O PASSO
Paul Valéry
Teu passo, inato ao meu silêncio,
Beira sagradamente, a fio,
Meu leito insone e, com imenso
Vagar, vem vindo mudo e frio.
Sombra divina, forma pura:
Deus!... tudo que de bom supus
– Passo contido, que doçura! –
Já se aproxima com pés nus.
Se, lábios entreabertos, frente
A mim, reservas ao desejo
Faminto que me ocupa a mente
Este alimento que é teu beijo,
Mantém o enlevo ainda à parte
(No doce impasse existo e passo),
Pois, ao viver só de esperar-te,
Meu coração pôs-se em teu passo.
Tradução de Nelson Ascher
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Um comentário:
Ivan,
tenho que discordar de uma afirmação tua postada anteriormente. Não me restam dúvidas de que esta tradução do Ascher, por sua musicalidade e, sobretudo, por sua elegância, supera com facilidade as traduções de Guilherme de Almeida e Cláudio da Veiga.
Me chamam a atenção: o enjambement no quarto verso do primeiro quarteto e no segundo verso da terceira estrofa; as rimas internas na primeira tônica dos segundo e terceiro versos do terceiro quarteto; a aliteração dos segundo e quarto verso da última estrofa; e a impecável (e de aí vem a elegância) escolha lexical.
Sem dúvidas, uma excelente tradução.
Saludos, Rodolfo.
rodolfojaruga.blogspot.com
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