quinta-feira, julho 28, 2011

Dois gentis poemas em parceria com o Polaco da Barreirinha

APOCALIPSENÃO

serei breve:
calor de neve
sob sol ferve

vem pra porrada
se acha que nada
me deve

eu apelo aos maus elementos
da tabela de mendeleiéve

não discuta como escrevo
pelo que lembro nada lhe devo

posso não saber porra nenhuma
pronome pra gramático que suma

sei que te conheço pela alcunha:
sem dente nem unha
jamais serás minha testemunha

* * *

APOCALIPSE NÃO II

teu olho gordo
emagrece a olhos vistos
pode vir com todos
os teus jesus cristos

nenhum deus aliviará
teus erros crassos mortais

todos os homens são sinistros
imortais somente os sonhos
as catedrais batem os sinais
e os trens apitam os sinos

se for pra ser como você
daqui pra frente
tudo pode
tudo pode e vai acontecer

Antonio Thadeu Wojciechowski
Ivan Justen Santana

segunda-feira, julho 25, 2011

Um tributo inevitável à vítima da vez...


I HEARD IT THROUGH THE GRAPEVINE
(Norman Whitfield / Barrett Strong)

UM PASSARINHO ME CONTOU
(Versão Brasileira: Ivan Justen Santana)

I bet you wonderin' how I knew
'Bout your plans to make me blue
With some other guy you knew before
Between two of us guys you know I love you more
It took me by surprise, I must say
When I found you yesterday
Aposto que você imagina como eu sabia
Dos seus planos de me fazer essa judiaria
Com esse outro cara, um velho chapa seu
Mas de nós dois quem te ama mais sou eu
Me pegou de surpresa, é melhor que eu conte
Que eu te vi de longe ontem à noite

Don't you know that
I heard it through the grapevine
Not much longer would you be mine
I heard it through the grapevine
Oh I'm just about to lose my mind
Honey, honey, oh, baby

Não sabia você, mas
Um passarinho me contou
Que não seria longo o nosso amor
Um passarinho me contou
E estou prestes a perder o tom
Minha honey baby

I know a man ain't supposed to cry
But these tears I can't hold inside
Losin' you would end my life you see
Cause you mean that much to me
You could have told me yourself
That you loved someone else

Sei que um homem não se vê chorar
Mas esse choro eu não sei segurar
Perder você pra mim vai ser o fim
Percebeu como valia tanto assim?
Você podia ter me dito uma palavra
Sobre como amava esse outro cara

Instead
I heard it through the grapevine
Not much longer would you be mine
Ohh I heard it through the grapevine
And I'm just about to lose my mind
Honey, honey

Em vez disso
Um passarinho me contou
Que não duraria muito o nosso amor
Ohh, um passarinho me contou
E estou prestes a perder o tom
Minha honey baby

People say believe half of what you see
Oh, and none of what your hear
But I can't help but be confused
If it's true please tell me dear
Do you plan to let me go
For the other guy you loved before?

Dizem não acredite em tudo que é visto
Só não duvide do que chega ao ouvido
Mas não consigo não ficar confuso
Se é verdade então me conte tudo
Você planeja me largar na estrada
E ir ficar com aquele outro cara?

I heard it through the grapevine
Not much longer would you be mine
Ohh I heard it through the grapevine
And I'm just about to lose my mind
Honey, honey

Um passarinho me contou
Que não duraria muito o nosso amor
Ohh, um passarinho me contou
E estou prestes a perder o tom
Minha honey baby

domingo, julho 17, 2011

SARAIVADAS A ILHA E RIO

(Para Alberto Centurião e Sandra Adriana Fasolo)

Nenhuma ilha é um ser humano
se não souber quais livros levar a si.
Desertos são grandes mesmo habitados
e as veredas não molham o mesmo engano
duas vezes num espelho de lagoa que sorri
a um rio cercado de ilhas por todos os lados.
*

quinta-feira, julho 14, 2011

Versos de Emiliano Perneta, em prenúncio deste mês de agosto...

VERSOS DE OUTRORA

Fui bom. Mas a bondade é coisa trivial:
A infância, a infância fez-me uma guerra infernal.

Fui alegre e sincero. O mundo, a rir, em troco,
Abominavelmente achou que eu era um louco.

Ema, a teus pés caí, beijei-te as mãos, Ester!
Fiz tolices de quem não sabe o que é a mulher...

Com que olhar de altivez, com que fundo desprezo,
Chamastes-me coitado – olhar noutro olhar preso.

Numa ideia de forma esquisita, uma vez,
Aspirei com ardor a esplêndida nudez;

Gente que não entende um fino gozo d’arte,
Que eu era um imoral, disse-o por toda parte.

Indiferentemente eu agora caminho
Sobre rosas em flor ou sobre linho ou espinho;

Automático vou, sem pesar nem prazer;
Ora pois! vamos ver o que é que vão dizer...

[Num País de Bárbaros.]

Emiliano Perneta (1866-1921)

Fonte:
PERNETA, Emiliano
Ilusão e outros poemas.
Rio de Janeiro : GRD, 1966 [pp.51-52]

quinta-feira, julho 07, 2011

TEORIA LITERÁRIA & PRÁTICA POÉTICA

Nesta trilha estreita de poeta
fujo às vezes da quadrilha.
Mas se aqui não largo
nem alargo a redondilha,
levo pouco perigo à meta.
Mesmo em métrica correta,
me escapa na onda a quilha
e a bola que vai redonda
volta quadrada da forquilha.
Então chega de embromação:
meu verso tem que ser mais
que minha conflagração,
e hoje tive uma sacação
além das rosas do Guimarães
e de seus pães e opiniães,
pra lá do seu bezerro erroso
e do meu estudo de Dario Vellozo.
Acompanhe a maravilha:
se a consciência é a mãe,
a realização será a neta
se a imaginação for filha.
Conclusão com arrepio:
a terceira margem do rio
está ali na beira da ilha.
*

domingo, julho 03, 2011

A MIL BEIJOS DE PROFUNDIDADE

(A Thousand Kisses Deep, Leonard Cohen)

The ponies run, the girls are young
The odds are there to beat
You win a while and then its done
Your little winning streak
And summoned now to deal
With your invincible defeat
You live your life as if it's real
A Thousand Kisses Deep

Os pôneis correm, as minas são jovens
A sorte está por ser lançada
Você ganha aqui e ali já morre
Sua sortezinha de chegada
E agora intimam que você encare
Perder sua invencibilidade
E você vive vendo a verdade
A mil beijos de profundidade

I'm turning tricks, I’m getting fixed
I'm back on Boogie Street
You lose your grip and then you slip
Into the Masterpiece
And maybe I had miles to drive
And promises to keep
You ditch it all to stay alive
A Thousand Kisses Deep

Estou no ataque, tomando baque
De volta aos antros da cidade
Você perde a pose e aí desliza
Numa obra-prima de vaidade
Terei eu chão a percorrer
Promessas a manter pra eternidade?
Você larga tudo pra sobreviver
A mil beijos de profundidade

And sometimes when the night is slow
The wretched and the meek
We gather up our hearts and go
A Thousand Kisses Deep

E enquanto a noite vai se arrastando
Os miseráveis e os fracos de vontade
Juntamos nossos corações e vamos
A mil beijos de profundidade

Confined to sex, we pressed against
The limits of the sea
I saw there were no oceans left
For scavengers like me
I made it to the forward deck
I blessed our remnant fleet
And then consented to be wrecked
A Thousand Kisses Deep

Restritos a sexo, estendemos até
Os limites da navegabilidade
Vi que não tinha mais maré
Pra um pirata da minha linhagem
Pude chegar até o convés
Abençoei o resto da marinhagem
Depois aceitei o naufrágio em pé
A mil beijos de profundidade

I’m turning tricks, I’m getting fixed
I’m back on Boogie Street
I guess they wont exchange the gifts
That you were meant to keep
And quiet is the thought of you
The file on you complete
Except what we forgot to do
A Thousand Kisses Deep

Estou no ataque, tomando baque
De volta aos antros da cidade
Acho que não trocam presentes
Que têm que ser guardados
E está tranquilo pensar em você
O seu arquivo, pronto e revisado
Exceto o que esquecemos de fazer
A mil beijos de profundidade

And sometimes when the night is slow
The wretched and the meek
We gather up our hearts and go
A Thousand Kisses Deep

E enquanto a noite vai se arrastando
Os miseráveis e os fracos de vontade
Juntamos nossos corações e vamos
A mil beijos de profundidade

versão brasileira:
Ivan Justen Santana