A primeira é com o Thadeu, feita na maior parte por ele, mas tem os meus pitacos por ali;
a segunda é com o Plínio Gonzaga, no bar A Gata Comeu no dia 8 de dezembro de 2006 (início da semana de homenagens ao finado poeta Marcos Prado) – os dois versos finais são praticamente roubados dum poema que fiz com o Francisco Cardoso;
portanto, a terceira é pra tentar compensar o Francisco, mas essa parceria com ele foi só até o verso 9: o resto eu completei sozinho, e espero que ele me perdoe por todas essas gafes...
UMA GARRAFA SEM GÊNIO
A tristeza foi tudo o que sobrou
Pra mim, dentro da garrafa vazia,
Pois muito longe da festa eu estou,
Empobrecendo a rima da poesia.
Há pouco tantos por aqui havia
Brindando aos deuses o sonho do gol
Num estádio lotado de alegria,
E agora nem eu aplaudo o meu show.
Só um hiato cabe em lapso como esse,
O eclipse é total, e a lua, nova,
Mas à luz do verso me salvo nesse
Interlúdio imortal. Perdi o interesse:
Nada como um som indo atrás da prova
De que existe vida além dessa cova!
***
A CAVERNA DO BURACO NEGRO
prados, colinas e ravinas,
penhascos, depressões, vales,
cidades, maremotos, ruínas,
montes, montes e montes –
todos os lugares de relevo
não mexem um pêlo da minha sina,
todas as montanhas de nervos
e os intensos rios de lava
não valem um cabelo que resvala –
eu não celebro aniversários de morte,
a vida é que deve a essa descida –
dobrei todas as esquinas,
me perdi em todas as propostas
e agora até as frentes frias
me deram as costas.
***
ETERNA FEMININA
A mulher, a que afresca o teto do meu crânio
E algarismou meu alfabeto extemporâneo,
A sempiterna e carinhosa companhia
Cujo espinho de cor-de-rosa me amacia
E me amalgama o barro em lava incandescente –
Se me chama, me amarro, sem trava aparente;
Se me incita, e excita a cítara mais avara,
Ela compartilha o todo que amealhara –
Feliz combinação de forma e de intenção:
Um triz de distração na norma rigorosa,
Um quê de seriedade em meio à desrazão,
Um O de boca, um U de bunda, um A de rosa,
__Um E de bela, um I de indecisivamente,
__Que ilude, molha, frisa e ameniza a mente.
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11 comentários:
a eterna feminina ó como ameniza a mente.
ei, ivan, os estudos sobre a modernidade lhe interessam? você já fez a leitura do livro tudo que é sólido desmancha no ar, do marshall berman? estou tentando me inserir nos estudos sobre a modernidade e melancolia. gostaria de saber a sua opinião sobre esse livro.
Giuliano: sobre esse livro o pano pra manga é grande, e eu corro o risco de me enrolar numa camisa de força, mas vou tentar ser pontual:
- é bom ler o Fausto de Goethe (as duas partes) antes; ler também o romance Petersburgo, de Andrei Biéli, e a Educação Sentimental, do Flaubert...
- minha opinião sobre o livro do Berman é positiva - gostei sim;
A propósito:
- o Leminski teve que descer a lenha nesse livro, num artigo pra revista Istoé;
- o caso é que a Veja deu um grande destaque a esse lançamento, possivelmente por influência da Cia das Letras, que havia sido recém-fundada pelo Luís Schwarcz, o qual se criou na editora Brasiliense, idealizando a coleção Circo de Letras - depois que Schwarcz saiu da Brasiliense, o barco começou a afundar...
O Leminski, naquela altura (1987)publicava pela Brasiliense, então funcionou como um peão nesse jogo de xadrez que envolvia a batalha Veja x Istoé e Brasiliense x Cia das Letras -
apesar de começar a publicar resenhas e ganhar destque na Veja (entre 1982 e 1984), a partir de 1985, Leminski passou a ter visibilidade na Istoé - nunca mais saiu nem o nome dele na Veja, a não ser no obituário (junho de 89), no qual descontextualizam uma declaração dele na Istoé - ele dissera, ironicamente: "talvez eu seja mesmo um poeta meio vulgar..." (ele estava ironizando o fato de ter esgotado 3 edições do Caprichos&Relaxos).
A ironia é que o Leminski e o Berman tiveram um fato na vida que poderia aproximá-los (ambos perderam um filho ainda criança para o câncer...)
Porra - isso era tudo que eu queria escrever sobre o livro do Berman, e está meio nas entrelinhas na minha dissertação de mestrado -
satisfeito, Giuliano?
ivan,
se tudo que é sólido se desmancha no ar, e nisso podemos incluir não só os bens materiais, mas os valores, os desejos, as emoções, as relações sociais devo lhe comunicar que a minha satisfação se diluiu tal como açucar numa xícara de água. eu quero tudo e mais e mais, ivan.
você poderia passar o e-mail de Mefisto?
***
grato pelas indicações, camarada, mesmo que a educação sentimental esteja na lista dos procurados, bem como fausto, ainda mas depois da leitura do berman.
é interessante essa coisa dos caprichos e relaxos do velho polaco. foi sobre a literatura do lemi que vc escreveu sua tese?
Minha dissertação é sobre as traduções feitas pelo Leminski.
Ivan, me desculpe enxeretar demais, mas como você vai percebendo, tenho muitas perguntas que não calam. De jeito algum. É bom? É ruim? Pode ser ruim pelo fato da gente viver cansado. Não sei.
Bem, meu caro, gostaria de lhe perguntar qual foi o livro mais foda que vc já leu e releu? Um, dois... livros.
Giuliano - como eu também estou incomodando um outro sofredor, de uma forma semelhante, então te respondo de novo (mas vê se não abusa!)
Um dos livros mais "fodas" que li e reli chama-se O mestre e margarida, do Mikhail Bulgákov.
Joyce seria uma referência meio óbvia (e eu ainda não completei a releitura do Ulysses, ou qualquer leitura inteira do Finnegans...), Hilda Hilst (Contos de Escárnio)poderia ser para eu posar de leitor "cult", e o resto dos grandes livros dos gênios da literatura todo mundo sabe quais são,
mas o cara "muito foda" que eu quero reforçar aqui é o Bulgákov - e basta, valeu?
Um colega - que estuda húngaro - me disse uma vez sobre esse livro.
bastou, mas abusando & lambuzando, quero aquela paródia do drumma, aquilo é duca!
caro ivan, quando pego alguém pra cristo, eu me almbuzo todo, então, com o perdão antecipado da saturação chata das perguntas, lá vai mais uma: você leu o tônio kroeger, do thomas mann? e o que achou? há um diálogo, que está mais próximo de um monólogo do Tônio, com Lisaveta, em que o personagem se sente perturbado com a questão arte x vida. é uma reflexão que tem tomado todos os meus neurônios e sentidos nos últimos dias.
o que acha, caso você se lembre...
abraços.
a questão de miscigenação entre um alemão e uma brasileira já é uma questão problemática pra o personagem. diferente das outras mulheres, sua mãe é sensual, toca bandolin e tem nome consuelo, não a toa que o nome do protagonista é tonio(de antonio?). mas a questão vai muito mais funda ao traçar um paralelo com o individuo hamletiano, trágico, sempre com seus os botões.
o pico desse conto de thomas mann, seria esse hibridismo entre uma espécie de estrangeiro - haja visto a miscigenação - e a questão do ser ou não ser, sem com isso cair numa corroboração de traços análogos?
pode isso?
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