quinta-feira, março 03, 2011

AUTOCRÍTICA COLETIVISTA UNIVERSAL DO REINO DE CURITIBA

Vou cortar isso em versos
graças aos meus cacoetes de poeta,
e pra eu não ficar com a impressão
de que assim traí aqui as minhas musas.

Entretanto relaxem e aproveitem
que agora é quase prosa e lá vem a história:

após presenciar os debates
sobre a programação da nossa rádio estatal
(vide aqui, ali e acolá)
me veio a impressão
de que nós do Paraná
(os de Curitiba em especial)
temos a vocação de sermos
chatos.

É.
Chatos.
Ou, no mínimo, chatonildos.

Basta um piá que mal saiu da escola
aprender um pouco sobre qualquer assunto
e pronto,
abracadabra e vualá!:
surge um novo chato-crítico,
que após eleger suas poucas preferências
entre as expressões máximas e mais clássicas
da área escolhida,
a seguir passa a condenar tudo mais
ao mesmo inferno inapelável
de lixo ordinário.

Basta também alguém mal iniciar
numa carreira artística
(literária, musical, arquitetônica, etcétera e afins)
pra surgir, noutro passe de mágica,
o chato-artista,
que se especializará
em empurrar suas primas produções
(geralmente de médias a quase-horrendas)
goela abaixo de quem quer que se sujeite
a prestar-lhe uns pingos de atenção.

E raramente o chato-crítico evoluirá
a uma visão equilibrada.
Ao contrário, gastará todos os cartuchos
influenciando quem estiver ao seu alcance
e incomodando quem tiver opinião própria divergente.

E raramente o chato-artista evoluirá
aos domínios técnicos e expressivos de sua arte.
Ao contrário, gastará todos os cartuchos
desinfluenciando os incautos ao seu alcance
e incomodando quem tiver senso crítico equilibrado.

Portanto,
agora eu rogo aos meus contemporâneos
e principalmente às novas gerações insurgentes:

chega de aceitar a nossa chatônica chatice congênita!

Nós já abusamos do direito de ser chatos médios,
ou pequenos ou de máxima grandeza.

Daqui por diante,
pra variar um pouco e totalmente,
vamos concentrar todos nossos esforços
em equilíbrio e competência,
e melhor ainda: em excelência.

Excelência combinada com virtudes como:
abertura ao diálogo,
postura digna e humilde
e consciência do próprio valor,
mas nunca prepotência,
idiotia, abstrusidade e solipsismo.

Nunca mais mediocrões metidos a gênios,
mas sim, ao reverso, absolutamente gênios
e absolutamente simples e espontâneos,

não posemos mais nem de coitados nem de fascistoides.

Vamos combinar o seguinte:

crítico(a)s, artistas e consumidore(a)s de cultura
nessa nossa cidade de Curitiba:

a partir de agora, todos vocês (todos nós)
não têm (não temos)
mais o direito de ser nada além de

incríveis, geniais, elegantes, simples, bons(boas),
culto(a)s, educado(a)s, equilibrado(a)s, bem disposto(a)s
camaradas e mortalmente inteligentes,

almejando e atingindo
sempre o máximo padrão de excelência
em todas as áreas da cultura
e do comportamento humano.

Que tal?
Está bom assim pra todos
ou poderia ser ainda melhor?

Hein? Hein?
*

6 comentários:

Anônimo disse...

mas que chato!

Ivan disse...

Taí a primeira amostra de reação:
caso não tenham reparado,
eu fui deliberadamente chato na postagem (marquei isso especialmente no final, viram? Hein? Hein?).

Mas quando tais chatos se mexem,
geralmente se escondem na anonímia
e apresentam um senso crítico
que nunca é autorreflexo.

Portanto indago (responda rápido:)
será que o curitibano médio
tem tanta vergonha de si mesmo
que substitui sua autocrítica
por um narcisismo disfarçado
de anonimato, timidez e introversão?

Anônimo disse...

Absolutamente ninguém pode agarrar a arte e enfiá-la no bolso, como se fosse feita para um público segmentado. Ela (a arte) - em todas as facetas - é para ser tocada, apreciada, acariciada desde a pessoa “que mal saiu da escola” até Zola, Saint-Beuve.
Portanto, todos, críticos ou não, artistas ou não, têm o direito de compartilhar, escarrar, vociferar... Querer o contrário é provar ser egoísta e diminuir o próprio espírito. Concordo com você. Somos todos chatos.

polacodabarreirinha disse...

Ivan, jacu talvez seja o vocábulo mais apropriado. Lembra daquele poema do Marcos Prado e do texto do Beco. Se puder, link os dois para ilustrar ainda mais.

Abraço


Thadeu

rafael walter disse...

mais uma do Richa

Nara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.