segunda-feira, junho 16, 2014

ABC: uma Apresentação do Bloomsday em Curitiba (ou Para: compreender o Paraná?)

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Antes de tudo, esse texto é para celebrar a data, paradoxalmente fundamental para as literaturas curitibana, paranaense, brasileira e universal, tanto quanto para a irlandesa.

Sim: 16 de junho é o Bloomsday, e se você não sabe do que se trata, a Wikipédia está aí também para isso. O importante para nós aqui e agora é que, desde que o Dalton Trevisan (que fez 89 anos anteontem) publicou na sua revista Joaquim um trecho do Ulysses de James Joyce (não creditou a tradução do trecho, que está no número 4 da revista, mas presume-se que foi ele, Dalton, o tradutor), e desde que o Paulo Leminski publicou seu livro-emblema Catatau, catatotalmente sob o influxo do Finnegans Wake daquele mesmo James Joyce, tais gestos (entre outros) foram estabelecendo um grau de parentesco, uma familiaridade bem tipicamente curitibana, irlandesa, paranaense, inglesa, brasileira, ou -- numa palavra: humana.

Mas eu talvez começasse melhor ainda explicando o título alternativo desse texto: "Para: compreender o Paraná?"

Em idos do milênio passado, meu amigo e parente [primo de minha mãe em terceiro grau] Hélio Puglielli publicou um pequeno livro de breves textos, intitulado "Para comprender o Paraná". O aproveitamento aqui é para expor uma característica fundamental "nossa", como paranaenses, brasileiros, e até -- enfim: humanos.

Chegaremos ao ponto: paciência. Com o novo acordo ortográfico, foi suprimido o acento diferencial, mas (humanos, demasiadamente) só nalguns casos, como esse da palavra "para", quando é verbo, por exemplo em frases como "ele não para de escrever", ou em "o Paraná para para a explicação", o que dificulta assim a desambiguação com a preposição "para", sacaram?

Enfim: para com isso, Ivan! Compreender o Paraná? E estou parando mesmo, mas para, além de propor uma compreensão do Paraná, explicar Joyce, Leminski, Dalton, e tudo mais...

Sim: porque hoje é o Bloomsday, e esta será talvez mais uma única última chance minha de tais explicações, então passemos a um ponto nevrálgico: uma ocasião em que Leminski foi gravado mencionando o nome do Hélio Puglielli. Foi numa entrevista ao jornalista Aramis Millarch, e pode ser ouvida clicando aqui.

Atenção: são 4 horas de gravação, e a partir da segunda hora o nível da conversa começa a escorregar, pois Leminski atinge um pico alcoólico e aí... Aí a certa altura, sem mais censura, ele se refere ao meu caro Helio Puglielli. Mas não é muito elogioso. De qualquer modo, para tudo de novo -- é esse fato de falar mal a característica fundamental do paranaense, do curitibano, do irlandês, do ser humano?

Quero confiar que não: mas é uma das formas de nos irmanarmos e nos identificarmos a todos. Temos origens todas compartilhadas e que se imbricam no fenômeno da vida, nos tornando uma família planetária: isso pode ser percebido melhor, se em vez de nos referirmos à raça paranaense, passarmos essa referência, por exemplo, à literatura paranaense...

Sim: você pode me dizer: a armadilha está armada: quem procura estabelecer um senso de origem, uma separação e definição desse tipo, está a um milímetro do fascismo. Mas eu sou paranaense (sem tanto orgulho, mas com muito amor) e digo: sim, só que a percepção da diferença, ou a tentativa de especialização, acabam por nos fazer perceber a relatividade disso, especialmente num caso como o do Paraná: humanamente, brasileiramente, e até mesmo ortograficamente (tão esquizofrênica e confusa quanto nossa brasilidade expressa na língua portuguesa, humanamente bagunçada e organizada desse jeito), enfim: sim: vivenciamos uma condição de busca de origens, de mitos de unidade, e afinal de contas, de percepções de diversidade, biológica, política, artística -- e assim começamos a nos compreender mesmo a partir dessas percepções.

Enfim: sim: eu pretendia escrever muito mais, mencionar muito mais gente, especialmente gente ainda mais contemporânea na "literatura curitibana", feito o Adriano Scandolara (italiano? curitibano? joyciano?), que postou uma beleza de texto sobre Joyce hoje aqui neste blog Escamandro mencionando aí o também tradutor agora bastante notório de Joyce, Caetano Galindo -- enfim: mas sim: vamos concluir: está tudo relacionado, minha/sua/nossa/outra/toda gente: a mistura de culturas é o que faz a cultura, e a vontade de cercar e definir uma "literatura paranaense" deve incluir e adotar o fato cultural de que esta literatura é formada/deformada/influenciada/engolida/cercada por todas as outras, especialmente neste estado constituído de misturas, mas caracteristicamente em toda a face do planeta -- e quiçá fora dele...

E assim: sim: tudo se explica, não?

Mas parece que tem um evento acontecendo também aqui em Curitiba que também pode explicar isso de certa forma, mas me falhou agora a memória qual é... De qualquer modo: bola pra frente!

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2 comentários:

Anônimo disse...

Ivan,
Fui (sou) amigo de seu irmão Cid e dele ouvi muito sobre sua admiração por Joyce. De lá para cá passaram-se muitos anos, os Dublinenses, o Giácomo, o Homem Comum Enfim, o Retrato, duas viagens à Irlanda, Ulisses e muitos pint de Guinness!!
O Finnegan's Wake eu guardo para mais tarde. Para quando eu estiver mais perto de reencontrar seu irmão. É bom que eu tenha algo novo para conversarmos senão ele certamente monopolizará a conversa.
Abraço
Rodrigo Moralez

Ivan disse...

Rodrigo:

ri bastante com esse "monopolizará a conversa", que remeteu a muitas conversas que tive com o Cid --

muito grato pelo comentário --

quanto a Joyce, você deve ter visto que saiu um "Finn´s hotel" (traduzido por um mano Caetano que não é aquele mas enfim...) -- um bom preparo pra aventura wake --

quanto ao mais, apareça por aqui whenever: tem até poemas do Cid postados em abril deste ano --

valeu!

Ivan
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