Pratico uma ginástica de rimas
em cadências de infinitos semantemas,
reviro temas e remas, lemas e termos,
palmilho os extremos mais extremos,
percorro as passagens mais arcaicas,
os escolhos e os abrolhos ermos,
vasculho dos sinais aos climas,
dos debaixos aos em cimas,
degusto as maneiras várias, todas,
ajusto os jeitos tredos e ledos,
rejeito preitos e alaridos,
sujeito-me aos lodos, lidos, ludos,
apenas para fins e modos
de que graças a estes meus brinquedos
tu te exprimas e me imprimas
e eu te esprema e tu tremas e gemas.
quarta-feira, setembro 29, 2010
sexta-feira, setembro 17, 2010
no meio
nomeio uma pedra: perda
nomeio aquele prado: pardo
nomeio o poder: podre
nomeio nossas palavras: larvas
nomeio-te a endoderme: der-me
nomeio a ingratidão, esta pantera:
pistilo
assim, do caminho – nipônico dô –
tiro o time (ti e me em que me meti),
doo (de doer) e destilo este nosso (osso)
estilo
*
nomeio aquele prado: pardo
nomeio o poder: podre
nomeio nossas palavras: larvas
nomeio-te a endoderme: der-me
nomeio a ingratidão, esta pantera:
pistilo
assim, do caminho – nipônico dô –
tiro o time (ti e me em que me meti),
doo (de doer) e destilo este nosso (osso)
estilo
*
quarta-feira, setembro 15, 2010
EU, O SEU QUERIDO POETA VIRTUAL...
Sim: eu,
o seu querido
(e desprezado)
poeta (Ivan) virtual,
não sou mesmo (lesmo)
(lês-mo?) um poeta de papel:
meu coração
(também não)
também não é de papel:
meu livro (se me livro)
também (idiotamente)
quando for publicado (se for)
não será feito de papel
e eu e meu livro
seremos feito o dia de hoje
feito este céu:
de onde o sol fugiu
e um vento (frio e cinzento) veio
e o dia terminou e começou
e começou (e terminou)
no meio
o seu querido
(e desprezado)
poeta (Ivan) virtual,
não sou mesmo (lesmo)
(lês-mo?) um poeta de papel:
meu coração
(também não)
também não é de papel:
meu livro (se me livro)
também (idiotamente)
quando for publicado (se for)
não será feito de papel
e eu e meu livro
seremos feito o dia de hoje
feito este céu:
de onde o sol fugiu
e um vento (frio e cinzento) veio
e o dia terminou e começou
e começou (e terminou)
no meio
segunda-feira, setembro 06, 2010
Atendendo a um "pedylan" da ótima escritora, musicista e compositora Alexandra Lemos Zagonel,
eis, com vocês:
Soprando Ao Vento(Blowin' in the wind)
Quantas estradas alguém tem que trilhar
Até ser chamado de alguém?
E mais quantos mares a pomba vai cruzar
Até deitar e dormir bem?
E mais quantas vezes as bombas vão voar
Até ser banidas pra sempre?
Respostas, meus caros, soprando ao vento vão
Respostas soprando ao vento vão
Quantos anos mais as montanhas vão durar
Até deslizarem ao mar?
E mais quantos anos essa gente vai durar
Até poder se libertar?
E mais quantas vezes o homem fingirá
Que não pode ouvir nem olhar?
Respostas, meus caros, soprando ao vento vão
Respostas soprando ao vento vão
Quantas vezes mais o homem tem que olhar
Até conseguir ver o céu?
E mais quantas orelhas o homem tem que ter
Até que escute um grito seu?
E mais quantas mortes até o homem saber
Que gente demais já morreu?
Respostas, meus caros, soprando ao vento vão
Respostas soprando ao vento vão
Robert Allen Zimmerman / Bob Dylan
versão brasileira: Ivan Justen Santana
Soprando Ao Vento(Blowin' in the wind)
Quantas estradas alguém tem que trilhar
Até ser chamado de alguém?
E mais quantos mares a pomba vai cruzar
Até deitar e dormir bem?
E mais quantas vezes as bombas vão voar
Até ser banidas pra sempre?
Respostas, meus caros, soprando ao vento vão
Respostas soprando ao vento vão
Quantos anos mais as montanhas vão durar
Até deslizarem ao mar?
E mais quantos anos essa gente vai durar
Até poder se libertar?
E mais quantas vezes o homem fingirá
Que não pode ouvir nem olhar?
Respostas, meus caros, soprando ao vento vão
Respostas soprando ao vento vão
Quantas vezes mais o homem tem que olhar
Até conseguir ver o céu?
E mais quantas orelhas o homem tem que ter
Até que escute um grito seu?
E mais quantas mortes até o homem saber
Que gente demais já morreu?
Respostas, meus caros, soprando ao vento vão
Respostas soprando ao vento vão
Robert Allen Zimmerman / Bob Dylan
versão brasileira: Ivan Justen Santana
quarta-feira, setembro 01, 2010
UM CONTO DE SETE
(Sobre os sete na questão:
“Muitos sabem que são sete,
porém poucos reconhecem
ou recordam-se – quais são...?”)
Gula é gula, que a tudo engole e que a tudo engula:
“Eu também gosto quando me chamam de Glutonaria,
uma palavra maior, mais cheia de recheio e poesia...
Assim como Gula, começa com um som
que vem lá do fundo da garganta,
conforme Gulodice”, disse a Gula.
A Avareza chega e resmunga:
“Eu, pra mim, prefiro Ganância,
ou melhor, Gana.
Gasta menos letras.”
Pois é, hoje a Ganância estava espoleta:
mal ouviu a voz da gula, subiu-lhe à boca
uma ânsia análoga a nada,
e teve ganas de estrangulá-la,
ou melhor: só esganá-la...
Enquanto isso,
em proclamação universal,
a Soberba declara:
“Atenderei, se me chamarem de
Ostentação, Jactância e Ufania.
Porém Orgulho não!
Orgulho soa bom demais pro meu gosto,
parece virtude...
Outrossim,
nesse ínterim,
Vaidade também não me vai muito bem,
soa feito uma palavra pobre,
meio assim "geralzona", sabem?
Coisa de quem não compreende
todo meu luxo, requinte e sofisticação...”
Por sinal, nota-se que a Soberba
adora luxo e Luxúria,
mas esta só pensa naquilo:
“Naquilo, oras! E tem outra coisa pra pensar?”,
pergunta-se a Luxúria,
com um súbito brilho malicioso no olhar,
já imaginando
se não está perdendo alguma coisa...
Quanto à Preguiça, não está nem aqui.
Mandou dizer que dela não digam nada.
Isso deixou alguém furiosa, mas
já que tem raiva até de que a chamem de Ira
– “Só tem três letras, porra!” –
melhor é sair de perto...
Vejamos o que a Inveja anda fazendo.
Ah, olha só: a Inveja estava aqui
com a gente o tempo todo,
tão dissimulada e tão discreta que ela é,
quase ninguém percebe, né?
Ficou escondidinha,
morrendo de vontade de espiar
o que os outros andavam fazendo da vida...
Nisso, veem-se três sombras que saem de fininho.
Por fim, revela-se que eram sombras
de Mentira, Falsidade e Hipocrisia.
Elas tentavam não chamar atenção demais,
receando que alguém tivesse a ideia
de pegá-las pra pecados capitais...
“Muitos sabem que são sete,
porém poucos reconhecem
ou recordam-se – quais são...?”)
Gula é gula, que a tudo engole e que a tudo engula:
“Eu também gosto quando me chamam de Glutonaria,
uma palavra maior, mais cheia de recheio e poesia...
Assim como Gula, começa com um som
que vem lá do fundo da garganta,
conforme Gulodice”, disse a Gula.
A Avareza chega e resmunga:
“Eu, pra mim, prefiro Ganância,
ou melhor, Gana.
Gasta menos letras.”
Pois é, hoje a Ganância estava espoleta:
mal ouviu a voz da gula, subiu-lhe à boca
uma ânsia análoga a nada,
e teve ganas de estrangulá-la,
ou melhor: só esganá-la...
Enquanto isso,
em proclamação universal,
a Soberba declara:
“Atenderei, se me chamarem de
Ostentação, Jactância e Ufania.
Porém Orgulho não!
Orgulho soa bom demais pro meu gosto,
parece virtude...
Outrossim,
nesse ínterim,
Vaidade também não me vai muito bem,
soa feito uma palavra pobre,
meio assim "geralzona", sabem?
Coisa de quem não compreende
todo meu luxo, requinte e sofisticação...”
Por sinal, nota-se que a Soberba
adora luxo e Luxúria,
mas esta só pensa naquilo:
“Naquilo, oras! E tem outra coisa pra pensar?”,
pergunta-se a Luxúria,
com um súbito brilho malicioso no olhar,
já imaginando
se não está perdendo alguma coisa...
Quanto à Preguiça, não está nem aqui.
Mandou dizer que dela não digam nada.
Isso deixou alguém furiosa, mas
já que tem raiva até de que a chamem de Ira
– “Só tem três letras, porra!” –
melhor é sair de perto...
Vejamos o que a Inveja anda fazendo.
Ah, olha só: a Inveja estava aqui
com a gente o tempo todo,
tão dissimulada e tão discreta que ela é,
quase ninguém percebe, né?
Ficou escondidinha,
morrendo de vontade de espiar
o que os outros andavam fazendo da vida...
Nisso, veem-se três sombras que saem de fininho.
Por fim, revela-se que eram sombras
de Mentira, Falsidade e Hipocrisia.
Elas tentavam não chamar atenção demais,
receando que alguém tivesse a ideia
de pegá-las pra pecados capitais...
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