sábado, novembro 06, 2010

ARQUITETURA DA DESCONSFRUIÇÃO

*
Era fumaça em gelo seco
Onda de magma – rocha em lava
Quanto mais oculta no beco
Mais revelava

Duma pelugem colorida
Ou fofa nuvem branca e preta
A retina não consolida
Nem interpreta

Proibido fruto – vinha da ira
Quer fosse só a mira da vinha
Ir e vir viram vira-vira
E assim convinha

Se as suas luzes vissem dar
Hostes aureoladas em horda
São abstrações que o paladar
Morda e remorda

Enfim festim vamos manter na
Fusa – confusa sala russa
E a face à mostra que ela alterna
Nua debruça
*


*imagem incidental: escultura de
Max Bill, "Unidade Tripartida", 1949

7 comentários:

Wagner Schadeck disse...

Bem ousado este, Ivan, tanto nas rimas quanto no ritmo.
Isto demonstra que metros não causam titubeio, e nem os pés geram tropeço e quedas para um poeta experimentado.

"Onda de magma – rocha em lava (verso 2" é uma referência ao Eyjafjallajökull?

Abraço,

Wagner

Ivan disse...

Saudações, Wagner --

em atenção às suas observações,

eis meu esquema em "Filosofia da Descomposição":

- o poema surgiu duma rima "nova rica": preta com interpreta;

-a partir daí,
a regra "pseudoulipoana" que se impôs foi criar outras quatro rimas assim, completando o time de vogais tônicas, e ordená-las "A-E-I-O-U", pra cutucar o sonetaço do Rimbaud;

- o ritmo foi aos poucos sendo iambicado, com golpes trocaicos (já no primeiro pé, por exemplo), e a primeira estrofe que saiu foi em três octossílabos e um tetrassílabo de remate, o que forçou as outras a se configurarem assim;
- tentei fazer os octossílabos baterem na quarta sílaba normalmente, mas não hesitei diante das síncopes eventuais;

- dito isso, parece que se estraga o que teoricamente seria o mais importante (o significado, não?), mas assim também quaisquer associações (como a que você fez com o Eyjafjallajökull) ficam perfeitamente válidas, especialmente a que "sancionei" en passant: com a escultura do Max Bill, que muito frequentei, pois morei uns três anos quase dentro do MAC, lá na USP, e volta e meia estava lá pescoçando a "arte contemporânea"...

Valeu?

Ivan

rodrigomadeira79 disse...

maravilha de poema!

abç,
rodrigo.

Anônimo disse...

Ivan, Ivan,

Vi seu nome no edital,
com letras em neon e tudo!

Parabéns
Agora é que são elas

ufpr - 2011

Puts, não vi se o seu Wagner Shadeck também estava por lá...


n.

Anônimo disse...

Schadeck, oras


n.

Ivan disse...

Nara, Nara:

grato pelo comentário e pela saudação -

infelizmente, os meus camaradas William e Wagner não transpuseram esse ordálio - mas eles são jovens e agora terão oportunidade de mostrar seus poderes de superação;

não obstantemente, meus ex-colegas Ivan Mizanzuk e Kelly Lima também foram aprovados, esta no mestrado, aquele no doutorado, observando que ainda é necessário defendermos bem nossos projetos, para modos de ingressarmos na pós da UFPR.

Ivan, o obtemperante (não o ó-bê-temperante...)

Anônimo disse...

realmente um bom poema!

legítima lava safra ivan justen, o mestre!