quinta-feira, julho 14, 2011

Versos de Emiliano Perneta, em prenúncio deste mês de agosto...

VERSOS DE OUTRORA

Fui bom. Mas a bondade é coisa trivial:
A infância, a infância fez-me uma guerra infernal.

Fui alegre e sincero. O mundo, a rir, em troco,
Abominavelmente achou que eu era um louco.

Ema, a teus pés caí, beijei-te as mãos, Ester!
Fiz tolices de quem não sabe o que é a mulher...

Com que olhar de altivez, com que fundo desprezo,
Chamastes-me coitado – olhar noutro olhar preso.

Numa ideia de forma esquisita, uma vez,
Aspirei com ardor a esplêndida nudez;

Gente que não entende um fino gozo d’arte,
Que eu era um imoral, disse-o por toda parte.

Indiferentemente eu agora caminho
Sobre rosas em flor ou sobre linho ou espinho;

Automático vou, sem pesar nem prazer;
Ora pois! vamos ver o que é que vão dizer...

[Num País de Bárbaros.]

Emiliano Perneta (1866-1921)

Fonte:
PERNETA, Emiliano
Ilusão e outros poemas.
Rio de Janeiro : GRD, 1966 [pp.51-52]

2 comentários:

Wagner Schadeck disse...

Grandes versos do Emiliano, como sempre.

Legal, Ivan.

Abraço,

Wagner

Eduardo Miranda disse...

Gostei Ivan. Confesso que não conhecia... Valeu o post.

Aquele abraço!