terça-feira, julho 20, 2004

Triste a escutar pancada por pancada

Frio e chuva massacram o corpo por fora.
 
Angústia do irreversível e solitude
completam o serviço por dentro.
 
Eu queria falar de diálogo,
mas parece que só os mudos me ouvem.
 
Então (de novo) mais um poema
explícito, simples, falso como tudo mais.
 
Bom apetite:
 
A ARTE DA PERDA
 
(sugado de Elizabeth Bishop)

Perdi até o que eu já nem tinha: 
uma menininha que brinca sozinha. 

Perdi coisas que já nem são:
coisas que nem vem nem vão. 

No vão das perdas, o que se acha
é uma caixa dentro de outra caixa
dentro de outra caixa. 

Perco sempre, até de mim, sempre
perco como quem perde eternamente. 

A derrota na vida, minha querida,
sobra até para quem deixa a bebida,

o cigarro, o amor, a raiva e a culpa:
será que perder tem alguma desculpa? 

Eu já nem sei quanto mais perderei
nem se bem sei o que esqueci de rimar: 

perdido, tropeçando no tombadilho
do navio de loucos onde me soltaram,
tocando o céu e bebendo o mar,
só sei que nunca deixarei de amar.

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