terça-feira, junho 08, 2010

A ILHA DAS SEREIAS

*
Quando, atendendo a seus anfitriões,
após o dia inteiro de trabalho, narrava
suas viagens marítimas e tribulações
em voz calma, nem sequer suspeitava
como apavorá-los, e quais intempestivas
palavras usar para que, como ele viu
naquele tranquilo arquipélago anil,
também os ofuscasse o brilho áureo das ilhas
cuja mera visão traz novamente
o perigo, e não mais em repuxos
de fúria em tumulto, como sempre;
mas sem um som toma os marujos
que sabem: algumas vezes se ouve
uma canção daquelas ilhas douradas –
e eles se lançam aos remos como se
estivessem cercados
pelo silêncio que no espaço imenso
existe, e nos seus ouvidos insiste,
como se ao reverso fosse o denso
canto a que nenhum mortal resiste.


Rainer Maria Rilke
Versão brasileira:
Ivan Justen Santana

3 comentários:

Unknown disse...

Nossa
Lindíssimo...

Pedro Luso de Carvalho disse...

Caro Ivan,

Qualquer poema do Rilke é sempre bem-vindo.

Em prosa, li há pouco, do Rilke, "Os cadernos de Malte Laurids Brigge", com a ótima tradução da Lya Luft.

Um abraço.

Wagner Schadeck disse...

Tua versão, em relação a alguns versos da do Augusto de Campos, me parece mais fluida, Ivan.
Ainda que perca na trama de algumas rimas, ganha mais fluxo estabilizando o tempo -- o mais que perfeito "passara" --- no dele ...

Agora, não sei bem o porquê, mas o o Die Insel der Sirenen, do Rilke, sempre me soa como o Ítacas, do Caváfis...

Bom, aproveito, Ivan, com sua licença, e posto aqui, como referência, o original.


Die Insel der Sirenen

Wenn er denen, die ihm gastlich waren,
spät, nach ihrem Tage noch, da sie
fragten nach den Fahrten und Gefahren,
still berichtete: er wußte nie, wie sie

wie sie schrecken und mit welchem jähen
Wort sie wenden, daß sie so wie er
in dem blau gestillten Inselmeer
die Vergoldung jener Inseln sähen,

deren Anblick macht, daß die Gefahr
umschlägt; denn nun ist sie nicht im Tosen
und im Wüten, wo sie immer war.
Lautlos kommt sie über die Matrosen,

welche wissen, daß es dort auf jenen
goldnen Inseln manchmal singt -,
und sich blindlings in die Ruder lehnen,
wie umringt

von der Stille, die die ganze Weite
in sich hat und an die Ohren weht,
so als wäre ihre andre Seite
der Gesang, dem keiner widersteht.


Rainer Maria Rilke