quinta-feira, junho 21, 2012

OS AMIGOS

No rapé, no café, e também no vinho,
ao limiar da noite eles se levantam
como as vozes que à distância cantam
sem que se saiba o quê, pelo caminho.

Levemente irmãos de igual destininho,
dióscuros, sombras pálidas, me espantam
as moscas das rotinas, me adiantam
a seguir à tona no redemoinho.

Os mortos falam mais alto: ao ouvido,
e os vivos são mão fraca, teto, jeito,
soma do que é ganho e do que é perdido.

Assim, um dia, sombra em barca cheia,
de tanta ausência abrigará meu peito
essa ternura antiga que os nomeia.


Julio Florencio Cortázar
versão curitibana:
Ivan Justen Santana

3 comentários:

rodrigo madeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
rodrigo madeira disse...

belo poema, ivan. não conhecia.
e a tradução ficou massa.

só não gostei muito do oitavo verso. o pé quebrou (em espanhol os versos têm 11 sílabas poéticas, o que equivale, em português, aos decassílabos) e o sentido se perdeu um pouco.

tz assim funcionasse melhor:
"e os vivos são mão fraca e parapeito"

ou, tomando liberdades, "e os vivos são mão débil, teto e leito."

agora, o terceto final ficou uma beleza!

abç.

Ivan disse...

Amigo Rodrigo:

você acertou em não gostar: estava mesmo quebrado [ou que brado] --

adoto parcialmente sua segunda sugestão: acho que agora o troço ficou quase bom, enquanto a nível de.