sábado, julho 03, 2010

Em homenagem ao Dunga (o técnico e o personagem)

*
CORINGA: VOCÊ

Em pé sobre as águas forjando pães em miolos
Enquanto os olhos do ídolo brilham ferro em brasa
Navios distantes vogam em nevoeiros profundos
Você nasceu com serpentes nos punhos
Enquanto furacões sopravam
A liberdade ali na esquina espera você
Mas com a verdade tão longe, que bem pode fazer?

Coringa você dança ao som do rouxinol
A ave voa alto à luz da lua e do sol
Ô, ô, ô, ô-ô, coringa você

Tão veloz o sol se põe no céu
Você se ergue e diz adeus a ninguém
Os tolos se lançam onde anjos temem trilhar
Ambos os seus futuros cheios de horror
Não se expõe alguém
Descascando mais uma camada de pele
Um passo adiante do perseguidor dentro dele

Coringa você dança ao som do rouxinol
A ave voa alto à luz da lua e do sol
Ô, ô, ô, ô-ô, coringa você

Você é um homem de alturas, você anda nas nuvens
Manipula multidões, enrola sonhos e afãs
Você ruma a Sodoma e Gomorra
Mas pra que toda essa pachorra?
Lá ninguém desposaria as suas irmãs
Amigo do mártir e da dona do prostíbulo
Você inspeciona a fornalha, vê o rico já sem título

Coringa você dança ao som do rouxinol
A ave voa alto à luz da lua e do sol
Ô, ô, ô, ô-ô, coringa você

Pois é, o Livro do Levítico e o Deuteronômio
As leis da selva e do oceano são seu único guia
Na fumaça do luscofusco num garanhão leitebranco
Feições tais as suas só Michelangelo esculpiria
Descansando nos campos, longe do espaço tumultuoso
Semidormindo às estrelas, um cãozinho lambe-lhe o rosto

Coringa você dança ao som do rouxinol
A ave voa alto à luz da lua e do sol
Ô, ô, ô, ô-ô, coringa você

Pois é, o atirador atocaia os doentes e os mancos
O pregador, competindo, guarda os mesmos planos
Cassetetes e jatos d’água, gás lacrimogêneo e algemas
Coquetéis molotov e pedras sob todos os panos
Juízes hipócritas morrem nas teias que tecem
É uma questão de tempo até que as trevas se expressem

Coringa você dança ao som do rouxinol
A ave voa alto à luz da lua e do sol
Ô, ô, ô, ô-ô, coringa você

É um mundo cheio de sombras, os céus são cinzentos
Uma mulher pariu um príncipe e o vestiu de púrpura
Ele botará os padres no bolso, as lâminas nas forjas
Separará os órfãos de todas essas corjas
E os colocará aos pés de uma prostituta
Coringa você, você sabe o que quer mais
Coringa você, não mostra quaisquer sinais

Coringa você dança ao som do rouxinol
A ave voa alto à luz da lua e do sol
Ô, ô, ô, ô-ô, coringa você


Jokerman, Bob Dylan
Versão brasileira:
Ivan Justen Santana

11 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

ops!
Gostei muy da letra, e melhor ainda, só com a sua voz.
beijos amor

rodrigo madeira disse...

gostei, meu chapa.
traduzido finamente. verter "well" para "pois é" é tão simples e bom...
vc consegue manter a síntese do cara, a combinação entre linguagem bíblica e "street language" (no caso de "jokerman", aquela bem mais do que esta).

legal vc continuar no "Z. project". keep on dylanning!

abç.

Panda Lemon disse...

Ivan, vc podia gravar um videozinho com vc interpretando sua versão... que tal?

Ivan disse...

Madeira: muito grato pelos elogios e por curtir mais essa -- prosseguirei no Zimmerman project (o Blood on the tracks agora está na alça de mira...) -- considere o Coringa dedicado a você (e aos meus outros três camaradas dylaneiros: Filippo, Lepre & Marcelo Montenegro).

Xanda: é uma ótima ideia - por sinal: você tem poderes paranormais? Ontem eu realmente interpretei essa versão, pra ver se funcionava (e funcionou!)... Por enquanto, me falta o equipamento pra fazer o vídeo...

Panda Lemon disse...

Não precisa de nada muito fancy. Pode usar sua web cam no computador, ou ainda qualquer máquina digital que faça filminhos. O windows movie maker é fácil de usar e faz boas ediçoes, bota título, créditos e o escambau. Vc ainda pode salvar numa versão para e-mail, o que facilita a postagem do vídeo no blog ou youtube. Bjos!

rodrigo madeira disse...

segundo o chico sá, o "dunguismo" -cujos principais sintomas, na minha opinião, são diarreia, felipe melo e neurastenia - "é a doença infantil do teixeirismo".
se a tradução for realmente uma homenagem ao dunga, o refrão podia ser:

Ó,ó,ó,ó,ó,ó, Co-coringa

rodrigo madeira disse...

xico sá. importante a correção.
um dos maiores nomes da crônica atual. o que ele escreve não serve
pra embrulhar o peixe.

Anônimo disse...

Grande música, grande letra, grande Dylan! Grande, Ivan.

Abraços,
Otto

Anônimo disse...

Grande música, grande letra, grande Dylan. Grande, Ivan.

Abraços,
Otto

Anônimo disse...

Ops, foi duas vezes!