(para Monica Berger, Sérgio Viralobos e Sandra Adriana Fasolo)
Nós, as crianças deste milênio
temos dez, vinte, trinta, quarenta,
cinquenta e até cento e poucos anos.
Estamos nesta terra a passeio?
Tem vezes que é isso que aparenta.
Tem vezes que assim nos enganamos.
Aqui neste país meio cheio,
a língua que falamos ostenta
estranhezas em seus muitos planos.
Mas isso não é só aqui. É um veio
que toda língua pensa que inventa
nas babélicas fusões de humanos.
Tal fala falamos, pois também o
falar nos refere a gente, imensa
variação dos tratos cotidianos.
Portanto, a gente, as crianças deste
milênio (notem que os calendários,
quais línguas, tampouco servem todos)
ainda estamos em tempos de peste,
em tempos de desajustes vários.
Notamos quanto nos faltam modos,
quanto falta um respeito que preste
a todos. Sujamos o lugar, e os
saberes que temos são só dos
poucos que pensam que sabem. Neste
cenário, entre impossíveis cenários,
desengatando-nos dos engodos,
se é possível salvar o que reste,
talvez só esta percepção aclare os
fatos, raspe os restos, passe os rodos:
a humanidade ainda engatinha.
Debatemo-nos, bichos dispersos,
filhotes disputando algum prêmio.
Nossa arte? Até que ela é bonitinha.
No meio dos pesadelos: gestos.
No meio da massa rude: gênios.
Religiões, ciências vêm como vinha
comovente a inocência. Imersos,
valores suplicam oxigênio
na atmosfera humana que definha.
Mas sejam ensaios estes restos.
Seja tudo isto parte do treino.
Seja aqui só o início da linha
por mais horizontes e universos
além destes quarenta e seis versos
a nós, crianças deste milênio.
* * *
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