No Jardin des Plantes, Paris
O olhar, de tanto passar pelas grades
gastou-se: não está preso a mais nada.
A ela, só existem mil grades, e atrás de
mil grades o seu mundo todo acaba.
O ritmo macio do seu movimento
forte, em círculos cada vez menores,
é uma dança de energia até um centro
onde jazem suas vontades enormes.
Raramente ela descerra em silêncio
o véu da pupila – e a imagem vivaz
adentra a mansidão do corpo tenso,
cai no coração e se desfaz.
Rainer Maria Rilke
Versão felina brasileira
(reescovando os pelos da pantera
numa singela homenagem a Monica Berger:)
Ivan Justen Santana
sexta-feira, setembro 23, 2011
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3 comentários:
um clássico. felinomilimétrico.
bela tradução, ivan...
mas,
o último verso não tem que ficar metricamente quebrado, insuficiente, falhado, como a própria pantera?
quem for ao jardim zoológico de ctba vai ver exatamente o que se lê no poema: a mesma implosão interior, a neurose animal, a mesma ferocidade que falha, que não se realiza; uma onça ou leopardo em estado de autismo numa cela de 4m de largura por 6m de profundidade.
só o homem pra fazer este tipo de coisa - e se divertir com toda a família!
abçs.
Valeu a leitura, Rodrigo -
e você está certo quanto à questão métrica, encaixando na incompletude final do bicho preso -
assim, o último verso deveria ter só oito sílabas - e agora vou reduzir pra nove (é o máximo que consigo no momento) -
também vou mexer mais um pouco nos versos 3 e 4 -
afinal, se a pantera está ali presa, não custa cutucá-la mais um pouco com minha varinha métrica e meu plectro espectro de tradutor, não é?
q beleza! ainda melhor.
a primeira estrofe ficou muito boa. mais uma daquelas "locuções rímicas" surpreendentes, super em dentes, afiadíssimas...
r.m.
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