segunda-feira, dezembro 27, 2010

TREVOS DE MORTE, AMOR & LEI

Haverá vida após a morte?
Haverá morte após amar-te?
Haverá amor após a lei?

Sim, haverá, e enquanto houver
Eu a verei e ela os verá
E amor também. Ouvi-los-ei

E haver-vos-eis e me ouvirás
Ver-te mulher conforme a Dama
Que o ouviu e assim reouve-a o Rei.

*

terça-feira, dezembro 21, 2010

EXTRA, EXTRA! COYOTES INVADEM CWB

Matilha promete ocupar Brooklyn Coffee Shop:
"Santos lambrequins, é o eterno retorno dos poetas curitibanos!"

CURITIBA / URGENTE: Parem as máquinas de café! Nesta quarta-feira (22), às 18h, Mario Domingues e Ivan Justen Santana lançam no Brooklyn Coffee Shop (Trajano Reis, 389 - tel. 3618-0388) o número 21 da revista Coyote, à qual ambos os poetas contribuíram com a expressiva marca de 20 poemas (11 de Mario e 9 de Ivan). Cada exemplar será vendido a módicos 10 reais (eu disse: dez reais! Quem não chegar cedo vai ficar sem revista, e não digam que eu não avisei...).

Também será lançado (e relançado) o segundo livro de poemas de Mario Domingues: Musga (Primeiro de Maio-PR: Mirabilia/ ALL / FCC, 2010). Musga vai ser entregue mediante irrisórios 20 reais (estou avisando: vinte reais! Quem demorar vai ficar a ver versinhos no Natal...).

Seguem-se aqui imagens da Coyote 21 e de Mario e de Ivan (para os arquivos do departamento secreto de polícia antiartística) -- esses meliantes são perigosos e estão armados de metáforas até os dentes!



Mário Domingues, perpetrando poesia.


Ivan Justen Santana, ocultando-se em Floripa.

terça-feira, dezembro 14, 2010

PRA NÃO DIZEREM QUE NUNCA TENTEI MATAR MEUS PAIS

Tá bom, eu admito. Eu já tentei matar o Paulo Leminski. Só que ele já tinha morrido antes disso. Mas quando eu li Distraídos Venceremos, em fins de 1990, pro meu primeiro vestibular, se o Leminski ainda estivesse vivo e eu trombasse com ele na Quinze, possivelmente eu cometeria, no máximo do mínimo, umas duas ou três tentativas de homicídio.

A propósito, nunca foi e nem será preciso matar o Dalton Trevisan. Além de ele não ser exatamente um poeta, já é um morto-vivo, um nosferatu. Mas pra alegria dessa gente que adora ver sangue, confesso: se Dalton estivesse vivo de verdade, ontem eu talvez o matasse ou, no mínimo do máximo, tentasse executá-lo, ouvindo um som no talo.

Helena Kolody transcende tais questões, já que ninguéns aqui a não ser poetas e poetisas sabem que ela não morreu, nem nunca morrerá. Mas às gentes carniceiras que porventura saibam quem é Helena, por mais improvável que seja ou haja tal combinação de gente, licenciaria que me vissem dilacerando-a, verso por verso jazendo esquartejado num papel branquíssimo de tão transparente.

Já o Marcos Prado eu tive várias chances de matar. Acaba de acabar aqui minha última chance, já que mencionei novamente o nome dele.

E Thadeu Wojciechowski bem que poderia ser minha próxima vítima, porém nunca será, pois não matarei ninguém antes dele, que nunca será tampouco o último da lista. Além disso, apesar de ser um coxa-branca, Thadeu é meu amigo, e assassinato é o tipo do favor que não presta fazer nem ao pior nem ao melhor dos nossos amigos.

Voltemos a falar do Leminski, epítome de todos os que alguns adorariam que eu quisesse matar. Imagino, por exemplo, o que Leminski pensaria de Bocágil, pseudônimo da (ou das) criatura(s) que me mataram (ou quiseram me matar: dá quase na mesma, não é, gentarada?). Talvez o polaco me parabenizasse, nessa ocasião, por eu então ter me tornado um I-Juca-Pirama, ou seja: "aquele que é digno de ser morto".

Leminski certamente agradeceria também ao Rodrigo Madeira, pelo poema em que este confessa ter assassinado aquele: simbolicamente, não há honra maior que matar o maior poeta da geração anterior. Ou há?

Em verdade mentirosa (ou em mentira verdadeira), eu vos digo que há. E digo, outrossim, que eu me considero digno de tais honrarias ainda maiores. Porque se agora eu quero que não digam que nunca tentei matar meus pais, também gostaria que percebessem que não vou matá-los.

Sim: não matarei Emiliano Perneta. Nem Dario Vellozo. Nem Tasso da Silveira. Nem Jamil Snege. Nem Wilson Bueno. Nem os(as) que não li ou que esqueci (por meu desacerto).

Sim: tampouco matarei os vivos e as vivas. Alice Ruiz, durma tranquila. Estrela, idem. Fernando Koproski, Alexandre França, Amarildo Anzolin, Mario Domingues, Jaques Brand, Adriano Smaniotto, Batista de Pilar, Marcelo Sandmann, Luiz Felipe Leprevost, Marilia Kubota, William Teca, Luci Collin, Ricardo Pozzo, Bárbara Lia, Rodolfo Jaruga, Monica Berger, Edson Falcão, Paulo Bearzotti, os Ricardos (o Carvalho e o Corona), os Rodrigos (o já citado Madeira e o Garcia Lopes), enfim, todos vocês que sabem que são poetas, mesmo os mais novinhos e ingênuos (como não é bem o caso do Rafael Walter, e nem era o do Cláudio Bettega), mesmo as aparentemente mais "naïves", como as Lucianas (a Cañete e a do Rocio Mallon), todos e todas que ao não mencionar aqui machucarei (ou não): no que depender de mim, vocês podem descansar em paz, vivos e vivas!

Pois no fundo é muita estupidez precisar matar (ou tão somente anular) qualquer poeta, vivo ou morto, fraco, forte, vitaminado ou meia-boca. E no fundo mesmo, as coisas não são assim. Angústias da influência pertencem aos mais específica e autocondenadamente críticos. E até o Fernando Pessoa acabou se transformando num bando de idiotas da subjetividade, que preferiram não casar e não viver, pra poderem ensaiar e escrever obras imortais.

Contudo, como bem viu e melhor poetou Leminski, é mais tesão viver bem e "quase-feliz" do que querer tentar (ou até ser) Homero, Dante, Shakespeare, quer sendo uma pobre Dickinson abilolada em casa, uma Plath devastada pedindo água morna, ou um Baudelaire sifilítico tentando loucamente dar um beijo nos anjos rebelados.

Já Vladímir Maiakóvski poetou imorredouramente, e foi suicidado (sua última frase: "não atirem, camaradas!"). E, gigante dos gigantes, James Joyce padeceu vítima de glaucomas, hérnias perfuradas, desastres de família, duas guerras mundiais e um dia treze azarado.

Enfim, por tudo isso, eu posso até morrer, mas não matarei, e nem sequer matar-me-ei. Por mais que esperem que eu supere a geração anterior por meio da força bruta e (ou) da desconstrução e (ou) da desleitura e (ou) do ciúme atemporal tornado complexo de castração, e apesar de admitir que já tentei esses caminhos e fracassei, a partir de aqui e agora tudo que declaro e declararei resumir-se-á simplesmente (conforme tenho agido, para horror dos "incompreendedores" a supor a vida menos importante que a poesia), retomando: resumir-se-á numa palavrinha genial de tão desarmadora:

sim.
*


Sim, sou eu, aos 4 ou 5...

sábado, dezembro 11, 2010

DOIS LANÇAMENTOS DE HOJE

Ocorre hoje à noite o (já anunciado aqui) lançamento do livro A pau a pedra a fogo a pique: dez estudos sobre a obra de Paulo Leminski, livro organizado por Marcelo Sandmann, e que contém, entre outros textos escabrosos, aquele que eu e Caetano Galindo escrevemos sobre as relações perigosas entre Paulo Leminski e James Joyce.

Será no Espaço Cênico (Rua Paulo Graeser Sobrinho, 305), a partir das 19 horas.

A propósito, vejam (e leiam) essa nota breve aqui na Gazeta do Povo.

O outro lançamento, aqui neste humilde tugúrio-blog, é o de um poema inédito: voilà!

*
GATO PRETO, GATO PARDO E GATO BRANCO

Gato preto, gato pardo e gato branco
dispunham-se à vontade, os três se encarando.
Não me perguntem como ou quando. Afianço-lhes
que tais felinos formavam um tipo de triângulo.

– Mas é claro que esse cara gosta de gatos! –
disseram os olhos ingênuos de gato branco.
– Tá. Só que fede mais que sete cães molhados,
e fala feito um tolo, e anda igual a um manco –

disseram as pupilas rutilantes de gato preto.
Então entendi que eles se referiam a mim.
Porém gato pardo já detectava em beco estreito
o charme duma gata cujo cio não tinha fim.
*

segunda-feira, dezembro 06, 2010

REDUZINDO HEIDEGGER A PÓ

Eu sou um ser que vive de si mesmo.
No meio do sagrado tinha um pecador.
Virtude é a arte de quem ama a dor.
O porco mais triste vira torresmo.
O som que soa em mim é desafinador.
Eu não conto tempo como mingau.
Não leu que nem Thadeu, tomou um pau.
William, quase-ídolo, desvela o adorador.
Ser por ser, a mulher é que é essencial.
Sou capaz de matar qualquer um de vocês.
Somos bem melhores em quatro do que em três.
Burrice se enterra com pá de cal.
__Não há poesia pra filosofia vã.
__Aqui jazem Bruno, William, Thadeu e Ivan.

Antonio Thadeu Wojciechowski
Bruno Sanroman
Ivan Justen Santana
William Crosué de Oliveira Teca


Martin Heidegger em 1960. Fonte: http://www.martin-heidegger.net/

quarta-feira, dezembro 01, 2010

MOTIVO DE OTIMISMO EM DEZEMBRO DE DOIS MIL E DEZ

Diante das catástrofes e guerras
Que nunca param de recomeçar,
Da sujeirada em cidades e em serras,
Vulcões lavando a terra, o céu e o mar,
Existe ao menos uma razão quântica
(Que talvez não convença na semântica)
Pra sermos pessimistas ao revés:
À parte os traumas deste mundo em crise
Que não tem analista que analise,
A década de zero acaba em dez.
*