segunda-feira, dezembro 28, 2009

UM PRESENTE AO MEU AMIGO FILIPPO, QUE PEDIU E VAI LEVAR

Subterrâneo Banzo Blues

Johnny no subsolo
Manipula os ingredientes
Enquanto eu aqui no térreo
Penso em nossos governantes
O homem do capote
Sem emblema nem emprego
Diz que o troço só deu tosse
Exige troco ou arrego
Cuidado, guri
Você fez alguma aqui
Aprontou sabe Deus quando
E outra vez vem me enrolando
Melhor agachar no beco
Pra ver se acha um novo amigo
O homem do chapéu felpudo
Muita pinta e bem marrudo
Quer trocar nota graúda
Você só tem dez miúdas

Maga vem ligeira
Cara cheia de fuligem
Diz que um x-9 de aplique
Plantou miques no tabique
Mas já tem grampo na linha
Maga tá de conversinha
Que eles vinham em tal dia
Ordens da promotoria
Cuidado, guri
Não estamos nem aí
Ande na ponta dos pés
Sem rebite no café
Melhor evitar manés
Jatos d’água e boa fé
Mantenha o nariz limpo
Verifique o figurino
Não precisa olhar pra cima
Pra saber qual é o clima

Fique ruim, fique bom
Cole lá no poço ou
Toque um som, nesse tom
Pode ser que venda algum
Tente mais, tome um baile
Volte atrás, escreva em Braille
Seja preso, fuja triste
Se falhar então se aliste
Cuidado, guri
Ainda atiram em ti
Usuários, salafrários
Perdedores perdulários
Enchem cines e teatros
Garota em redemoinho
Já procura outro cretino
Não confie em sufrágios
Saiba os preços dos pedágios

Nasça, cresça, se aqueça e não esqueça
Calça curta, escaramuça
Num romance dance rumba
Troque a roupa, faça a crisma
Tente vencer nesta vida
Presenteie ambos os sexos
Com bilhetes em anexo
Não furte nas lojas
Vinte anos de escola
E você ganha essa esmola
Cuidado, guri
Dissimulam mas eu vi
Pule logo num esgoto
Acenda incensos de sândalo
Não use sandálias, evite os escândalos
Não queira ser um pixote
Antes sim mascar chiclete
A bomba não funciona
Foi depredada pelos bandos de vândalos

Bob Dylan

Subterranean Homesick Blues,
versão brasileira:
Ivan Justen Santana,

em oferenda a Filippo Mandarino

...

(outro link recomendável, a propósito)

segunda-feira, dezembro 14, 2009

COMO UM DYLAN DEPOIS DO OUTRO...

– Isso não é coisa que se Dylan,
mas eu adylanmito: sou um dylantante
e curto Cobain ficar me fazendo de Bob...
Afinal, Dylan-me com quem Thomas
e Roberte-ei quem és...

– Argh, Ivan! Não faça aZimmerman...

– Tá bom, então, já que like a rolling estou,
juro que este é o último dos trocadylans...



[E aqui vai mais um Dylan (di)vertido a vocês:]


AMOR MENOS ZERO / INFINITO
(LOVE MINUS ZERO/NO LIMIT)

O meu amor, ela fala silenciosamente,
sem ideais, pacificamente,
não precisa ser abertamente fiel.
Igual ao gelo, igual ao fogo ela fala–
tem pessoas que fazem um escarcéu:
rosas, promessas, bilhetes,
e o meu amor, ela ri em ramalhetes–
paqueradores não podem comprá-la.

Nos pontos de ônibus e nas lojas de conveniência
as pessoas se enchem mutuamente a paciência,
leem livros, repetem poetas,
tiram conclusões em excesso.
Alguns falam como se fossem profetas
e o meu amor, ela delicadamente anota:
–nenhum sucesso é mais que a derrota
e a derrota não é nenhum sucesso.

O romântico chora e se descabela,
a madame acende uma vela–
nas promoções da cavalaria
até os peões amargam desilusões.
Estátuas feitas com palitinhos
desabam umas sobre as outras.
Meu amor pisca e nem se incomoda,
ela sabe demais pra achar as razões.

A ponte à meia-noite balança,
o médico rural vagueia e se cansa,
a sobrinha do banqueiro busca o sublime,
esperando reis magos virem presenteá-la.
O vento uiva como um crime.
A noite é fria e o dia, chuvoso.
E meu amor, ela é como um corvo
de asa quebrada pousado na minha sala.


Bob Dylan
Versão brasileira: Ivan Justen Santana