shore
Fades o’er the waters blue;
The night-winds sigh, the breakers roar,
And shrieks the wild sea-mew.
Yon sun that sets upon the sea
We follow in his flight;
Farewell awhile to him and thee,
My Native Land — Good Night!
2.
A few short hours, and he will rise
To give the morrow birth;
And I shall hail the main and skies,
But not my mother earth.
Deserted is my own good hall,
Its hearth is desolate;
Wild weeds are gathering on the wall,
My dog howls at the gate.
3.
‘Come hither, hither, my little page:
Why dost thou weep and wail?
Or dost thou dread the billow’s rage,
Or tremble at the gale?
But dash the tear-drop from thine eye,
Our ship is swift and strong;
Our fleetest falcon scarce can fly
More merrily along.’
4.
‘Let winds be shrill, let waves roll high,
I fear not wave nor wind;
Yet marvel not, Sir Childe, that I
Am sorrowful in mind;
For I have from my father gone,
A mother whom I love,
And have no friend, save these alone,
But thee — and One above.
5.
‘My father blessed me fervently,
Yet did not much complain;
But sorely will my mother sigh
Till I come back again.’ —
‘Enough, enough, my little lad!
Such tears become thine eye;
If I thy guileless bosom had,
Mine own would not be dry.
6.
‘Come hither, hither, my staunch yeoman,
Why dost thou look so pale?
Or dost thou dread a French foeman,
Or shiver at the gale?’ —
‘Deem’st thou I tremble for my life?
Sir Childe, I’m not so weak;
But thinking on an absent wife
Will blanch a faithful cheek.
7.
‘My spouse and boys dwell near thy hall,
Along the bordering lake;
And when they on their father call,
What answer shall she make?’ —
‘Enough, enough, my yeoman good,
Thy grief let none gainsay;
But I, who am of lighter mood,
Will laugh to flee away.’
8.
For who would trust the seeming sighs
Of wife or paramour?
Fresh feeres will dry the bright blue eyes
We late saw streaming o’er.
For pleasures past I do not grieve,
Nor perils gathering near;
My greatest grief is that I leave
No thing that claims a tear.
9.
And now I’m in the world alone,
Upon the wide, wide sea;
But why should I for others groan,
When none will sigh for me?
Perchance my dog will whine in vain
Till fed by stranger hands;
But long ere I come back again
He’d tear me where he stands.
10.
With thee, my bark, I’ll swiftly go
Athwart the foaming brine;
Nor care what land thou bear’st me to,
So not again to mine.
Welcome, welcome, ye dark blue waves!
And when you fail my sight,
Welcome, ye deserts, and ye caves!
My Native Land — Good Night!
http://ebooks.adelaide.edu.au/b/byron/george/b99c/complete.html#canto1
uma beleza!
a imagem do cão em 2 e 9 é realmente poderosa.
e que bela solução transformar "my dog howls at the gate" em "meu cão uivando ao nada"...
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