quarta-feira, junho 29, 2005

Celebrando o aniversário bem acompanhado por Priscylvia

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Gralha Negra em Clima Chuvoso

Sylvia Plath

No ramo rijo lá em cima
Curva-se uma negra gralha molhada
Arranjando e rearranjando suas penas na chuva.
Eu não espero que um milagre
Ou um acidente

Incendeiem a vista
No meu olho, nem busco ver no
Clima desultório intencionalidade alguma,
Deixando folhas manchadas caírem como caem,
Sem cerimônia, nem portento.

Embora eu admita
Desejar, ocasionalmente, algum retruque
Da parte do céu mudo, não posso reclamar: uma
Certa luz menor ainda é capaz de
Saltar incandescente

Da mesa ou da cadeira da cozinha
Como se um ardor celestial pudesse
Possuir os objetos mais obtusos vez por outra –
Destarte santificando um intervalo
De outras feitas inconseqüente

Ao outorgar largueza, honra, dir-se-ia
Mesmo amor. Agora, de qualquer jeito,
Ando suspicaz (poderia acontecer até numa
Paisagem baça, ruinosa como esta); desconfiada,
Mas engajada; ignorante

De algum anjo que resolva refulgir
Subitamente ao meu cotovelo. Só sei que
Uma gralha ajeitando as penas negras fulgura
Tanto que me prende os sentidos, arrasta
Minhas pálpebras, e fomenta

Um breve alívio da temida
Neutralidade total. Com sorte,
Trilhando teimosa através dessa estação dura
De fadiga, vou remendar
Todo junto o monte

De conteúdos. Milagres se realizam,
Se você se importa em chamar assim tais truques
Espasmódicos de radiância. A espera se reinaugura,
A longa espera pelo anjo.
Por aquele raro, randômico descenso.

Versão brasileira: Ivan Justen Santana

Seleção textual e musa inspiradora: Priscila Manhães

Um comentário:

Priscila Manhães disse...

É bom comemorar contigo, TedIvanzinho!
Beijos lambusados de brigadeiro ;)