Para Jana Fellini
“Serei a última?
Serei Lorelei ou só uma seara de cara da Iara?
Ou só uma única Uyara Torrente?
Seria o caso de simplesmente mergulhar na torrente?”
Enquanto sua consciência suava e lutava,
o inconsciente da Sereia deslizava
qual metal desfeito em lava:
“Sim: sinto as origens no fundo de um épico,
como uma Ilíada em mares sempre dantes navegados;
sei que tudo pode virar só mais um texto dramático,
como um romance realista de personagens-gados
(ou mesmo drogados e estragados), mas ainda assim é lírico
o final infeliz de um clichê banal inédito, extático,
talvez em cirílico.”
E o sonho da sereia buscava,
não um brusco Pã, nem um buscopan,
mas sim um brusco fim:
feito um regime político democrático e tirânico,
como se acha a atual liberdade que ri do pânico,
qual se ela disputasse algum combate titânico
e, ainda com as próprias escamas, acordasse
e lhe aparecesse esse poeta sem classe
que lhe dissesse:
Bom dia! Bem vinda a nove do dez do onze:
ouça agora os nossos sinos de bronze
numa rima de raros sons e
sinta o calor. Nada com nada se parece,
mas não se iluda: é tudo mecânico.
Beba uma tônica. A vida é crônica.
E hoje é outro dia ivânico.
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