***
Gralha Negra em Clima Chuvoso
Sylvia Plath
No ramo rijo lá em cima
Curva-se uma negra gralha molhada
Arranjando e rearranjando suas penas na chuva.
Eu não espero que um milagre
Ou um acidente
Incendeiem a vista
No meu olho, nem busco ver no
Clima desultório intencionalidade alguma,
Deixando folhas manchadas caírem como caem,
Sem cerimônia, nem portento.
Embora eu admita
Desejar, ocasionalmente, algum retruque
Da parte do céu mudo, não posso reclamar: uma
Certa luz menor ainda é capaz de
Saltar incandescente
Da mesa ou da cadeira da cozinha
Como se um ardor celestial pudesse
Possuir os objetos mais obtusos vez por outra –
Destarte santificando um intervalo
De outras feitas inconseqüente
Ao outorgar largueza, honra, dir-se-ia
Mesmo amor. Agora, de qualquer jeito,
Ando suspicaz (poderia acontecer até numa
Paisagem baça, ruinosa como esta); desconfiada,
Mas engajada; ignorante
De algum anjo que resolva refulgir
Subitamente ao meu cotovelo. Só sei que
Uma gralha ajeitando as penas negras fulgura
Tanto que me prende os sentidos, arrasta
Minhas pálpebras, e fomenta
Um breve alívio da temida
Neutralidade total. Com sorte,
Trilhando teimosa através dessa estação dura
De fadiga, vou remendar
Todo junto o monte
De conteúdos. Milagres se realizam,
Se você se importa em chamar assim tais truques
Espasmódicos de radiância. A espera se reinaugura,
A longa espera pelo anjo.
Por aquele raro, randômico descenso.
Versão brasileira: Ivan Justen Santana
Seleção textual e musa inspiradora: Priscila Manhães
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
É bom comemorar contigo, TedIvanzinho!
Beijos lambusados de brigadeiro ;)
Postar um comentário