As carnes de um amor sangrento mas batuta
____no início são primícias;
são Carmens, nomes com sabor de boa conduta,
____são Paulos, Joãos, Patrícias.
Todos os charmes são jogados nesta luta,
____na busca por carícias;
a caça e o caçador -- gozo que a si se imputa
____aceitando as sevícias.
Por mais que nas teorias muito se discuta
____de pureza e malícias,
a língua serve mais às seduções, na gruta
____das melífluas blandícias.
Assim o humano vira um ser que se disputa,
____pudim de impudicícias,
querendo desfrutar sempre outra e melhor fruta
____no jardim das delícias.
* * *
6 comentários:
Uy, saciarse en un jardín de las delicias es casi imposible...tantas frutas, tantas flores, gustos y encantos. Mejor oír la radio sesenta y nueve punto G.
AGIGANTA
Nos tempos em que a Verve natural com tanta
Potência concebia infantes cabulosos,
Quem dera que eu morasse junto a uma giganta,
Como aos pés de uma Dama um gato, dos dengosos.
Eu amava ver-lhe em corpo e alma florescendo,
Se avolumando livre em seus terríveis jogos;
Adivinhar se o peito incuba, percebendo
Pelas neblinas do olhar áqueo, sombrios fogos;
Percorrer por lazer formas magnas, modernas;
Trepar sobre a vertente das imensas pernas;
E às vezes, no verão, quando os sóis insalubres,
Lassa, a prostram deitada ao longo da campanha,
Dormir com indolência à sombra dos seus úberes,
Como um pacato rancho ao pé de uma montanha.
texto original: La géante
de Charles Baudelaire
perversão brasileira:
Anônimo Encarapuçado
rsrs...
gostei do poema, ivan. bem louco!
- rádio "sessenta e nove ponto G" é um ótimo chiste. uma rádio obscura, mas de imensa popularidade.
- que tradução fantástica do baudelaire!! é sua, ivan?
rodrigo: fico feliz que tenha gostado do poema --
essa rádio pede uma sintonia fina e, de quebra, grossa --
já a sua última pergunta encapsula muitos mistérios: não sei responder bem, mas me autorizam a dizer que a tradução não é minha.
Ivan
sai do armário, anônimo!!
AMORTE DOS AMANTES
Nossos leitos plenos, leves odores,
Divans abissais, fundos como criptas,
Sobre aparadores estranhas flores
Abrir-se-nos-ão, auras não descriptas.
Ardentes, rivais, últimos calores,
Nossos corações, duas vastas flamas,
Que refletirão suas duplas cores,
Nosso gêmeo espectro espelhando os dramas.
Uma noite azul cor de rosa mística,
Trocaremos cintilação magnífica,
Qual longo soluço do adeus final;
E mais tarde um Anjo, entreabrindo as portas,
Virá reanimar, feliz e fatal,
Os espelhos foscos e as chamas mortas.
texto original: La mort des amants
de Charles Baudelaire
reversão brasileira:
Anônimo Embuçado
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