terça-feira, maio 30, 2017

E AINDA OUTRO BUQUÊ DE LIMERIQUES...

*
em queda livre para cima
caindo retamente em curva
topando brigas
procurando rimas
e abrindo os olhos n´água turva

ijs
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Havia este ponto dentro da reta:
Buscava nas curvas uma indireta;
Numa ida parou
Mas não se tocou
Que a ida era a volta completa.

ijs
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Existe uma pinda na monha de angaba
Que também é cuque e de tiba se gaba:
Cidade sorriso,
Calçada que piso:
Os índios mandamos na taba!

ijs
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Havia uma sílaba tônica
De certa palavra eletrônica;
Quando assistiu 'Tron'
Subiu o próprio tom
E então se entronou, histriônica.

ijs
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Era uma vez uma musa dramática
Que tinha estratégia e também tinha tática:
Fazia uma cena
Sem tinta nem pena
Pois pra ela teoria era prática.

ijs
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Era uma vez um poeta calhorda
Que andava de noite roendo uma corda:
Um dia, no hospício,
Seu fim teve início:
"Gritamos e ele não acorda!"

ijs
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Atirei uma isca entristecida
No laguinho vazio da nossa vida:
Um peixinho escapuliu
Dizendo: "Onde já se viu
Vir pescar com isca entristecida?"

ijs
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Havia certa graça em minha vida
A qual me chamava de amor, a querida:
Cometi sete erros,
Soltei alguns berros
E assim ficou sem graça a minha vida.

ijs
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Havia uma mãe: e era a minha: Liana
Que voltou de viagem nesta semana:
Conheceu Jerusalém
Porém lá não disse amém
Qual legítima curitibana.

ijs
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terça-feira, maio 23, 2017

Mais um buquê com dez limeriques que até que dão pro gasto, não?

*
Havia um poeta funesto
Que além de tristonho era mesto;
Viveu entre os tais
E entre os marginais
Foi tido como o mais honesto.
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Havia um poeta inconteste
Que fez meio verso que preste;
Depois de estudar
Veio a se diplomar
Doutor em poesia rupestre.
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Havia um poeta pedestre:
Achava-se um mestre entre os mestres;
Entrou para a história
Coberto de glória:
Cavalo em monumento equestre.
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Havia uma deusa dos jogos
Chamada Caíssa, e seu lógos
Não dava repúdio
Pois era interlúdio
Da vida e de todos seus fogos.
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Havia um moleque Ricardo
Que tinha estatura de bardo:
Não era vagal
E seu nome - Chacal -
Ecoa em jograu goliardo.
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Havia uma música míope
Mais bela do que Calíope:
Tocava sem pauta
Violão, banjo e flauta
Na banda dum médico etíope.
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Havia um poeta medíocre
Que achava que a rima era tudo:
Porém neste caso
Não deu muito certo
E acaba sem rima o poema.
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Havia um humano sujeito
Que achava esse mundo imperfeito:
Bolou muitos planos
E após muitos anos
Morreu: e só assim teve jeito.
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Havia um velhinho careta:
fazia poesia concreta;
mas era bem quisto
bem mais do que o quisto
sebáceo do velho poeta.
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Havia um versinho maroto
Com rimas achadas no esgoto:
Chorava sorrindo,
Sorria chorando,
Assoviando "Bichos Escrotos"!
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Havia uma garota exótica
Que tinha visão hipnótica:
Sofreu um processo
Que trouxe o sucesso
Perdoada mesmo sendo erótica...

...

Um poema em duas partes

*
Por onde anda o poeta?
Pela água. Pela espuma.
Por becos de buracos negros.
Pelas estrelas vermelhas.
Por onde anda o poeta?
Pela matéria escura. Pela
via jamais trilhada, pela
estrada nunca pisada,
pela área ainda incompleta.
Por onde anda o poeta?
Pelas calhas de roda
desse comboio de corda
que se chama você sabe como:
é por onde o vento fez a curva
e a água clara ficou turva,
não bebida pela onça.
Por onde anda o poeta?
Por sua própria geringonça
de insuspeita canaleta:
pensando que era privada
aquela cabina estreita
na porta escrito: não se meta.
Por onde anda o poeta?
Não é por este planeta.

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POR ONDE ANDA O POETA II: O DESGASTE

Por onde anda o poeta?
Por aqui mesmo, nesta sarjeta.
Na latrina mais nojenta,
comendo a carnificina
como se fosse caviar:
azar do poeta, sem mistifórios:
frequentamos os mesmos lavatórios,
ouvimos os mesmos discursos laudatórios,
fomos expulsos juntos dos melhores escritórios,
e estamos a sós aqui neste mesmo inferno.

Por onde anda o poeta?
Na palma da mão da amada,
que, se quiser, estala os dedos
e esmaga seu pobre estafeta:
por ali rasteja este poeta,
tenteando alguma fresta, ou retreta:
ali, ali sim está caminhando o poeta
por onde sequer lhe deu na veneta:
pela alameda larga
que vai dar numa valeta.

Por ela então anda o poeta?
Não anda: só estraleja. Ajeita
a jaqueta da dentadura na boca
e gargareja: a vida errada
está certa
menos completa
que imperfeita.

ijs

sexta-feira, maio 19, 2017

ESSA SERENATA

*
Essa serenata eu faço pra você
que me lê aqui
mesmo sem eu saber;
nesta noite fria
(sem brinca: Curitiba é fria no outono)
fico aqui brincando de gnomo;

sim: estou aqui
fazendo essa serenata
pra você: que sabe que

talvez amanhã seja um jamais
mas que o para sempre
começa esta noite
com essa serenata.

ijs

segunda-feira, maio 01, 2017

O POETA QUE PERDEU A GRAÇA

*
Era uma vez um bardo escandaloso,
afeito a arroubos de expressividade:
por vezes mais palhaço do que o Bozo,
por vezes sem qualquer necessidade.

Aos trinta e um tal poeta tão pateta
criou seu blog, o qual salvou sua vida,
tornando o também tradutor e exegeta
um alvo e uma figura conhecida.

Aos trinta e nove o nosso herói do verso
conheceu sua musa --- graça a maior:
mas antes que completo o multiverso
visse o giro de cinco anos desse amor

catástrofes se abateram sobre este
que agora por onde quer que passa
carrega a sombra triste e agreste
do poeta que perdeu a graça.


IJS (Curitiba, 01/05/2017)