terça-feira, fevereiro 10, 2009

Fidji breque (com direito a tradução)

Então, eu não costumava fazer isso, mas tenho voltado a examinar o que o sitemeter diagnostica das visitas e vistos de página aqui neste humilde tugúrio.

Me agradou muito que volta e meia aparecem visitantes que ficam uns cinquenta minutos por aqui e produzem umas vinte ou mais, vá lá, peidjvíiús (page views) - gosto que não tratem o blog como um diário em que a postagem anterior passou a ser embrulho de peixe, e adoro quando surge um comentário novo numa postagem de três meses atrás.

Esses dias veio alguém de Coimbra, Portugal, e acho que foi graças a uma menção do Rodrigo Garcia Lopes em seu EstúdioRealidade -

coincidentemente, ando lendo e curtindo escritores portugueses (nominalmente, António Lobo Antunes [Os cus de Judas] e Gonçalo M. Tavares [Jerusalém] - e aliás, graças àquele, hoje li uns poemas de Ruy Belo, e saboreei-os com muito gosto).

Então, em homenagem à língua portuguesa (espera aí, deixa eu frisar uma coisa - eu gosto mais que um ou dois me leiam umas vinte ou trinta vezes, do que uns trocentos venham e me leiam uma vez só, sumindo sem deixar vestígios),

enfim, em homenagem à língua portuguesa, deixo aqui a tradução de um poema de Theodore Roethke, um vilancete meio canção de ninar para octogenários (que eu - agora corro o risco de ofender, mas vá lá de novo - que eu associo um pouco ao espírito da cultura portuguesa, um negócio assim meio "archaico" e conservador e ao mesmo tempo visionário e infantil - arre, se é que me entendem...), senão vejamos:

The Waking
A Vigília

I wake to sleep, and take my waking slow.
I feel my fate in what I cannot fear.
I learn by going where I have to go.
Minha vigília é lenta, e velo pra dormir.
Destino eu sinto no que não posso temer.
Aprendo quando vou aonde eu devo ir.

We think by feeling. What is there to know?
I hear my being dance from ear to ear.
I wake to sleep, and take my waking slow.
Pensamos ao sentir. O que é que há pra saber?
De orelha a orelha, escuto o meu ser a dançar.
Minha vigília é lenta, e velo pra dormir.

Of those so close beside me, which are you?
God bless the Ground! I shall walk softly there,
And learn by going where I have to go.
Qual é você, dentre estes, tão perto de mim?
Deus abençoe o Chão, que irei macio trilhar,
E aprender quando for aonde eu devo ir.

Light takes the Tree; but who can tell us how?
The lowly worm climbs up a winding stair;
I wake to sleep, and take my waking slow.
A Planta sofre a Luz; mas quem explica o fim?
O verme vil escala a escada em espiral;
Minha vigília é lenta, e velo pra dormir.

Great Nature has another thing to do
To you and me, so take the lively air,
And, lovely, learn by going where to go.
A Natureza tem outra coisa a cumprir
Comigo e com você; receba então este ar,
E, adorável, aprenda indo onde deve ir.

This shaking keeps me steady. I should know.
What falls away is always. And is near.
I wake to sleep, and take my waking slow.
I learn by going where I have to go.
Este tremor mantém-me firme. Sim, eu sei.
O que perece é sempre. E está perto aqui.
Minha vigília é lenta, e velo pra dormir.
Aprendo quando vou aonde eu devo ir.

Theodore Roethke (1952)
Ivan Justen Santana

4 comentários:

Renato Quege disse...

OPA!
Sempre por aqui!
Abração!!

Ivan disse...

Renato - eu nem precisava dizer que você é um leitor que reúne as qualidades reverenciadas nesta postagem -

faltou dizer (e escrever) que o poema da postagem anterior deveria ter sido dedicado a você - pois foi no aniversário daquele irlandês, você sabe quem...

Faltou também nominar a leitora que mais me embevece, e de quem sou transido e irrestrito leitor, a prolífica proprietária do Cecília não é um cachimbo, que segue apavorando sempre e novamente...

O(a)s não-citado(a)s que não se deem (curtiram a contemporaneidade da grafia?) enfim, eu dizia, que não se deem por perdido(a)s, tampouco olvidado(a)s...

Ivan disse...

Por sinal, ando comendo mosca nos meus links, alguns já decrépitos, enquanto belos blogs de caríssimos amigos ficam solenemente de fora da lista -
vou consertar isso, pedindo desculpas principalmente ao mui prezado Edson de Vulcanis (que têm dois -perdão, três- blogs ímpares) e à caliópica Bárbara Kirchner, com seu nutritivo Curitiba é um copo vazio cheio de frio,
Linká-los-ei.

Anônimo disse...

MARAVILHA, Ivan!!!!!

Tem uma gurizada de Cuiabá que virou fã dos teus poemas e das traduções, com o agravante de que a coisa passou mesmo a circular no modo antigo do xerocão, pra lá e pra cá ...

Abração deste amigo e Fã.