Passando mais uma semana sem postagem (está difícil colar os caquinhos), sou forçado a me valer dum poema do Leminski, que fazia tempo que eu não mencionava. Eu di uma busca (sim, eu "di uma busca", porque "quilo", tolerem...), eu di uma busca e não achei esse poema zanzando pela rede...
Leiam e repitam 37 vezes, como um mantra...
vento
que é vento
fica
parede
parede
passa
meu ritmo
bate no vento
e se
___des
_____pe
_______da
________ça
p.leminski
quinta-feira, maio 29, 2008
quarta-feira, maio 21, 2008
Os pedaços de verso que ainda me caem da cabeça
Tal qual todo horror e medo ela não demonstrasse -
Feito se o prazer e a dor ela descompusesse -
Tipo assim um rito e mito que ela só vestisse -
Como por um bem do qual só ela fosse a posse -
Essa face fez-se doce e disse: "fique susse..."
***
Tal qual um tolo que não mais se controlasse -
Feito em versinhos que ninguém mais entendesse -
Tipo assim mesmo sem poder que redimisse -
Como no tom errado que o surto lhe trouxe -
Você não tinha aqui no fim a rima em "-usse".
Feito se o prazer e a dor ela descompusesse -
Tipo assim um rito e mito que ela só vestisse -
Como por um bem do qual só ela fosse a posse -
Essa face fez-se doce e disse: "fique susse..."
***
Tal qual um tolo que não mais se controlasse -
Feito em versinhos que ninguém mais entendesse -
Tipo assim mesmo sem poder que redimisse -
Como no tom errado que o surto lhe trouxe -
Você não tinha aqui no fim a rima em "-usse".
terça-feira, maio 13, 2008
Para aquela a quem nunca escrevi
Àquela que rolou sobre meu parco limite de poeta,
Que nunca revelou qualquer vontade sua, secreta,
De ser musa daquele que mal sobrou por aqui –
A quem meus pedaços são obras completas,
A ela, que ainda vê gume nessas cegas setas,
Vai o lapso do melhor verso que jamais escrevi.
Que nunca revelou qualquer vontade sua, secreta,
De ser musa daquele que mal sobrou por aqui –
A quem meus pedaços são obras completas,
A ela, que ainda vê gume nessas cegas setas,
Vai o lapso do melhor verso que jamais escrevi.
sexta-feira, maio 02, 2008
De volta a uma obsessão
Semana retrasada foi lançada a revista Cadernos de Literatura em Tradução 8, contendo entre outros textos uma tradução que fiz do conto All the Dead Dears, da Sylvia Plath. No período em que mexia nesse conto, descobri que ela também escreveu, em 1956, um poema com o mesmo título.
Numa noite dessas perpetrei a tradução do poema, que segue aqui abaixo, dedicada à Marina Della Valle. Eu sei que não adianta advertir, mas é um texto muito sinistro: se você é uma pessoa impressionável, evite ler...
All the Dead Dears
Todos os Mortos Queridos
In the Archæological Museum in Cambridge is a stone coffin of the fourth century A.D. containing the skeletons of a woman, a mouse and a shrew. The ankle-bone of the woman has been slightly gnawed.
No Museu Arqueológico em Cambridge há um caixão de pedra do século IV dC, contendo os esqueletos de uma mulher, um camundongo e um mussaranho. O osso do tornozelo da mulher foi levemente roído.
Rigged poker-stiff on her back
With a granite grin
This antique museum-cased lady
Lies, companioned by the gimcrack
Relics of a mouse and a shrew
That battened for a day on her ankle-bone.
Ornamentado atiçador nas suas costas
Com um esgar granítico
Esta arcaica dama museu-encaixotada
Jaz, em companhia dos restos
Sem valor de um rato e um mussaranho
Que por um dia se refestelaram com sua tíbia.
These three, unmasked now, bear
Dry witness
To the gross eating game
We'd wink at if we didn't hear
Stars grinding, crumb by crumb,
Our own grist down to its bony face.
Estes três, já desmascarados, prestam
Seco testemunho
Do grosseiro jogo de comer
Que nem veríamos se não ouvíssemos
Estrelas triturando, migalha por migalha,
Nosso próprio grão até sua face óssea.
How they grip us through thin and thick,
These barnacle dead!
This lady here's no kin
Of mine, yet kin she is: she'll suck
Blood and whistle my marrow clean
To prove it. As I think now of her hand,
Com que esforço eles se agarram a nós,
Estes mortos encalacrados!
Esta dama aqui não é parenta
Minha, mas parenta ela é: vai sugar
Sangue e limpar minha medula até os fiapos
Pra prová-lo. Quando penso agora na mão dela,
From the mercury-backed glass
Mother, grandmother, greatgrandmother
Reach hag hands to haul me in,
And an image looms under the fishpond surface
Where the daft father went down
With orange duck-feet winnowing his hair ---
Da ampulheta banhada de mercúrio
Mãe, avó, tataravó
Estendem mãos megeras pra me arrastar,
E uma imagem surge sob a superfície do lago
Onde o pai apatetado afundou
Com pés-de-pato laranjas joeirando seu cabelo –
All the long gone darlings: They
Get back, though, soon,
Soon: be it by wakes, weddings,
Childbirths or a family barbecue:
Any touch, taste, tang's
Fit for those outlaws to ride home on,
Todas as queridas há muito idas: Elas
Voltam, entretanto, logo,
Logo: seja por velórios, casamentos,
Partos ou um churrasco de família:
Qualquer toque, gosto, olfato
Servem ao retorno destas proscritas ao lar,
And to sanctuary: usurping the armchair
Between tick
And tack of the clock, until we go,
Each skulled-and-crossboned Gulliver
Riddled with ghosts, to lie
Deadlocked with them, taking roots as cradles rock.
E ao santuário: usurpando a poltrona
Entre o tique
E o taque do relógio, até partirmos,
Cada Gulliver de crânio e ossos cruzados
Crivado de fantasmas, jazer com elas
Amortecidos, nos enraizando enquanto berços rangem.
Sylvia Plath
Versão brasileira: Ivan Justen Santana
Numa noite dessas perpetrei a tradução do poema, que segue aqui abaixo, dedicada à Marina Della Valle. Eu sei que não adianta advertir, mas é um texto muito sinistro: se você é uma pessoa impressionável, evite ler...
All the Dead Dears
Todos os Mortos Queridos
In the Archæological Museum in Cambridge is a stone coffin of the fourth century A.D. containing the skeletons of a woman, a mouse and a shrew. The ankle-bone of the woman has been slightly gnawed.
No Museu Arqueológico em Cambridge há um caixão de pedra do século IV dC, contendo os esqueletos de uma mulher, um camundongo e um mussaranho. O osso do tornozelo da mulher foi levemente roído.
Rigged poker-stiff on her back
With a granite grin
This antique museum-cased lady
Lies, companioned by the gimcrack
Relics of a mouse and a shrew
That battened for a day on her ankle-bone.
Ornamentado atiçador nas suas costas
Com um esgar granítico
Esta arcaica dama museu-encaixotada
Jaz, em companhia dos restos
Sem valor de um rato e um mussaranho
Que por um dia se refestelaram com sua tíbia.
These three, unmasked now, bear
Dry witness
To the gross eating game
We'd wink at if we didn't hear
Stars grinding, crumb by crumb,
Our own grist down to its bony face.
Estes três, já desmascarados, prestam
Seco testemunho
Do grosseiro jogo de comer
Que nem veríamos se não ouvíssemos
Estrelas triturando, migalha por migalha,
Nosso próprio grão até sua face óssea.
How they grip us through thin and thick,
These barnacle dead!
This lady here's no kin
Of mine, yet kin she is: she'll suck
Blood and whistle my marrow clean
To prove it. As I think now of her hand,
Com que esforço eles se agarram a nós,
Estes mortos encalacrados!
Esta dama aqui não é parenta
Minha, mas parenta ela é: vai sugar
Sangue e limpar minha medula até os fiapos
Pra prová-lo. Quando penso agora na mão dela,
From the mercury-backed glass
Mother, grandmother, greatgrandmother
Reach hag hands to haul me in,
And an image looms under the fishpond surface
Where the daft father went down
With orange duck-feet winnowing his hair ---
Da ampulheta banhada de mercúrio
Mãe, avó, tataravó
Estendem mãos megeras pra me arrastar,
E uma imagem surge sob a superfície do lago
Onde o pai apatetado afundou
Com pés-de-pato laranjas joeirando seu cabelo –
All the long gone darlings: They
Get back, though, soon,
Soon: be it by wakes, weddings,
Childbirths or a family barbecue:
Any touch, taste, tang's
Fit for those outlaws to ride home on,
Todas as queridas há muito idas: Elas
Voltam, entretanto, logo,
Logo: seja por velórios, casamentos,
Partos ou um churrasco de família:
Qualquer toque, gosto, olfato
Servem ao retorno destas proscritas ao lar,
And to sanctuary: usurping the armchair
Between tick
And tack of the clock, until we go,
Each skulled-and-crossboned Gulliver
Riddled with ghosts, to lie
Deadlocked with them, taking roots as cradles rock.
E ao santuário: usurpando a poltrona
Entre o tique
E o taque do relógio, até partirmos,
Cada Gulliver de crânio e ossos cruzados
Crivado de fantasmas, jazer com elas
Amortecidos, nos enraizando enquanto berços rangem.
Sylvia Plath
Versão brasileira: Ivan Justen Santana
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