(na urgência da aparente quietude ensurdecedora)
Houve (sim: ouve!) dezessete policiais militares
que se recusaram a avançar sobre manifestantes,
se negaram a disparar balas de borracha
na cara de professores e professoras
(ou mesmo de jovens que pra blequebloques
ainda precisam comer muito feijãozinho).
Houve, não ouve?
Não.
Segundo a própria polícia militar, não, não
houve:
"Não houveram." "É falsa a informação."
A corporação nega, ó, minhas nêga.
Mas essa voz aqui diz: ouve, houve sim.
Mesmo que lembre aquele filme futurista
daquele dinamarquês fisiculturista,
o Arnoldo e Suas Nêga,
em que o protagonista
é policial que se nega a matar gente inocente,
e depois prendem ele e editam o vídeo
e comprovam que ele atirou na gente inocente,
sim, mesmo que isso lembre ficção científica
cinematográfica, a verdade da ficção pode corrigir
a verdade da mentira da negação da verdade que contaram:
assim,
sim, ouve:
houve dezessete (vinte e dois, um só e milhares)
daqueles policiais militares
que se negaram ao massacre.
Tenham sido inventados: precisavam ser.
Existiram mesmo: estejam ou não por aí.
E se esse poema chegar a algum deles
ou a alguma delas, enfim,
se chegar a você,
e você se puser na pele
de dezessete policiais militares
que romperam seu próprio código de obediência,
que sacrificaram sua própria posição de trabalho
para não obedecer às ordens de covardes,
então você também sabe:
ouve, houveram, houve:
dezessete policiais militares
no dia vinte e nove do quatro
de dois mil e quinze
na cidade de Curitiba
no estado do Paraná
(recordando os dezoito do forte
cantados por Scharffenberg de Quadros)
que se recusaram ao massacre,
sacrificaram a própria profissão,
romperam o código de obediência,
disseram não à violência,
disseram não à estupidez
e disseram sim à coragem.
IJS
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Um comentário:
Muito bom, Ivan. Se for um mito, eis a verdade do espírito. Dá para escutar sua voz recitando.
Monica.
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