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RENGA DE OUTONO
garoa invisível –
finas lâminas que lavam
nossas velhas almas
som de chuva não se vê:
nem se a lua usava luvas
frágeis mãos morenas
penetram a terra negra
buscam a raiz
cavem, cavem, dedos ágeis:
suas unhas fazem medo
na testa gotículas
há pressa na rua escura
meias e uma saia
brandamente as gotas brancas
se transformam: fios de faca
corte – com três lâminas
enfeitou-se um corpo inerte –
sabe mas não sabe
poema de amor na carne
em sutil caligrafia
desenhos que brilham
numa pele que diz: sim
e os corpos se tocam
e como músicos cegos
respiram num só compasso
melodicamente
a pauta foi calculada
e os corpos se tocam
as pedras azuis do ábaco
deslizam para a direita
a crescente luz
os formatos do luar
e o calor sinfônico
joelhos e violoncelos
cicatriz num longo braço
verberam verbenas
na pauta já calculada:
e o som azul chove
o céu imenso em pedaços
nas gotinhas da janela
um gineceu abre-se
um androceu se antecipa:
anteras panteras
as razões de um negro galho
na emoção da flor do ipê
Ivan Justen Santana
Rodolfo Jaruga
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4 comentários:
Puxa, que bonito - é de iluminar os olhos...
Parabéns aos telentosos poetas.
muito bonito...
maravilha, metrificação e tema.
ah, o gineceu...
KIPLING
"o ato sexual é no tempo o que o tigre é no espaço"
georges bataille
pernas abertas num ângulo
de asa avulsa de um arcanjo.
no intermeio a pentelheira
cuja flor é licoreira.
o gineceu como um grilo
que – gritinhos por estrídulo –
da corola dissolvida
decanta o néctar-saliva
e convida ao fundo bosque
onde um triste tigre morre.
(flowerwoods em meu inglês:
tired tiger roars and lays.)
O Renga é a antecipação artística do cinema, quando o cinema era mudo. Não é?
rods.
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