sexta-feira, outubro 28, 2005

Numa nuvem chapada, emaconhado e bêbado...

Numa nuvem chapada, emaconhado e bêbado, pensei que se um viajante, numa noite de inverno, lesse um blog em voz alta para sua neta, então teria valido a pena, e a alma, que nunca foi pequena, seria enfim mais do que é, senão vejamos:

(complete a frase, e não vale não falar de amor)

quinta-feira, outubro 27, 2005

Tripolarmente...

Hoje é aniversário de Sylvia Plath: ela faria 73 anos...

Ei: eu nasci em 73...

Tá: sei que não tem nada a ver, mas esse tipo de coincidência numérica desencadeia abalos sísmicos de altíssimo grau nos meus sistemas nervosos centrais e periféricos...

Então vamos homenagear tudo isso com trinta segundos de silêncio contrito, seguidos de quatrocentas horas ininterruptas de júbilo e fuzarca, regados com todos os estupefacientes desnecessários e insuficientes!

Saúdes!

terça-feira, outubro 25, 2005

De volta à senda do crime

Aí: já que minhas chantagenzinhas emocionais irônicas não fizeram nem tchuns e passaram sem comentários, decidi reencarnar o Ladrão de Postagens.

Assim, aqui vai um poema surrupiado do meu amigo

m.m.cardozo


filigranas

boca acuada nos vãos da escada
mão sem regras na pasta de dente

dedos forjados na imperfeição do sabonete
gesto riscado na toalha do banheiro

gemido abafado no fundo do gaveteiro
risada dobrada no armário embutido

olhar apagado na mancha do vidro
sorriso de castigo atrás do espelho

lábios contidos no cigarro vermelho
dois sonhos de molho no cabideiro


(do livro inédito texturas, seção doces rútilos)

sexta-feira, outubro 21, 2005

O QUE EU DEVO DIZER, O QUE EU QUERO DIZER, E O QUE EU DIGO

Eu devo dizer que tenho andado mais que fraco: fraquinho.
Tenho falado tão pouco, tão pouco: feito um anão pequenininho.
E tenho caído mais que de bêbado: exaustozinho.
Eu devo dizer também que devo mais dinheiro que tenho: afinal, eu também sou um brasileirinho: só que pior: tenho andado sozinhozinho.

Eu quero dizer que te quero muito, mas menos mal que só um pouquinho: quero dizer mais (e melhor), mas deveria ser mais que fraco: franquinho.
Eu quero dizer tanta coisa, mas não dá pra justificar mais nada: sobrou só uma casca (que agora escreve): sobrou só a vontade de parar de digi

*

Eu digo que nunca paro: paródia dum fim sem começo: e assim ainda sempre fica sobrando a chance de continuar indefinidamente rimando em inho: e aí eu binho cinho dinho finho ginho hinho inho jinho kinho linho minho ninho oinho pinho quinho rinho sinho tinho uinho vinho winho xinho yinho zinho

e encho a carinha de vinho.

terça-feira, outubro 18, 2005

O tao de Ivan

citando de memória uma lição de lao tsé:

"Aquele que não sabe, e sabe que não sabe,
é HUMILDE: guie-o;

aquele que não sabe, e pensa que sabe,
é um TOLO: fuja dele;

aquele que sabe, e não sabe que sabe,
está DORMINDO: acorde-o;

aquele que sabe, e sabe que sabe,
é o MESTRE: siga-o."

Fundamentado nesses princípios, enuncio agora o incompossível

TAO DE IVAN

Eu sou quem não sabe que sei mas não sei:
logo: sou CONFUSO: me oriente!

Eu digo sim ao não que não é o não do sim:
assim: sou CONFUSO MESMO: me embebede!

Eu amo quem me ama e quem não me ama:
sou realmente um AMOR: me encontre...

Eu tenho medo do meu medo e ódio do meu ódio:
portanto, finalmente: estou PERDIDO:

cadê você?

segunda-feira, outubro 17, 2005

Pingos do meu secreto dicionário amoroso

*
Lonjura - Distância entre pessoas que se amam: seja de que tamanho for, a lonjura é sempre muito grande, podendo entretanto ser vencida instantaneamente por um semimínimo pensamento amoroso infinitesimal.

Breve comentário enciclopédico: Na verdade, lonjura é uma palavra-valise que carrega dentro de si as palavras "loucura" e "jura", entre outras.

domingo, outubro 09, 2005

Minhas entranhas traduzidas: sirvam-se!

*
Prometheus in His Crag
Prometeu em Sua Fraga


Pondered the vulture. Was this bird
His unborn half-self, some hyena
Afterbirth, some lump of his mother?


Ponderou o abutre. Seria esse pássaro
Sua meia-essência não-nascida, algum pós-
Parto de hiena, algum inchaço de sua mãe?

Or was it condemned human ballast -
His dying and his death, torn daily
From his immortality?

Ou seria o condenado humano lastro –
Seu morrer e sua morte, dilacerados dia a dia
De sua imortalidade?

Or his blowtorch godhead
Puncturing those horrendous holes
In his human limits?

Ou sua cabeça-deus-flamejante
Puncionando aqueles buracos horrendos
Nos seus limites humanos?

Was it his prophetic familiar?
The Knowledge, pebble-eyed,
Of the fates to be suffered in his image?

Seria o seu íntimo profético?
O Conhecimento, petrioculado,
Dos fados a serem sofridos em sua imagem?

Was it the flapping, tattered hole -
The nothing door
Of his entry, draughting through him?


Seria o palpitante, esfarrapado buraco –
A porta nonada
De sua entrada, soprando-lhe através?

Or was it atomic law -
Was Life his transgression?
Was he the punished criminal aberration?

Ou seria a lei atômica –
Seria a Vida a sua transgressão?
Seria ele a punida aberração criminosa?

Was it the fire he had stolen?
Nowhere to go and now his pet,
And only him to feed on?

Seria o fogo que ele furtara?
Sem saída e agora seu mascote,
Restando somente ele de alimento?

Or the supernatural spirit itself
That he had stolen from,
Now stealing from him the natural flesh?


Ou o próprio espírito sobrenatural
A quem ele furtara,
Agora furtando-lhe a carne natural?

Or was it the earth's enlightenment -
Was he an uninitiated infant
Mutilated towards alignment?

Ou seria a iluminação da terra –
Seria ele um não-iniciado-infante
Mutilado até o alinhamento?

Or was it anti-self -
The him-shaped vacuum
In unbeing, pulling to empty him?


Ou seria o anti-ente -
O vácuo em forma dele
Em inessência, puxando para esvaziá-lo?

Or was it, after all, the Helper
Coming again to pick the crucial knot
Of all his bonds?

Ou seria, afinal, o(a) Auxiliador(a)
Voltando novamente para bicar o nó crucial
De todas as suas correntes?

Image after image. Image after image. As the vulture
Circled.

Circled


Imagem após imagem. Imagem após imagem. E o abutre
Circulava.

Circulava.


Ted Hughes

Versão Brasileira:
Ivan Abutre & Priscila Prometéia

domingo, outubro 02, 2005

Será que ela vai se ver aqui?

Vermelho, o verde dos olhos.
Verde, o vermelho dos lábios.

Vermelho e verde, o sinal: vai
passar o amor. O amor do pai,
ator e autor da sua felina
feminilidade cristalina.

Verde e vermelha, a planta:
versificá-la não adianta
se é melhor no colo dela pousar.

Silêncio, leve silêncio:
cio que se evola

num perfume perfeito
que perfura o ar.

sábado, outubro 01, 2005

OUTUBRO OU NADA

Bom: Primavera é uma estação pra começar do começo, então vamos começar tudo de novo.

Exercício 1: Complete, revise ou adapte pro cinema o seguinte poema, de autoria não confirmada de Alexandre França e Ivan Justen Santana (participação especial de Cláudia Becker):

Estou com o fígado até o pescoço da tua virtude:
cansei do teu porre total de sobriedade:
já mandei minha saúde na saudade
descolar um bandeide
pra poder sangrar à vontade