Um dia uma mulher comeu meu coração
Mas aparentemente sem deglutição
Cuspido o coração mascado recobrou-se
Tanto fez tanto fosse acabar-se o seu doce.
Uma noite, num bar, novamente docinho,
Meu coração topou com outra no caminho:
Aquela era uma pedra mais suave, aguda,
E o coração ainda sem razão que acuda
De novo devorado amanheceu mais morto
Que vivo amortalhado em trapo roto e torto.
Mas hoje de manhã bateu que assim ou não
Pra sempre vai pulsar meu tolo coração...
sexta-feira, abril 30, 2010
terça-feira, abril 27, 2010
HISTÓRIA UNIVERSAL DA VIRTUDE
No princípio era preguiça:
arregala-se de gula,
variando pra avareza,
sobe bárbara à soberba
mas mal raia as raias da raiva
vê que a inveja vinha da ira
chamejando de luxúria.
Já roxa, cheia de úmida humildade,
chega ao meio do caminho:
topa a tempo a temperança,
pensa e passa à sapiência,
confortável fortaleza,
onde ajusta-se,
justiça.
Por fim, descansa.
Esperança, cara a cara
com a cara caridade,
com amor sente-se fé:
virtude como nunca,
como nunca está
simplesmente é.
arregala-se de gula,
variando pra avareza,
sobe bárbara à soberba
mas mal raia as raias da raiva
vê que a inveja vinha da ira
chamejando de luxúria.
Já roxa, cheia de úmida humildade,
chega ao meio do caminho:
topa a tempo a temperança,
pensa e passa à sapiência,
confortável fortaleza,
onde ajusta-se,
justiça.
Por fim, descansa.
Esperança, cara a cara
com a cara caridade,
com amor sente-se fé:
virtude como nunca,
como nunca está
simplesmente é.
sexta-feira, abril 23, 2010
Aproveitando o ensejo da data, um soneto-atletiba...
Hoje é aniversário de William Shakespeare. Como deixei passarem batidos o Tiradentes e o Achamento do Brasil, postarei um soneto dialogado em homenagem indireta ao bardo inglês (pois versa-se aqui sobre o "rude esporte bretão", o velho futeba, para os íntimos, que não chamam a bola de senhora...).
Este soneto tem a seguinte breve história: meu grande amigo Thadeu, em toda a sua grande perfeição poética, possui o grave defeito de ser um coxa-branca (torcedor do Coritiba F.C.).
Eu, Atleticano (do Clube Atlético Paranaense), constatei o seguinte soneto no blog do Thadeu, e resolvi replicar, tanto mais que, quando ameacei, ele riu: "Quanto à resposta ao soneto, acho que não deixei brecha. Hehehehe…."
Portanto, aqui vai a resposta, Thadeu: aproveitando cada brecha, de cada verso...
______Atletiba
Não sei quase nada sobre isso tudo:
___Sem essa! Sei que você sabe tudo:
carrões, grana, poder. Sei da amizade,
___manja carrões, poder, grana e amizade.
essa alma gêmea do amor, da verdade.
___Divagando mais sobre amor, verdade
Com o resto, cansei e não me iludo.
___e o resto, você ilude como iludo.
Sou coxa-branca todo mundo sabe.
___O atleticano aqui realmente sabe.
Se sou louco de pedra e nunca mudo
___Louco de pedra? Quase fiquei mudo...
é porque com um pouco mais de estudo
___Agora melhorou: fala de estudo –
não tinha tanto porco na cidade.
___mas traz mais porcaria pra cidade.
A porcarada torce o nosso rabo
___Os próprios porcos torcem vosso rabo:
e na mesma medida nós, o dela.
___vossa torcida paga a boca dela,
Uma sem a outra e as duas vão a cabo.
___vossa pocilga é que foi quase ao cabo.
Torço e distorço, mas de sentinela,
___Da distorção, não senti nada nela,
pois um pouco de sarro, de bom grado,
___mas realmente o sarro, de bom grado,
cabe aos dois times de meia-tigela!
___cabe aos dois times de meia-tigela!
Antonio Thadeu Wojciechowski
___Ivan Justen Santana
Este soneto tem a seguinte breve história: meu grande amigo Thadeu, em toda a sua grande perfeição poética, possui o grave defeito de ser um coxa-branca (torcedor do Coritiba F.C.).
Eu, Atleticano (do Clube Atlético Paranaense), constatei o seguinte soneto no blog do Thadeu, e resolvi replicar, tanto mais que, quando ameacei, ele riu: "Quanto à resposta ao soneto, acho que não deixei brecha. Hehehehe…."
Portanto, aqui vai a resposta, Thadeu: aproveitando cada brecha, de cada verso...
______Atletiba
Não sei quase nada sobre isso tudo:
___Sem essa! Sei que você sabe tudo:
carrões, grana, poder. Sei da amizade,
___manja carrões, poder, grana e amizade.
essa alma gêmea do amor, da verdade.
___Divagando mais sobre amor, verdade
Com o resto, cansei e não me iludo.
___e o resto, você ilude como iludo.
Sou coxa-branca todo mundo sabe.
___O atleticano aqui realmente sabe.
Se sou louco de pedra e nunca mudo
___Louco de pedra? Quase fiquei mudo...
é porque com um pouco mais de estudo
___Agora melhorou: fala de estudo –
não tinha tanto porco na cidade.
___mas traz mais porcaria pra cidade.
A porcarada torce o nosso rabo
___Os próprios porcos torcem vosso rabo:
e na mesma medida nós, o dela.
___vossa torcida paga a boca dela,
Uma sem a outra e as duas vão a cabo.
___vossa pocilga é que foi quase ao cabo.
Torço e distorço, mas de sentinela,
___Da distorção, não senti nada nela,
pois um pouco de sarro, de bom grado,
___mas realmente o sarro, de bom grado,
cabe aos dois times de meia-tigela!
___cabe aos dois times de meia-tigela!
Antonio Thadeu Wojciechowski
___Ivan Justen Santana
sábado, abril 17, 2010
Como Uma Pedra Rolante
você vestida de xadrez
mão de vaca pros mendigos
sendo eleita a miss do mês
diga?!
o povo todo já xaveca
"te cuida aí, boneca,
tua caranga um dia breca"
você achava isso meleca
inveja das amigas
você só
gargalhava
das pessoas
suas escravas
e agora a sua voz sumiu
e agora o seu tom vazio
vem naquela velha fala
que prossegue na batalha
pelo próximo filé
como é que é?!
como é que é!?
ser sem terra em transe
completamente mutante
como uma pedra rolante
você foi aluna
da melhor escola
Senhorita Solitária
contudo já não cola
você sabe só ficava lá
enchendo a cara
ninguém nunca mostrou
como viver longe do lar
e agora você vê que vai ter
que se acostumar a
você sempre dizia
que jamais se renderia
pro malaco do mistério
e agora você nem pia
vê que ele não vende
qualquer guia
e sob os olhos vazios
você somente espia
perguntando sobre o trato
quanto você quer
como é que é?!
como é que é!?
ser sem terra em transe
sem caminho adiante
completamente mutante
como uma pedra rolante
você nunca olhou em volta
pra notar a cara torta
dos palhaços da patota
quando vinham fazer
truques pra você
nunca compreendeu
que não fez o seu
e não tinha um Romeu
pra Julieta que você quis ser
você cavalgava um hipocromo
com o seu diplomata
o qual levava nos ombros
uma gata acrobata
e agora você percebe
como a vida é ingrata
não tinha selo ou moeda
aquele numismata
que levou de você tudo que pôde
até mesmo a fé
como é que é?!
como é que é!?
ser sem terra em transe
sem caminho adiante
completamente mutante
como uma pedra rolante
a princesa está na torre
e o povo lindo quase morre
nesta festa bebe e pensa
que se garantiu por cima
vai trocando todo o tipo
de presentes e coisinhas
mas segure o bracelete
empenhe esse diamante, mina
você costumava
ficar tão encantada
com o Napoleão dos farrapos
e as frases que ele usava
vá pra ele agora
compareça à sua chamada
quando você não tem nada
você não tem nada a perder
você é invisível agora
não restou nenhum segredo em pé
como é que é?!
como é que é!?
ser sem terra em transe
sem caminho adiante
completamente mutante
como uma pedra rolante
(Like a Rolling Stone,
de Bob Dylan,
em versão brasileira de
Ivan Justen Santana)
quarta-feira, abril 14, 2010
ETERNA FEMININA
A mulher, a que afresca o teto do meu crânio
E algarismou meu alfabeto extemporâneo,
A sempiterna e carinhosa companhia
Cujo espinho de cor-de-rosa me amacia
E me amalgama o barro em lava incandescente –
Se me chama, me amarro, sem trava aparente;
Se me incita, e excita a cítara mais avara,
Ela compartilha o todo que amealhara –
Feliz combinação de forma e de intenção:
Um triz de distração na norma rigorosa,
Um quê de seriedade em meio à desrazão,
Um O de boca, um U de bunda, um A de rosa,
__Um E de bela, um I de indecisivamente,
__Que ilude, molha, frisa e ameniza a mente.
Francisco Cardoso
Ivan Justen Santana
E algarismou meu alfabeto extemporâneo,
A sempiterna e carinhosa companhia
Cujo espinho de cor-de-rosa me amacia
E me amalgama o barro em lava incandescente –
Se me chama, me amarro, sem trava aparente;
Se me incita, e excita a cítara mais avara,
Ela compartilha o todo que amealhara –
Feliz combinação de forma e de intenção:
Um triz de distração na norma rigorosa,
Um quê de seriedade em meio à desrazão,
Um O de boca, um U de bunda, um A de rosa,
__Um E de bela, um I de indecisivamente,
__Que ilude, molha, frisa e ameniza a mente.
Francisco Cardoso
Ivan Justen Santana
terça-feira, abril 13, 2010
A GRANDE VERDADE (curta-metragem)
mentira tem perna curta
porém cabeça imensa
que pensa que pensa
mentira tem perna curta
mas chuta a tua canela
machuca, esfola, esgoela
estupra, assassina, furta
mentira tem perna curta
mas se procuro a verdade
também acho
minha perna meio curta
e se eu forçar minha cabeça
esta
pequena e tensa
nem sequer pensa que pensa:
dispensa a pretensa presença
despreza sua força abrupta
esquece qualquer perna curta
fica sem nenhuma sentença
semissuspensa
e surta
porém cabeça imensa
que pensa que pensa
mentira tem perna curta
mas chuta a tua canela
machuca, esfola, esgoela
estupra, assassina, furta
mentira tem perna curta
mas se procuro a verdade
também acho
minha perna meio curta
e se eu forçar minha cabeça
esta
pequena e tensa
nem sequer pensa que pensa:
dispensa a pretensa presença
despreza sua força abrupta
esquece qualquer perna curta
fica sem nenhuma sentença
semissuspensa
e surta
sexta-feira, abril 09, 2010
VERSOS AOS VIVOS
Eu não consigo acreditar muito em morte
mas creio sim no delírio retrospectivo:
então hoje acordei, tirei a sorte,
vi que ainda tem sim muita wood no estoque
e que, feito o Leminski, o Ivo continua vivo.
mas creio sim no delírio retrospectivo:
então hoje acordei, tirei a sorte,
vi que ainda tem sim muita wood no estoque
e que, feito o Leminski, o Ivo continua vivo.
segunda-feira, abril 05, 2010
DIÁLOGO PARA A CONVERSÃO DE CASSIANO RICARDO
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