quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Entrei na biblioteca, abri um livro e quando vi

tinha me transformado em Jorge Luis Borges:

O AMEAÇADO

É o amor. Terei que me esconder ou fugir.

Crescem os muros de sua prisão, como num pesadelo. A bela máscara mudou, mas, como sempre, é única. De que me servirão meus talismãs: o exercício das letras, a vaga erudição, a aprendizagem de palavras em línguas exóticas, a serena amizade, as galerias da Biblioteca, as coisas comuns, os hábitos, o jovem amor de minha mãe, a sombra militar dos meus mortos, a noite atemporal, o sabor do sonho?

Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo.

O cântaro já se quebra sobre a fonte, já o homem se levanta com a voz da ave, já se obscureceram os que olham pelas janelas, mas a sombra não trouxe a paz.

É, já sei, o amor: a ansiedade e o alívio de ouvir tua voz, a espera e a memória, o horror de viver uma hora depois da outra.

É o amor com suas mitologias, com suas pequenas magias inúteis.

Há uma esquina pela qual não me atrevo a passar.

Os exércitos já me cercam, as hordas.

(Esta casa é irreal; ela ainda não a viu.)

O nome de uma mulher me dedura.

Me dói uma mulher no corpo todo.



(ligeiramente adaptado de El Amenazado, El oro de los tigres)

3 comentários:

Projeto Miolo Mole disse...

passa um pouquinho dessa paixão pra mim, que tudo está urgente aqui dentro, querendo sair e sem ter pra onde ir

Alexandre França disse...

Pergunta que não tem relação com o post: por onde vc anda? Me ligue pra gente combinar uma. Abraços

Priscila Manhães disse...

não se esconda nem fuja
i love you, babysinho