segunda-feira, abril 17, 2006

Domingo de Páscoa:

dia da ressurreição do deus da sua civilização:
você se sente morrer como cristão
e como cidadão.

Você passa o domingo inteiro sem ver ninguém:
sozinho, sozinho totalmente,
você se sente morrer como gente,
você se sente morrer como pai,
filho, irmão, neto, primo, sobrinho e tio;
ainda mais complicado,
você se sente morrer como amor,
amante e amado;
você se sente morrer como torcedor,
como poeta, como amigo:
você se sente morrer consigo.

Você sente também que tudo que faz é falho:
você morre até como colega de trabalho.

Você sente enfim que morrer mesmo seria perfeito:
mas quem é você pra morrer tanto,
ou pra morrer de qualquer jeito?

Mortas as rimas, morre também a sua prosa:
é mole ou quer mais?
Bem: você se sente mole:
e por isso quer mais.

3 comentários:

Anônimo disse...

Se morrer nessa vida não é novo
tão pouco há novidade em estar vivo

polacodabarreirinha disse...

Gostei do poema apesar do tom melancólico de quem está sentindo muita pena de si mesmo. Manda teu ego pra caixa-prego enquanto a morte não vem.

Marilda Confortin disse...

Passeando por teu blog. Muito bom Ivan. Parece que você fotografou a Páscoa de muita gente... inclusive a minha.
Bom te ler.