***
Gralha Negra em Clima Chuvoso
Sylvia Plath
No ramo rijo lá em cima
Curva-se uma negra gralha molhada
Arranjando e rearranjando suas penas na chuva.
Eu não espero que um milagre
Ou um acidente
Incendeiem a vista
No meu olho, nem busco ver no
Clima desultório intencionalidade alguma,
Deixando folhas manchadas caírem como caem,
Sem cerimônia, nem portento.
Embora eu admita
Desejar, ocasionalmente, algum retruque
Da parte do céu mudo, não posso reclamar: uma
Certa luz menor ainda é capaz de
Saltar incandescente
Da mesa ou da cadeira da cozinha
Como se um ardor celestial pudesse
Possuir os objetos mais obtusos vez por outra –
Destarte santificando um intervalo
De outras feitas inconseqüente
Ao outorgar largueza, honra, dir-se-ia
Mesmo amor. Agora, de qualquer jeito,
Ando suspicaz (poderia acontecer até numa
Paisagem baça, ruinosa como esta); desconfiada,
Mas engajada; ignorante
De algum anjo que resolva refulgir
Subitamente ao meu cotovelo. Só sei que
Uma gralha ajeitando as penas negras fulgura
Tanto que me prende os sentidos, arrasta
Minhas pálpebras, e fomenta
Um breve alívio da temida
Neutralidade total. Com sorte,
Trilhando teimosa através dessa estação dura
De fadiga, vou remendar
Todo junto o monte
De conteúdos. Milagres se realizam,
Se você se importa em chamar assim tais truques
Espasmódicos de radiância. A espera se reinaugura,
A longa espera pelo anjo.
Por aquele raro, randômico descenso.
Versão brasileira: Ivan Justen Santana
Seleção textual e musa inspiradora: Priscila Manhães
quarta-feira, junho 29, 2005
terça-feira, junho 28, 2005
Um lindo dia para matar
Pois é:
esta é a octogésima postagem do Delírio (Tatuagens de Acne). Depois Daquele Surto e Morte Súbita duraram 40 postagens cada um, então acho que está na hora de matar este blog mais uma vez.
No entanto, amanhã essa minha história de blogar completa um ano: estou organizando uma festa de aniversário surpresa e você é meu(minha) convidado(a) especial.
Portanto, vamos deixar a história de assassinato pra amanhã: agora é tarde, eu acho que vou dormir.
esta é a octogésima postagem do Delírio (Tatuagens de Acne). Depois Daquele Surto e Morte Súbita duraram 40 postagens cada um, então acho que está na hora de matar este blog mais uma vez.
No entanto, amanhã essa minha história de blogar completa um ano: estou organizando uma festa de aniversário surpresa e você é meu(minha) convidado(a) especial.
Portanto, vamos deixar a história de assassinato pra amanhã: agora é tarde, eu acho que vou dormir.
segunda-feira, junho 27, 2005
Abrindo agora o Catatau do Leminski feito um I-Ching:...
(...)Ida de noite e volta do dia, só penso em ti, quero me alistar: para cá, para lá, é só tu que voa. Em alguém tão longe como posso pensar tanto mas talvez assim foi o melhor: de perto ou lado a lado pensaria menos em quem ali estivesse, vista para ser, pensada não. Pensar me deixe que estou exatamente nesse teu ali e saber que não estás tão minha neste aquizinho. Eu: o último sabedouro, primeiro em pensar que não estamos indo bem ao encontro um do outro no nosso relacionamento. O mundo não deixe pensar que soubemos de tudo: doutrarte, o crivo de perguntas não nos deixaria prosseguir com a sorte que até aqui nos bafejou de fumos de vaidade, emboscadas tártaras, ataques de corsários, caixas pandóricas, precipitações pindáricas, paradoxos suspeitos, apatias peripatéticas e das inarredáveis prolixidades preliminares! Já que outra coisa não faço que penetrar a adiante dentro donde estás sendo pensada a fundo, saiba-me interesseiro em tudo que te diz: respeito! Caso contrário: que fazer quando em noite longa já pensei todos os teus teus, e começo a falar bobagem e o que é mais, sozinho! – como se já não bastasse o estado em que me tem a postos tempos e tempos. Fosse ímã e tu vontade férrea, meus pensamentos te trouxessem até a mim! (...) Manda que eu pense numa parte muito tua, mesmo íntima, e terei muito menos prazer em estrupá-la! (...)
domingo, junho 26, 2005
Postagem Parabéns
Só pra não passar batido o duplo aniversário da minha "mentora blogueira":
(aniversário de blog e de vida)
o presente é o link (minhas parcas musas me limitam a isso):
http://palavradepantera.blogspot.com
Vão lá e leiam tudo:
eu vou ficar aqui meditando nalgum poema que pudesse traduzir o quanto admiro essa criatura fantástica...
(aniversário de blog e de vida)
o presente é o link (minhas parcas musas me limitam a isso):
http://palavradepantera.blogspot.com
Vão lá e leiam tudo:
eu vou ficar aqui meditando nalgum poema que pudesse traduzir o quanto admiro essa criatura fantástica...
sexta-feira, junho 24, 2005
Uno, Dos, Três!
Putz: ainda estou atordoado, acachapado, eletrizado: do mesmo jeito que contra o Santos, quando já nem esperava ir ao estádio um ingresso aparece nas minhas mãos: desta feita fiquei na curva, junto com a torcida Os Fanáticos:
resultado: Atlético 3 x 0 Chivas Guadalajara
Semana que vem jogaremos lá no México, no estádio Jalisco, onde a seleção brasileira disputou a primeira fase da copa de 70 (o tricampeonato, que por sinal está completando 35 anos)...
Hoje não tem poema: só um brinde com uma dose de Chivas e três pedrinhas...
resultado: Atlético 3 x 0 Chivas Guadalajara
Semana que vem jogaremos lá no México, no estádio Jalisco, onde a seleção brasileira disputou a primeira fase da copa de 70 (o tricampeonato, que por sinal está completando 35 anos)...
Hoje não tem poema: só um brinde com uma dose de Chivas e três pedrinhas...
terça-feira, junho 21, 2005
quinta-feira, junho 16, 2005
Placar agregado (quartas-de-final da Libertadores)
CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE: 5
santos: 2
Putz: vitória histórica do Furacão na Vila Belmiro: a postagem anterior, vermelha e preta, deu sorte: agora vou postar um poema do Leminski, pra não perder o costume...
quero a vitória
______do time de várzea
valente
covarde
_____a derrota
_____do campeão
5 x 0
_____em seu próprio chão
___________________circo
___________________dentro
___________________do pão
santos: 2
Putz: vitória histórica do Furacão na Vila Belmiro: a postagem anterior, vermelha e preta, deu sorte: agora vou postar um poema do Leminski, pra não perder o costume...
quero a vitória
______do time de várzea
valente
covarde
_____a derrota
_____do campeão
5 x 0
_____em seu próprio chão
___________________circo
___________________dentro
___________________do pão
quinta-feira, junho 09, 2005
Le rouge et le noir
STILLBORN
NATIMORTOS
These poems do not live: it’s a sad diagnosis.
Estes poemas não vivem: é um diagnóstico triste.
They grew their toes and fingers well enough,
Criaram bem seus dedões dos pés e dedos das mãos,
Their little foreheads bulged with concentration.
Suas testinhas se protuberaram de concentração.
If they missed out on walking about like people
Se faltaram em perambular como pessoas
It wasn’t for any lack of mother-love.
Não foi por nenhuma falta de amor-de-mãe.
O I cannot understand what happened to them!
Ó não posso entender o que aconteceu com eles!
They are proper in shape and number and every part.
São plenos em forma e número e cada parte.
They sit so nicely in the pickling fluid!
Sentam tão bem no fluido de picles!
They smile and smile and smile and smile at me.
Sorriem e sorriem e sorriem e sorriem pra mim.
And still the lungs won’t fill and the heart won’t start.
E ainda assim os pulmões não enchem e o coração não bate.
They are not pigs, they are not even fish,
Não são porcos, não são nem mesmo peixes,
Though they have a piggy and a fishy air–
Apesar de terem um arzinho de porco e peixe–
It would be better if they were alive, and that’s what they were.
Seria melhor se estivessem vivos, e isso eles estiveram.
But they are dead, and their mother near dead with distraction,
Mas estão mortos, e sua mãe quase morta de perturbação,
And they stupidly stare, and do not speak of her.
E fitam estupidamente, e dela não falam a respeito.
Sylvia Plath
Ivan Justen Santana
NATIMORTOS
These poems do not live: it’s a sad diagnosis.
Estes poemas não vivem: é um diagnóstico triste.
They grew their toes and fingers well enough,
Criaram bem seus dedões dos pés e dedos das mãos,
Their little foreheads bulged with concentration.
Suas testinhas se protuberaram de concentração.
If they missed out on walking about like people
Se faltaram em perambular como pessoas
It wasn’t for any lack of mother-love.
Não foi por nenhuma falta de amor-de-mãe.
O I cannot understand what happened to them!
Ó não posso entender o que aconteceu com eles!
They are proper in shape and number and every part.
São plenos em forma e número e cada parte.
They sit so nicely in the pickling fluid!
Sentam tão bem no fluido de picles!
They smile and smile and smile and smile at me.
Sorriem e sorriem e sorriem e sorriem pra mim.
And still the lungs won’t fill and the heart won’t start.
E ainda assim os pulmões não enchem e o coração não bate.
They are not pigs, they are not even fish,
Não são porcos, não são nem mesmo peixes,
Though they have a piggy and a fishy air–
Apesar de terem um arzinho de porco e peixe–
It would be better if they were alive, and that’s what they were.
Seria melhor se estivessem vivos, e isso eles estiveram.
But they are dead, and their mother near dead with distraction,
Mas estão mortos, e sua mãe quase morta de perturbação,
And they stupidly stare, and do not speak of her.
E fitam estupidamente, e dela não falam a respeito.
Sylvia Plath
Ivan Justen Santana
segunda-feira, junho 06, 2005
O Sorumbático Homem Mosca
*
Cuidado!
O Homem Mosca está à solta:
se você estiver num bar, ele pode vir filar sua cerveja;
se você estiver de carro, ele pode pedir uma carona;
se você permitir que ele entre em sua casa, ele pode até mesmo tentar furtar seu CD favorito, seu livro predileto, ou mesmo sua velha e querida fita de VHS com o show da sua banda de estimação.
Este supervilão é perigosíssimo: toda a força necessária está sendo empregada na sua captura.
Considerem-se avisado(a)s: qualquer distração pode ser fatal...
Cuidado!
O Homem Mosca está à solta:
se você estiver num bar, ele pode vir filar sua cerveja;
se você estiver de carro, ele pode pedir uma carona;
se você permitir que ele entre em sua casa, ele pode até mesmo tentar furtar seu CD favorito, seu livro predileto, ou mesmo sua velha e querida fita de VHS com o show da sua banda de estimação.
Este supervilão é perigosíssimo: toda a força necessária está sendo empregada na sua captura.
Considerem-se avisado(a)s: qualquer distração pode ser fatal...
sexta-feira, junho 03, 2005
A menina maluquinha
*
CANÇÃO DE AMOR DA MENINA LOUCA
(Mad Girl´s Love Song)
“Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente;
Levanto as pálpebras e tudo nasce outra vez.
(Eu acho que criei você na minha mente.)
Valsam estrelas azuis e vermelhas de repente,
E a escuridão vem a galope trajando xadrez:
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.
Sonhei que você me enfeitiçava ao leito lentamente
Com beijos excêntricos e lunáticas canções.
(Eu acho que criei você na minha mente.)
Deus cai do céu, o inferno deixa de ser quente:
Saem os serafins e as hostes de Satanás:
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.
Delirei que você voltaria como prometia sempre,
Mas envelheço e não sei nem seu nome mais.
(Eu acho que criei você na minha mente.)
Eu devia ter amado um animal bem diferente,
Um condor, que ao menos volta trovejante todo mês.
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.
(Eu acho que criei você na minha mente.)”
Sylvia Plath
Versão brasileira: Ivan Justen Santana
CANÇÃO DE AMOR DA MENINA LOUCA
(Mad Girl´s Love Song)
“Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente;
Levanto as pálpebras e tudo nasce outra vez.
(Eu acho que criei você na minha mente.)
Valsam estrelas azuis e vermelhas de repente,
E a escuridão vem a galope trajando xadrez:
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.
Sonhei que você me enfeitiçava ao leito lentamente
Com beijos excêntricos e lunáticas canções.
(Eu acho que criei você na minha mente.)
Deus cai do céu, o inferno deixa de ser quente:
Saem os serafins e as hostes de Satanás:
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.
Delirei que você voltaria como prometia sempre,
Mas envelheço e não sei nem seu nome mais.
(Eu acho que criei você na minha mente.)
Eu devia ter amado um animal bem diferente,
Um condor, que ao menos volta trovejante todo mês.
Eu fecho os olhos e o mundo morre totalmente.
(Eu acho que criei você na minha mente.)”
Sylvia Plath
Versão brasileira: Ivan Justen Santana
quarta-feira, junho 01, 2005
Blogar ou não blogar? Não tem questão:
Tenho que blogar isso.
Afinal isso é um blog: supostamente deve ter um registro pessoal, no qual fulaninho (no caso eu) conta as peripécias de sua interessantíssima vida.
Como não é interessantíssima sempre, posto só os “melhores momentos”, quando ocorrem: mas chega de metablogagem.
Ultimamente venho agüentando ver meu time perder e calado.
Já perdemos as seis primeiras partidas neste campeonato brasileiro: no ano passado, em 46 rodadas, perdemos só oito vezes: fomos vice-campeões: o campeão foi o Santos.
Nesta noite fui até a Arena da Baixada ver Atlético x Santos, pela Taça Libertadores, o torneio mais importante deste hemisfério.
Que jogo monstro: no primeiro minuto, bola na trave: quase saímos na frente: mas quem saiu na frente foram eles.
O time do Santos joga muito rápido, tocando de primeira e saindo na correria: nosso time jogou no mesmo ritmo: na verdade, mais rápido ainda, porque logo ficamos com um a menos, expulso por derrubar várias vezes o novo pelézinho santista, o famigerado Robinho, que joga feito um foguete (quando quer, porque às vezes ele desanima e anda em campo: eu vi isso no fim do jogo):
tomamos o primeiro gol numa jogada que parecia câmera rápida: daí voltamos a pressionar e saiu nosso primeiro, um cabeceio quase de fora da área: e aí viramos o jogo num rebote que o goleiro deles deu depois de uma cobrança de falta: 2 x 1: aí, aos 43 do primeiro tempo, noutro lance veloz que deixou nossa zaga parada pedindo impedimento, eles fizeram 2 x 2.
Putz.
No intervalo, eu pensava: como é que vamos segurar os caras, jogando com um a menos? Era visível que o atacante Aluísio não tinha condições, e o técnico demorou pra substituí-lo: tomamos um sufoco, mas o inesperado aconteceu: fizemos 3 x 2, numa jogada rápida igual à que eles estavam tentando fazer (não é irônico? não é belo? não é, eu me arrisco mesmo a dizer: poético?) depois conseguimos resistir à pressão, heróica e dramaticamente: enfim: vencemos.
Voltaremos a nos encontrar com o Santos daqui a duas semanas, no dia 15 de junho, véspera do Bloomsday: olha só: uma referência literária pra finalizar, só pra quem acha que futebol não tem nada a ver com literatura: e agora vou abrir outra cerveja e saborear essa vitória rara.
Afinal, futebol, poesia e delírio são isso aí.
Afinal isso é um blog: supostamente deve ter um registro pessoal, no qual fulaninho (no caso eu) conta as peripécias de sua interessantíssima vida.
Como não é interessantíssima sempre, posto só os “melhores momentos”, quando ocorrem: mas chega de metablogagem.
Ultimamente venho agüentando ver meu time perder e calado.
Já perdemos as seis primeiras partidas neste campeonato brasileiro: no ano passado, em 46 rodadas, perdemos só oito vezes: fomos vice-campeões: o campeão foi o Santos.
Nesta noite fui até a Arena da Baixada ver Atlético x Santos, pela Taça Libertadores, o torneio mais importante deste hemisfério.
Que jogo monstro: no primeiro minuto, bola na trave: quase saímos na frente: mas quem saiu na frente foram eles.
O time do Santos joga muito rápido, tocando de primeira e saindo na correria: nosso time jogou no mesmo ritmo: na verdade, mais rápido ainda, porque logo ficamos com um a menos, expulso por derrubar várias vezes o novo pelézinho santista, o famigerado Robinho, que joga feito um foguete (quando quer, porque às vezes ele desanima e anda em campo: eu vi isso no fim do jogo):
tomamos o primeiro gol numa jogada que parecia câmera rápida: daí voltamos a pressionar e saiu nosso primeiro, um cabeceio quase de fora da área: e aí viramos o jogo num rebote que o goleiro deles deu depois de uma cobrança de falta: 2 x 1: aí, aos 43 do primeiro tempo, noutro lance veloz que deixou nossa zaga parada pedindo impedimento, eles fizeram 2 x 2.
Putz.
No intervalo, eu pensava: como é que vamos segurar os caras, jogando com um a menos? Era visível que o atacante Aluísio não tinha condições, e o técnico demorou pra substituí-lo: tomamos um sufoco, mas o inesperado aconteceu: fizemos 3 x 2, numa jogada rápida igual à que eles estavam tentando fazer (não é irônico? não é belo? não é, eu me arrisco mesmo a dizer: poético?) depois conseguimos resistir à pressão, heróica e dramaticamente: enfim: vencemos.
Voltaremos a nos encontrar com o Santos daqui a duas semanas, no dia 15 de junho, véspera do Bloomsday: olha só: uma referência literária pra finalizar, só pra quem acha que futebol não tem nada a ver com literatura: e agora vou abrir outra cerveja e saborear essa vitória rara.
Afinal, futebol, poesia e delírio são isso aí.
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